Rolador de exceção, confortável, carregado de classe, agradável de guiar e suficientemente ágil, apesar das dimensões, o Mercedes Classe E Coupé ainda faz parte daqueles automóveis para que poucos não olham com prazer. Guiei o 220 d, é claro que encontrei defeitos, mas custou dizer-lhe adeus… Belo automóvel!

Para já, esta é a solução mais barata (a diesel) para chegar ao chamativo coupé da Mercedes. Não é bem o preço do apartamento, como diziam os mirones num parque de estacionamento de um domingo soalheiro na Ericeira, mas no caso eram quase 80 mil euros e qualquer análise tem de levar isso em conta. É bastante dinheiro, mesmo que parte significativa sejam opções – 12 300 euros para aprimorar um bom equipamento de base!

De todo o modo, este é mesmo um Premium, confronta-nos logo com a dimensão da opulência: tablier em pele e alumínio, painel de instrumentos digital no chamado cockpit panorâmico, consola revestida a madeira era a combinação – entre várias possíveis –, um luxo feliz e conseguido, bem complementado pelos bancos também em pele.

A posição de condução, com tantas regulações (elétricas), pode andar perto da perfeição, quem vai ao lado, especialmente só com dois a bordo e a tentação de estender as pernas e recuar o banco, e mesmo em passeio estranha a falta de uma pega no tejadilho, solução que a maioria das marcas considera cada vez mais, e mal, apêndice desnecessário. Para manter o estilo, o travão de mão elétrico está posicionado em baixo à esquerda onde se encontrava o “velho” puxador. É um dos 27 botões além da roda do Comand  que nos faz navegar pelo ecrã. O que se faz também no volante multifunções que tem dois pequenos touch pads que respondem ao tato como num computador. Falta dizer que o volante se regula eletricamente na quarta alavanca atrás do volante.

O Classe E Coupé tem presença afirmativa na estrada e mais ainda quando as jantes são de 20 polegadas
O Classe E Coupé tem presença afirmativa na estrada e mais ainda quando as jantes são de 20 polegadas

Qualidade e requinte marcam o habitáculo deste coupé feito para quatro e que também garante conforto a quem se senta trás. O banco avança e recua eletricamente para facilitar o acesso aos lugares traseiros, mas ainda assim é preciso algum exercício, sempre mais difícil à medida que a idade avança. Os bancos, servidos por duas saídas de ventilação e uma ficha de 12 volts, são ligeiramente “cavados” e baixos, mas recebem muito bem um passageiro de estatura mediana. Alguém acima dos 1,80/1,85 talvez fique com a cabeça próximo do tejadilho. O espaço para as pernas passa sem reparos, desde que ao volante não haja gigantes que tenham de recuar muito o banco. Os vidros só abrem através do comando das portas dianteiras. Não há milagres e quem escolhe um coupé sabe o que faz.

Coupé estatutário, alma q.b, bem parecido para o meu gosto, mesmo na versão menos potente, convence. Servirá, por certo, a grande parte dos clientes Mercedes

E também sabe que nunca pode ter uma bagageira tão boa como num sedan. São 425 litros, plano de carga alto,”boca” reduzida, pequeno fundo falso. Mas ninguém faz mudanças usando um E Coupé…  Prático é o funcionamento elétrico, obrigatório a este nível, mesmo num coupé

Tudo isto, aliás, pede equipamento, o qual no caso nem era muito… A vida a bordo de um  carro, perdão, um automóvel assim faz todo o sentido acompanhada de facilidades e ajudas – e quantas mais melhor, como o Head-Up Display e o cockpit panorâmico, por exemplo.

E afinal como é o E Coupé a andar? Pois, já disse tratar-se de um rolador de exceção, corre quase de pantufas na autoestrada, mesmo com umas imponentes jantes de 20 polegadas e pneus Pirelli Pzero de baixo perfil. Liga-se o cruise-control (para não haver surpresas, porque ele “vai-se embora” facilmente…) e desfruta-se aquela souplesse dos bons automóveis.

Mas era de esperar outra coisa de um Mercedes na autoestrada? Com certeza que não. Noutro ambiente de maior exigência acabamos por aceitar que 194 cv é potência vulgar para um automóvel assim. O razoável binário (400 Nm) ameniza as coisas, mas falta capacidade de explosão para uma imagem mais adequada, no fundo a pedir um bloco de seis cilindros, outra nobreza. A caixa automática de nove velocidades, com patilhas no volante, é de grande suavidade e parece mesmo indispensável quando se trata de levar o prazer da condução ao patamar mais elevado. Não surpreende que seja a escolha dominante. Prima pela suavidade e gere com aprumo as sete velocidades, mas a filosofia não é desportiva. As três primeiras relações são muito curtas e chega a ser preferível deixar que ela “comande” as coisas nas estradas estreitas e sinuosas. Em passeio, pode apressar-se as coisas, fazendo-a subir manualmente, na procura de melhorar os consumos, se isso for preocupação do cliente desta escolha…

De qualquer modo, regulando a afinação desportiva, o Sport+ (são cinco modos à escolha) este E Coupé ainda dá um ar da sua graça, evidenciando sobretudo uma agilidade notável para um automóvel da sua dimensão  (4,70 metros) e mantendo a frente “agarrada” ao volante e a traseira “no lugar”. Na Mercedes, não se brinca em serviço, mesmo que o a filosofia e o tratamento da imagem desportiva seja diferente de outros premium alemães, menos agressiva.

Sobre a direção nada a dizer, além de que continua a impressionar a brecagem de que são capazes os  Mercedes. Os travões cumprem, não são simples desaceleradores, ainda que pareçam algo esponjosos, o que também se compreende.

A título de curiosidade, registe-se que o consumo foi de 7,1 litros 100 entre a autoestrada e a cidade e subiu aos 12 quando se acrescentaram uns quilómetros de condução exagerada.

Coupé estatutário, alma q.b, bem parecido para o meu gosto, mesmo na versão menos potente, convence. Servirá, por certo, a grande parte dos clientes Mercedes. Por mim, repito, custou dizer-lhe adeus!

FICHA TÉCNICA

Mercedes E Coupé 220 d

Motor: quatro cilindros, 1950 cc, turbodiesel, injeção commom-rail, start-stop

Potência: 194 cv/3 800rpm

Binário máximo: 400 Nm/1600-2800 rpm

Transmissão: tração traseira, caixa automática de nove velocidades

Aceleração 0-100: 7,4 segundos

Velocidade máxima: 242 km/h

Consumos: média – 4,6 L/100; estrada – 4,2; urbano – 5,1

Emissões CO2: 119 g/km

Bagageira: 425 litros

Preço: 79 648 euros (versão base – 62 950 euros)