Se houver dúvidas sobre a diferença que 20 cv podem fazer num automóvel basta guiar o Renault Kadjar 1.3 TCe. Se a versão de 140 cv é bem interessante, o topo de gama com os seus 160 cv e caixa automática é aquele SUV a gasolina que deixa ainda melhores recordações. Gasta um nadinha mais, é mais caro mas dá conta de uma lição tão bem estudada que merece nota de Quadro de Honra.

É verdade que nem todos precisam dos 160 cv nem do acréscimo de binário, maior ainda com a caixa automática de dupla embraiagem e sete velocidades (270 Nm /1800 rpm contra 240 Nm/1600 rpm) . O chefe de família que procura o SUV bem dimensionado, confortável e que até faz as coisas depressinha e com eficácia terá razões de sobejo para ficar satisfeito com a compra. Sem dúvida, estamos, como já aqui escrevi, perante um automóvel equilibrado.

A questão é que depois de guiar a versão de 160 cv fica aquela sensação de que todos devíamos ter direito àquele bocadinho mais, a ”pontinha de garra” que transforma o mais potente dos Kadjar 1.3 TCe num daqueles automóveis que se nos colam à pele…

Aí está um Kadjar diferente a gasolina, com aquele extra de alma que lhe permite brilhar ainda mais no despacho e evidenciar o acerto na relação entre a eficácia em curva e aquele conforto muito francês. A caixa automática de dupla embraiagem e sete velocidades é uma mais valia na ajuda para gozar um SUV agradável de conduzir

A caixa automática de dupla embraiagem e sete velocidades nem se pode considerar referencial, de todo o modo cumpre o seu papel a preceito, quando lhe confiamos o “comando” das coisas ou quando se busca o funcionamento manual sequencial na alavanca do seletor. Neste caso, a rapidez não surpreende, afinal este não é um carro de competição, mas fica a convicção de nem ser preciso recorrer ao sistema para mais do que “forçar” a subida das relações à procura de melhores consumos… Depressa, no entanto, percebemos que nem é preciso!

Aceleração superior, consumo também

Seja como for, todas as prestações de aceleração são superiores à versão de caixa manual (9.3 de 0 a 100) e como o crescendo do motor é outro, depressa se cava um fosso face aos insignificantes 0,3 segundos na comparação com o Kadjar TCe de 140 cv…

Em matéria de consumos pareceu-me difícil baixar dos 7,5/8 litros aos 100 sem dispensar tudo aquilo que afinal faz diferença num automóvel elegível pela capacidade prestacional. Em ritmo de passeio, faz-se melhor, com certeza. No menos potente, com caixa manual, andei entre os 6,7 e os 7,3. É uma diferença significativa.

No que respeita ao comportamento, a mesma excelente combinação entre eficácia e conforto. E repito: inclina-se um nadinha, claro, mas não “enrola” e uma vez acamado segue o seu caminho com rigor, tanto que, às vezes, parece até pedir mais acelerador, ao estilo de desafio, “venha mais que sou capaz” – e é! Nos encadeados mais ziguezaguentes nunca se descompõe e nem de se dá pela intervenção do ESP quando pisamos o risco. Prova disso, quem vai ao lado não de queixa dos balanços. A barra de torção original – em Portugal chegou a ter a suspensão traseira mais evoluída do 4×4 – cumpre bem o seu papel.

A travagem mordaz ajuda muito neste andamento, pela resposta na prática e na passagem de confiança. E tudo isto e passa com um nível de conforto que respeita a tradição, bom exemplo do conforto francês e daquela capacidade superior de absorver as irregularidades do piso quando elas são sensíveis.

Muito equipamento

O resto está contado no ensaio do Kadjar TCe 140 cv  e basta clicar aqui para ler tudo, designadamente sobre aptidões para uma utilização de lazer, estilo, conceção interior, infoentretenimento, padrões de qualidade, habitabilidade, modularidade e capacidade de carga. Também sobre a herança do Kashquai, a colaboração com a Mercedes nos motores e a estreia em Portugal da suspensão traseira original. E como nem tudo é perfeito, lembra-se a necessidade de ter Via Verde para beneficiar da Classe 1 nas portagens.

Em termos de equipamento, o Black Edition que guiei está identificado por um badge na carroçaria, conta com faróis LED Pure Vision e luzes de nevoeiro também em LED, jantes negras de 19 polegadas, retrovisores em preto brilhante, tejadilho em vidro fixo, decorações interiores específicas, estofos em alcântara com pespontos vermelhos, bancos dianteiros reguláveis electricamente com sistema de aquecimento. Além disso, inclui cartão mãos-livres, máximos automáticos, luzes auxiliares em curva, sistema ativo de travagem de emergência, sensores de luz e chuva, alerta de transposição de faixa, estacionamento, reconhecimento de sinais, cruise-control e limitador de velocidade, sistema R-Link compatível com Android e IOS, rádio, Bluetooth e navegação, além de vidros traseiros escurecidos, ar condicionado automático, com saídas para trás, e travão de parque elétrico. No caso da versão ensaiada havia a considerar ainda 1800 euros de extras: alerta de ângulo morto, ajuda ao estacionamento lateral, travagem ativa (680 euros), pintura metalizada (530 euros), câmara de marcha atrás (490 euros) e pneu sobresselente pequeno (100 euros)

Aí está um Kadjar diferente a gasolina, com aquele extra de alma que lhe permite brilhar ainda mais no despacho e evidenciar o acerto na relação entre a eficácia em curva e aquele conforto muito francês. A caixa automática de dupla embraiagem e sete velocidades é uma mais valia na ajuda para gozar um SUV agradável de conduzir.

As capacidades do Kadjar mostradas pela Renault

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Renault Kadjar 1.3 TCe 160 cv Black Edition

Motor: 1332 cc, quatro cilindros, turbo, gasolina, injeção direta, filtro de partículas, start/stop

Potência: 160 cv/5500 rpm

Binário máximo: 270 Nm/1600 rpm

Transmissão: caixa automática de dupla embraiagem e sete velocidades; comando sequencial no seletor

Aceleração 0-100: 9,3 segundos

Velocidade máxima: 210 km/h

Consumos (NC): ciclo misto – 6,5/6,8

Emissões CO2 (NC): 147/155 g/km

Bagageira: 527/1650 litros

Preço: 34 483 euros, versão ensaiada; Black Edition desde 32 900  euros; versão de 140 cv a partir de 28 050 euros