O renovado Nisssan Qashqai só chega no fim do Verão, mas a produção já começou e há mesmo unidades embarcadas para vários destinos. Vem de Sunderland, a grande fábrica da marca japonesa no Reino Unido, onde foi concretizado grande investimento. Tudo com vista a futuro eletrificado que a marca antevê à luz das normas e das datas de Bruxelas.
Beste seller da Nissan, o modelo que revolucionou uma marca que parecia adormecida na viragem do século e, mais, “inventou” um novo conceito e obrigou toda a concorrência a produzir SUV e crossovers – hoje são 22 os concorrentes! – foi refrescado e mantem tudo, parece-me, para continuar a sua carreira de sucesso até à eletrificação total.
Tive oportunidade de vê-lo em Sunderland, no final de uma viagem pela linha de produção, de onde também nasce o Juke e ao lado da futura estrutura que dará vida ao novo Leaf, ainda no segredo dos Deuses.
A imagem de marca recriada por Matthew Weaver, vice presidente do Design Nissan para a Europa, traz a primeiro plano uma grelha sobredimensionada, forma trapezoidal, que dá um rosto completamente diferente ao Qashqai e a qual também contribui para a ideia de o carro parecer maior. Malha bem trabalhada em preto brilhante, a grelha estende-se até aos faróis, redesenhados e originais, dominante nuns grupos óticos bipartidos que contemplam a barra de luz sob o bordo lateral do capô. As entradas das cortinas de ar, agora “soltas” rematam o trabalho.
No capítulo da iluminação, outra novidade: tecnologia Oled nas luzes traseiras, o que lhes confere ao vermelho um brilho, de facto, invulgar. Pelo menos, fica essa ideia. E a certeza de que será tecnologia para democratizar.
No interior, sem surpresa, a nota é a continuada procurar de uma qualidade que permita aos responsáveis falar de imagem premium. Alcantara, pele sintética, acabamentos pespontados, atualização nas tecnologias (agora há Google integrado) reforçam a boa impressão recolhida neste primeiro e rápido contacto com o Qashqai.
É claro que vi e sentei-me num automóvel que estava longe de ser uma versão de caraterísticas populares, bem equipada e nível superior. Poderá haver diferenças na oferta, mas o nível constatado parece-me indício de uma aposta muito forte num ambiente de conforto.
Falta pouco para a confirmação. É esperar para experimentar… os renovados Qashqai com as conhecidas motorizações e-power e mild-hybrid estarão aí no verão. E para provar que agora, cocosmética apurada, o Qashqai continua a ser único, como foi o modelo da revolução, a primeira série, lançada em 2006. Resta saber se não será o último ainda com um “cheirinho” a combustão, depois do motor elétrico alimentado a gasolina.
Ali, em Sunderland, ganha força o caminho decidido. Mas já lá vamos.
É um facto que os automóveis elétricos vendem-se mais, nalguns mercados. O seu número aumenta um pouco por todo o lado, os adeptos aumentam, mas quando os céticos crescem também e fala-se de outras alternativas, hidrogénio, combustíveis sintéticos e, ao mesmo tempo, algumas marcas hesitam, dá que pensar…
Uma dança ao som da música ambiente…
A fábrica de Sunderland surgiu em 1984 para produzir o Bluebird e, desde então, foi sempre a crescer. Do seu portfólio constam nove modelos e em 2013 já tinha produzido meio milhão de unidades. Hoje, números bem mais significativos, beneficia de mais um forte investimento, 35 milhões de euros (num total de 7 000 milhões no Reino Unido). A fábrica inclui “quintas” de painéis solares, aerogeradores, um apurado ciclo de reciclagem, todas as preocupações com a sustentabilidade. E prepara-se para um futuro 100% elétrico…
Há duas linhas de produção (a terceira será para o Leaf), trabalha em três turnos e põe na rua qualquer coisa como 600 automóveis por dia.
O bailado da produção tem uma coreografia muito precisa e rígida, como é costume, num cenário bem estruturado que inclui 1 100 robôs e a maior parte dos seis mil trabalhadores da unidade.
