A primeira impressão tinha sido boa, uma contacto mais prolongado confirmou as qualidades do Ford Mustang Mach-e com a bateria de maior capacidade (98,7 kWh) e tração integral, por via de um motor em cada eixo. Mantive os 18 kWh de consumo médio, com muito pouca cidade, o que, feitas as contas, promete uma autonomia de 488 quilómetros (540 anunciados). E como potência (350 cv) e binário (580 Nm) são de respeito, como o peso (2182 kg), é um valor assinalável. Claro, o preço não é para todos: 66 800€.
O elétrico em forma de crossover não deslustra a designação Mustang e a aposta é tão grande que até dispensa os emblemas da Ford na carroçaria. Construído sobre uma plataforma em aço criada especificamente para modelos elétricos, por isso com as baterias entre eixos e fundo plano, traz a marca norte-americana para um patamar de relevo no mundo dos elétricos.
E, dando primazia ao desempenho, faz jus às qualidades dinâmicas que a Ford gosta de emprestar aos seus modelos de cariz desportivo. Primeiro porque o binário quase instantâneo de 580 Nm permite ultrapassar com facilidade notável e garante uma resposta impressiva nas saídas de curva, se a intenção for uma condução empenhada.
Depois, porque o equilíbrio da direção, em qualquer dos três modos de condução, a travagem diferente do habitual nestes automóveis, mais mordaz, complementam um comportamento em curva que vai agradar a quem faz este tipo de escolha a privilegiar as prestações. E nas estradas serpenteantes vamos descobrir um Mustang de temperamento divertido, com a traseira, quando se força o andamento, a mostrar-se mais solta e a “ajudar” nas trajetórias sem comprometer e domando-se facilmente.
Elétrico de imagem vistosa e bem equipado, espaçoso e cómodo, consumos razoáveis e boa autonomia para um tração integral, dinâmica interessante, o Ford Mustang mach-e com a bateria de 98,7 kWh está à altura do simbólico emblema que ostenta
Conduzi sempre com a função one-pedal acionada (o que também se faz no ecrã central), a regeneração pareceu-me eficaz e o sistema muito equilibrado, tanto na aceleração como no arranque, situação em que, por vezes, o binário pronto dos elétricos provoca ligeiros solavancos.
Três modos de condução, seletor de marcha rotativo
Os três modos de condução, com designação pouco vulgar, Active, Whisper e Untamed (mais ou menos ECO, Normal e Sport) não contemplam alterações na suspensão e é na resposta do acelerador e na direção que se sente a diferença, notória sobretudo na opção mais desportiva. E é nesta opção que poderá fazer mais sentido utilizar o sintetizador de som a provocar um ambiente que me parece ser mais para mostrar aos amigos do que exatamente para fruir da ideia de um automóvel a combustão.
Um reparo: é uma pena ter de ir ao ecrã para escolher o modo de condução. E mais um: o seletor de marcha rotativo não é o melhor exemplo de solução prática quando, por exemplo, se fazem manobras de estacionamento ou inversão de marcha.
De um modo geral cómodo, este Ford que, às vezes, dá a ideia de molejar um pouco sem lhe faltar firmeza, reage mal às estradas de mau piso e, sobretudo, àquelas lombas que os nossos autarcas têm “plantado” país fora: é mesmo preciso abrandar…
Sem a emblemática grelha dos Mustang, mas não dispensando o emblema do cavalo a galope, um grande capô e a traseira em que pontificam as históricas óticas das três barras, temos um crossover de formas conseguidas, com tejadilho bem inclinado a vincar a imagem desportiva. Um automóvel vistoso, com presença e a emanar força e poder.
Espaço e qualidade a bordo
O interior parece uma resposta ao estilo da Tesla, com um grande ecrã vertical, de utilização razoavelmente intuitiva, com 15.5 polegadas (o sistema é o SYNC mais recente e inclui um grande botão físico para o volume do áudio) a dominar o ambiente, mas complementado por um estreito e prático painel digital por detrás do volante e onde desfilam as informações habituais na apresentação convencional. Uma excelente e prática solução. De todo o modo, não é muita a informação disponibilizada em matéria de eficiência do Mustang.
