O novo Qashqai cresceu em tudo e não apenas nas dimensões. Nem a qualidade foi esquecida quando já se ouviam alguns reparos. A Nissan tinha um padrão e elevou a fasquia. Mudou praticamente tudo, mas com pinças. Até a modernização das formas respeita o caráter de um produto que mantém a identidade e o ar de família. Podia consumir menos – esperava-se. Continua imperial no equipamento do Tekna+, topo de gama. Isso paga-se, claro: 43 950€. Mas nem é de mais… E custa não gostar!
Quando arrumei o Qashqai depois da primeira experiência ao volante, lembrei-me da apresentação do primeiro, naquele armazém escuro de Barcelona, em 2007. Foi um pedrada no charco e ficava claro o nascimento de algo novo. Agora, chegado à terceira geração, fechei a porta a pensar que o mais popular dos Nissan é como aquelas receitas das avós, continua bom e ninguém faz igual!
Está mais moderno, como é normal. A solução bicolor valoriza-o e alimenta a ideia do vistoso tejadilho flutuante. Tem músculo sem ser demasiado esculpido. A dianteira, rosto de família, foi bem tratada. O perfil é elegante. A traseira simples e bem resolvida. Só podia ser um Qashqai – e era isso, certamente que se pretendia. Ora, bem feito.
O novo Nissan Qashqai 1.3 DIG-T soube acompanhar os tempos e dotar-se de quanto é preciso para continuar a ser uma oferta de peso entre os SUV do segmento. Maior e mais espaçoso, cómodo, qualidade em alta, muito equipamento na versão Tekna+ com caixa automática e suspensão desportiva fica bem alto na escala da concorrência
No interior, e muito em especial nesta versão Tekna+, o topo de gama é interpretado com base numa qualidade percebida feita de bons materiais e bom gosto. Além de construção e acabamento criteriosos. O tablier tem poucas peças para reforçar a imagem do tratamento com “insecticida” anti parasitas ruidosos. Plástico almofadado, pele sintética, decoração sóbria a lembrar madeira escura, alguns cromados.
Depois a digitalização (painel com dois cenários), um mais convencional ecrã central sob a forma de tablet aposto ao centro do tablier, um volante multifunções com dimensões e pega apropriadas, os estofos em pele com acabamento requintado, consola a também não dispensar a pele. Um ambiente moderno, acolhedor e que enche a vista. Mais pontos a acrescentar.
Crescer em todos os sentidos
O aumento das dimensões (35mm no comprimento,32 mm na largura, 25 mm na altura e 20 mm entre eixos) serve fundamentalmente para dar corpo, peso e robustez ao Qashqai, o qual, neste caso, assenta bem nas jantes dominadoras de 20 polegadas. Mas há outros efeitos e importantes. Ganhou em habitabilidade o SUV nipónico. À frente não há conflito de cotovelos; atrás respira-se mais espaço, outro à-vontade, a até a altura dos bancos dianteiros, a deixar passar os pés por baixo, dão uma ajuda na comodidade. Que a altura também facilita, como a dimensão e amplitude das portas. E para manter a média alta, também a bagageira ganhou e oferece agora 504 litros de capacidade (+50), além de prática modularidade com as placas do fundo.
Sob este conjunto harmonioso, construído em cima de nova plataforma, a Nissan tem para já, debaixo capô, um motor 1.3 Turbo, mild hybrid de 12 volts, nesta versão a debitar 158 cv (há uma versão de 140 cv) e o binário de 260 Nm geridos por uma caixa CVT “desdobrada” em oito velocidades que tem o condão de passar despercebida no funcionamento e no ruído. Tem patilhas no volante, mas não espanta se disser que o envolvimento, apesar da resposta mais pronta, nunca é o mesmo, até em modo Sport, quando há um soprozinho de reforço, um acelerador mais lesto e outro “peso” na direção.
As versões com jantes de 20 polegadas juntam à receita uma suspensão desportiva que em vez de eixo de torção tem atrás um sistema multibraços (como nas versões 4×4). É um dado a considerar por aqueles que gostam de uma condução mais incisiva. Reflete-se num considerável resistência da carroçaria aos balanceamentos mais sensíveis nas zonas sinuosas, que impõe bruscas e frequentes transferências de massas. O ESP faz-se então sentir, mas quem quiser pode, simplesmente, desligá-lo e praticar uma condução mais “solta”, situação da qual o Qashqai se sai bem. Outra pormenor a reter: não falta o autoblocante!
