Custa a acreditar que possa ser necessário, nos tempos que correm, ter de mudar a designação escolhida para um novo modelo de automóvel. Com tanta gente a pensar, tantos meios, cuidados e registos ainda acontece ser escolhido aquilo que é um palavrão ou a fonética transforma nisso mesmo. E há cada uma…

Portugal, mercado pequeno e sem significado para os grandes centros onde estas coisas se decidem, está  longe de ser o único país a ser palco destes casos complicados. A dificuldade mais recente envolveu a Hyundai e o interessante Kauai. Ora, em todo o mundo, este é o Kona – e vamos vê-los aí, no verão, trazidos pelos turistas.

A marca escolheu o nome de um distrito da grande ilha do arquipélago do Hawai, os representantes da Hyundai em Portugal, quando informados, disseram que estava fora de causa a comercialização do SUV entre nós sob este nome – por acaso também o de uma marca de bicicletas e de uma das mais famosas máquinas de café que encontramos no Reino Unido.

Os sul-coreanos compreenderam e os portugueses até resolveram o problema no respeito do critério da marca. Kauai é outra das ilhas do Hawai… Não conseguiram demover o sul-coreanos da sua aposta, mas facto é que logo na apresentação internacional o marketing tinha tratado de tudo. Havia uns risinhos quando se falava com os portugueses, que puderam tomar os seus apontamentos em blocos com a inscrição Kawai.

Menos mediático foi o caso da Fiat e da versão desportiva do Cinquecento. Teve a designação de Sporting em todo o lado, entre nós foi apenas Sport. Com estas coisas da paixão clubística é difícil lidar

Antes disso, a fonética para vocábulo parecido criou problemas à Opel Portugal quando foi lançado o Ascona, antecessor dos Manta e Vectra, a família que hoje é o Insignia. Em Portugal teve a designação 1604 e 1904 (segundo a motorização). Por acaso, a versão inglesa, com o emblema da Vauxhall também recebeu outro nome de batismo: Cavalier. A produção, dividida por três gerações, durou 18 anos (1970-1988).

Menos mediático foi o caso da Fiat e da versão desportiva do Cinquecento. Teve a designação de Sporting em todo o lado, entre nós foi apenas Sport. Com estas coisas da paixão clubística é difícil lidar – e os italianos sabem-no bem. Foi pacífico!

Também há casos de nomes simplesmente infelizes. A extinta Daewoo foi o melhor dos exemplos com o Kalos. Neste caso, a designação “passou” mas houve a intenção de tentar fazer humor para promover o produto. Provavelmente, alguns ainda recordarão o spot televisivo e os outros calos nos pés de uma senhora… Não consta que tenha resultado. Foi em 2003 e ainda se encontram alguns destes automóveis no mercado se usados.

Há outros casos conhecidos e badalados, um deles, aqui ao lado, na vizinha Espanha. O Mitsubishi Pajero chama-se Montero. A primeira designação está relacionada com a masturbação. No próprio site da marca, o modelo é referenciado como Pajero/Montero.

Em França, a polémica mais recente envolveu o Renault Koleos e a tradução do grego antigo ou moderno: bolas (entendidas como testículos) e besouro. Muita gente achou desadequado, mas não se deu grande importância ao tema e o grande SUV aí está, vai para uma dezena de anos. Entre nós, e não só, sem reparos ao nome. Mas há mais entre os gauleses: a Toyota teve problemas com o seu desportivo MR2. Aqui foi a cacofonia a fazer das suas: lia-se “merdeux”!  Por isso, ficou só MR!

Também no Reino Unido acontecem destas coisas. O Citroën Evasion passou a ser o Synergie, pelas conotações com a evasão fiscal. O formalismo britânico a funcionar.

Há mais designações menos felizes, entre elas, outra famosa, o pequeno Mazda Laputa (versão do Suzuki Kei), produzido entre 1999 e 2006 que a Wikipédia inclui entre os dez automóveis com os nomes mais estranhos. Não chegou a Portugal.

Para evitar estes precalços, as marcas têm departamentos dedicados a estas coisas. A SEAT até já explicou como faz.