Estampagem e, principalmente, montagem da carroçaria (Trim & Chassis), que exige 3 500 pontos de soldadura, são as áreas mais automatizadas – trabalha-se com uma tolerância de 0,1 mm nas áreas de junção de painéis! Aqui utiliza-se cada vez mais o alumínio que, num Qashqai, representa 20 dos 47 painéis do carro e um ganho atual de 60 quilos no peso. Só o portão da bagageira é plástico. A pintura também não dispensa a automação para a aplicação dos cerca de cinco tiros de tinta que recebe cada unidade, num processo por camadas que se prolinga por 85 minutos….
Depois vem o resto, motor, baterias e a robotização vai diminuindo…
Cablagens, vidros das portas, montagem e finalização do capô continuam a não dispensar o trabalho humano que conclui um processo que leva 14 horas até ao controlo final, numa cadência impressionante, que envolve 3500 a 4 000 componentes consoante as versões, e durante a qual não há corridas na linha para garantir os tais 600 carros ao fim do dia… Isto apesar da batida forte da música ambiente que se ouve na fábrica.
Muitas fábricas e marcas depois, transformações tremendas, evolução permanente continua a impressionar este “relógio” de precisão que é a produção de um automóvel.
E para servir tudo isto, entregas just in time, 600 empresas, fornecedores de seis países (Inglaterra, Espanha, França, China, EUA e Japão). Só nas redondezas mais 30 mil pessoas envolvidas.
É por isto que não deve brincar-se com a indústria automóvel!
Um futuro mais eletrificado
Sunderland produz também as baterias utilizadas pelos Qashqai e-power e Juke Hybrid. Uma unidade mais pequena, 5 400 metros quadrados onde trabalham apenas 73 pessoas, num ambiente de tipo assético, no qual circulam robôs que transportam as baterias entre estações e há bancas de trabalho onde os computadores dão ajuda aos técnicos até na certeza de que qualquer aparafusamento tem “a conta” exata.
As baterias do Qashqai, refrigeradas a água, levam 14 minutos a produzir e são finalizadas 600 por dia.
A capacidade atual desta unidade é de 250 mil baterias
Tudo isto se alinha num programa designado EV36Zero. É o projeto da empresa para o futuro do setor automóvel e como a marca explica, combina a produção de veículos elétricos e de baterias, com o objetivo de conseguir condução e produção com emissões zero.
Este projeto coloca a fábrica de Sunderland no centro desta estratégia. E por isso, diz a Nissan, está confirmada para estas instalações a produção das futuras versões 100% elétricas de Qashqai, Juke e Leaf, além de um quarto modelo parte dos planos para que a gama de automóveis de passageiros da Nissan seja movida a eletricidade até 2030. E com a Europa a liderar a transformação.
Perguntei aos responsáveis da fábrica se, numa altura em que algumas marcas europeias reduzem a aposta na eletrificação e os mais céticos duvidam da viabilidade das metas e das datas da União Europeia, não consideravam muito otimistas as suas projeções, designadamente 43% do mercado do velho continente 100% eletrificado até 2030?
Não! A Nissan está otimista, convicta do programa, acredita numa evolução rápida, fala, por exemplo, de baterias sólidas, da evolução nos mercados nórdicos, do crescimento da rede de abastecimento por toda a Europa.
Enfim, um mundo automóvel que nem todos veem da mesma maneira. Aguardemos, 2030 é daqui a menos de seis anos. Já fizeram as contas?
“Nós sabemos!”, disse-me François Bailly, um dos vice-presidentes da Nissan AMIEO que cobre 140 mercados da Rússia, África, Médio Oriente, India e Oceania…
É um facto que os automóveis elétricos vendem-se mais, nalguns mercados. O seu número aumenta um pouco por todo o lado, os adeptos aumentam, mas quando os céticos crescem também e fala-se de outras alternativas, hidrogénio, combustíveis sintéticos e, ao mesmo tempo, algumas marcas hesitam, dá que pensar…