Na linha da consola, que integra o seletor de marcha rotativo há um grande apoio de braço dobrável e flutuante que contempla um espaço de armazenamento. Tudo muito cuidado e bem pensado.
O design do habitáculo é conseguido, sugestivo e impressiona sobretudo a qualidade percebida, a escolha e combinação dos materiais, a um nível que ultrapassa em muito o que esperamos de um automóvel vindo dos EUA e que o distancia da concorrência local. Se quisermos, um minimalismo menos frio do que aquele a que nos habituaram referências deste mundo dos automóveis elétricos além Atlântico..
Espaço não falta neste quatro portas que beneficia de uma plataforma com uma distância entre eixos invulgar: 2,98 metros. E daí é fácil perceber o que o Mustang Mach-E representa em termos da oferta em habitabilidade, incluindo esse desafio sempre controverso dos cinco lugares. Nota para o facto de a altura do fundo condicionar a dos bancos e daí uma posição alta dos joelhos. Quem se sentar ao meio é o que sabe num carro que não dispensa o apoio de braços central a impor outra rigidez do recosto.
A bagageira apresenta valores abaixo das mais recentes ofertas, 402 litros de capacidade que podem chegar aos 1420 com os bancos rebatidos. Acresce que a Ford aproveitou o espaço livre na dianteira para, a exemplo do que faz no Puma, instalar uma caixa com 81 litros de capacidade, dotada de um bojão que permite um espaço drenável.
Original abertura de portas e bom nível de equipamento
Entre as curiosidades, também um sistema que permite abrir as portas através do telemóvel, portas que não têm fecho convencional e abrem através de um botão tátil assinalado por um círculo branco. O telemóvel também pode ser utilizado.
No que respeita ao carregamento, o Mustang Mach-E com a sua potência de carga de 150 kW, permite, num posto rápido, ganhar 119 km em dez minutos. Numa wallbox de 11 kW “atesta” em oito horas.
Elétrico de imagem vistosa e bem equipado, espaçoso e cómodo, consumos razoáveis e boa autonomia para um tração integral, dinâmica interessante, o Ford Mustang Mach-e com a bateria de 98,7 kWh está à altura do simbólico emblema que ostenta.
A versão que guiei foi uma First Edition com faróis LED adaptativos, jantes em liga de 19”, retrovisores aquecidos e recolhíveis, banco do condutor com ajuste elétrico, ar condicionado automático, carregador wireless, tejadilho integral panorâmico, limpa-para-brisas automático, luz ambiente multicolor, painel de instrumentos com 10.2″ e ecrã central digital de 15.5″ (navegação, rádio DAB, bluetooth), volante multifunções aquecido, cruise-control adaptativo, travão de mão elétrico, pinças de travão vermelhas, radar/câmara de assistência pré-colisão, assistência dinâmica à travagem, telefone como chave.
As baterias têm garantia de oito anos ou 160 000 quilómetros.
FICHA TÉCNICA
Ford Mustang Mach-e AWD 98,7 kWh
Motor: um por eixo, mais pequeno o dianteiro, dados não revelados
Potência: 350 cv
Binário máximo: 580 Nm
Transmissão: tração integral, velocidade única
Aceleração 0-100: 5,1 segundos
Velocidade máxima: 180 km/h
Consumo: 18,7 kWh/100 km (WLTP)
Bateria: iões de lítio, 98,7 kWh (88 kWh disponíveis)
Dimensões: (c/l/a) – 4712/1881/1597 mm
Peso: 2182 kg
Bagageira: 402/1400 litros
Preço: 66 800€, versão ensaiada; desde 50 085€ para versão com bateria de 75,7 kWh e tração traseira