Rolador despacahdo e competente
E motor para isto? Os 158 cv não são exatamente explosivos, o peso conta (quase tonelada e meia, apesar da plataforma mais leve e das portas e capô em alumínio). Com a caixa automática a aceleração 0-100 é até melhor, 9,2 segundos contra 9,5 da opção manual, o binário também é superior e a caixa automática desembaraça-se muito bem, mas a filosofia é a de um rolador despachado e competente, cómodo também, um estradista, senhor de uma agilidade que o torna impressivo face às exigências maiores e agradável em meio urbano.
Os consumos não me surpreenderam e a verdade é que nem se dá muito pela solução mild hybrid que acompanha o 1.3 Turbo, sobretudo por a Nissan prometer “assistência ao binário, paragem do motor alargada e com reinício rápido e circulação até para nas versões com caixa X-tronic, tudo traduzido em melhorias na economia de combustível e emissões de CO2”. Verdade que não fiz muitos quilómetros, sobretudo em cidade. Mas também estive sempre só a bordo e sem bagagem. Daí 7,5 aos 100 de média geral e 6,3 em autoestrada com o cruise control “cravado” nos 120 km/h parecerem-me números vulgares. Estes resultados traduzem uma condução normal em modo Standard, uma curta passagem pelo Sport mais exigente e a dispensa do Eco que, acredito, permitirá números mais simpáticos.
Impõe-se dizer que temos uma boa posição ao volante, regulações de sobra, ergonomia sem problemas, um sistema de infoentretenimento que, ainda melhor, podia ser mais atrativo, conetividade sem fios e, sublinhe-se, botões físicos para o ar condicionado e para os atalhos do ecrã.
Pacote de equipamento muito completo
Em termos de equipamento, a oferta da Nissan é notável. Ora tome nota: faróis adaptativos com máximos automáticos em LED, luzes de nevoeiro e de marcha atrás na mesma tecnologia, sensores de luz e chuva, chave inteligente, botão start/stop, três modos de condução, travão de mão elétrico, câmaras de marcha atrás com guias e sensores e de 360 graus, travagem automática, leitura de sinais, cruise-control inteligente, aviso de ângulo morto, sistema de manutenção na faixa de rodagem, painel de instrumentos full TFT com 12,3″, ecrã central tátil de 9″ com navegação, head-up display no para-brisas, atualização de mapas, rádio DAB e sistema Bose com oito colunas, bluetooth, compatibilidade com Amazon Alexa e Google Assist, carregador por indução, entradas USB-A e USB-C atrás e à frente, ar condicionado automático bizona com saídas para trás, volante multifunções em pele aquecido, bancos em pele elétricos aquecidos e com função de massagem à frente, bagageira inteligente, vidros escurecidos, suspensão desportiva multilink e jantes de 20 polegadas.
O novo Nissan Qashqai 1.3 DIG-T soube acompanhar os tempos e dotar-se de quanto é preciso para continuar a ser uma oferta de peso entre os SUV do segmento. Maior e mais espaçoso, cómodo, qualidade em alta, muito equipamento na versão Tekna+ com caixa automática e suspensão desportiva fica bem alto na escala da concorrência.
FICHA TÉCNICA
Nissan Qashqai 1.3 DIG-T mHEV 158 cv Tekna+
Motor: 1333 cc, gasolina, injeção direta, turbo, intercooler; mild Hybrid 12 V
Potência: 158 cv/5 500 rpm
Binário Máximo: 260 Nm/1800-4000 rpm
Transmissão: caixa automática CVT, oito velocidades, patilhas no volante
Aceleração 0-100: 9,2 segundos
Velocidade máxima: 199 km/h
Consumos: misto – 6,4 l/100
Emissões CO2: 145 g/km
Dimensões: (c/l/a) – 4425/1848/1625 mm
Bagageira: 504 litros
Peso: 1511 kg
Preço: 43 950€, versão ensaiada; desde 32 250€