Em 1985, a Nissan levou aos salões de Frankfurt e Tóquio o protótipo de um desportivo a partir do qual tinha a intenção de produzir um modelo de série capaz de ombrear com Ferrari e Porsche – já há três décadas esse era um objetivo que muitos construtores perseguiam.
Apresentaram então um “concept” batizado Mid4, carregado de inovações e espelho de uma engenharia desenvolvida. Motor central (daí o Mid), tração integral (33/67%), quatro rodas direcionais, quatro válvulas por cilindro (razões para o 4), suspensões independentes de triângulos duplos à frente, multibraços atrás, travões de disco ventilados nas quatro rodas. Parecia difícil, então, ir muito mais além na oferta de um desportivo com ambições.
O motor era um V6 de 3.0 litros que debitava 195 cv e o binário de 277 Nm, números que deixam perceber que o tempo voa e 32 anos são uma eternidade no mundo automóvel. Tinha uma caixa manual de cinco velocidades e eram anunciados 249 km/h como velocidade de ponta.

Nissan Mid4 II, próximo do que seria o carro de série, ainda esteve no Salão de Tóquio, em 1987, mas também ele nunca passou de promessa

A evocação só faz sentido pela singular curiosidade de um grupo de jornalistas portugueses integrar o reduzido lote de pessoas que tiveram oportunidade de guiar o Mid4. Foi há mais de três décadas (Março de 1986), quando o Entreposto representava a Nissan em Portugal e organizou uma viagem para mostrar e divulgar aos jornalistas da especialidade o processo produtivo do construtor japonês e fazer ouvir dos seus responsáveis as ambições que levaram àquilo em que se tornou a marca, nascida como Datsun.

Proposta irrecusável
Ora bem, a visita incluiu uma deslocação a Opama, onde se situa uma das fábricas da marca e uma pista de ensaios e foi aí que os japoneses quiseram ser simpáticos, propondo aquilo que ninguém foi capaz de recusar – uma experiência ao volante de um dos poucos protótipos do Mid4!
O melhor estava para vir. É que o Mid4, com todo aquele apeltivo conteúdo tecnológico, não era exatamente um automóvel fácil de guiar, como ficou provado no facto de os primeiros três “pilotos” terem feito outros tantos “tetes”… sem consequências, é verdade, mas deixando em estado de choque os membros da equipa de engenheiros da Nissan que nos acompanhou, todos trajados de fato-macaco azul escuro e capacete laranja. E foi vê-los de braços no ar, verdadeiro “ai, Jesus” de quem não pretende meter-se noutra…
Tudo acabou em bem. Menos o Mid4 que ainda teve uma segunda versão antes de a Nissan concluir que os custos não justificavam o investimento naquele desportivo. Outros vieram, como se sabe e com resultados bem interessantes.
Dois anos depois, em 1987, surgia ainda em lugar de destaque no Salão de Tóquio o Mid4 II. Mais comprido (4,30 m), largo (1,86), baixo (1,20) também faróis escamoteáveis como era moda, estilo ainda mais datado, estava longe de ser um daqueles desportivos que conquista e “esmaga” o olhar. Valia mais pelo que representava de inovador e se traduzia nos 330 cv às 6800 rpm tirados então de um motor 2.6 biturbo com intercooler, montado em posição longitudinal (o que obrigava a uma bossa na carroçaria, atrás do óculo traseiro). Mas nem isso foi suficiente para o carro ir mais longe do que à festa do automóvel da capital nipónica. Acabava ali a história.
Enfim, um Nissan que nunca foi o desportivo de produção em série que esteve fadado para ser…

A comitiva portuguesa, além de guiar o Nissan Mid4, ainda viu outros protótipos em teste na pista de Opama. Era assim há 30 anos…