É sóbrio. Tem pedigree, claro. Espaçoso, faz bons consumos e revela excelente dinâmica. Com 150 cv e mais de tonelada e meia não pode ser para corridas. Mas é bem agradável de guiar o Audi Q5, o qual, mesmo numa versão menos “recheada”, tem um preço que não é para todos. Óbvio, há valores que se pagam!

Olhar para ele é apreciar um trabalho estético conseguido numa imagem bem proporcionada do SUV de dimensões consideráveis. É convincente só por ser tão simples e natural. Não é fácil. Agrada por fora e por dentro. Aqui na linha habitual dos Audi mais “modestos”, menos ricos, sem a emblemática instrumentação digital ou estofos em pele e com a caixa manual. Faz-me alguma confusão, mas uma gama deve ser alargada na oferta. Nem todos gostam de pastéis de nata com açucar e canela…

As dimensões (4,663 m de comprimento; 1,893 de largura; 1,659de altura) não assustam. Claro, na cidade é mais complicado encontrar um “lugarzinho” para estacionar. De resto, em termos de manobrabilidade até surpreende. Revela-se mais ágil do que somos levados a temer. E mais ainda quando o sujeitamos a provas menos apropriadas, na estrada sinuosa e estreia em alcatrão, onde ele se atira “à luta” com uma garra que até faz ouvir os os pneus… Depois, nas curvas em apoio, longas e rápidas aceita com naturalidade o desafio, convida a “pisar” mais e, no modo Dynamic, transmite uma confiança que muitos não esperam de um automóvel com esta altura. É preciso olhar para o velocímetro para perceber o apuro do Q5, um daqueles em que as coisas se passam mais depressa do que parece. Os modos de condução propõem mais quatro opções: offroad, Comfort, auto e individual.

Uma proposta que faz pagar a imagem, mas assegura espaço, comodidade, boa dinâmica e consumos simpáticos. Claro que, com 150 cv, não é para “corridas”…

Perante a estrada de terra, com o seu “corpanzil” e uma distância ao solo que facilita muita coisa, não se experimentam temores além dos limites da razoabilidade. E ninguém, por certo, vai pedir mais do que isso a um tração dianteira (tem bloqueio do diferencial), com capacidades para permitir as escapadas de evasão por caminho mais difíceis, verdade, mas que não é um todo-o-terreno.

Uma experiência muito positiva em termos de comportamento dinâmico, mesmo que isso não constitua surpresa. É um Audi, notícia era que fossemos obrigado a andar aos baldões e a não viajar com o conforto próprio de um premium com galões. É aquele tratamento de suspensão muito alemão, às vezes seco, mas venha o primeiro que se queixe da relação entre o conforto e a eficácia.

Desembaraço suficiente

Fica subentendido que é um automóvel agradável de guiar. Eu continuo a considerar que a transmissão automática DSG representa a opção mais apropriada para um SUV assim, mas a caixa manual de seis velocidades assegura o desembaraço adequado e opera-se com ligeireza. E como não estamos perante uma oferta para “voar” longe das auto-estradas – ele mas é capaz disso… – a capacidade do 2.0 litros de 150 cv é o suficiente para o chefe de família menos fadado para corridas. É claro que se sente o peso – que não é pouco: 1660 kg – mas não se pode ter tudo. Sobretudo a este nível, daqueles em que a escalada dos preços é bem íngreme!

Conforto também é espaço. Ora o Q5, habitáculo desafogado, tem largueza que baste à frente e espaço de sobra para quatro atrás. Mas, atenção, mesmo só quatro (a configuração do banco nem engana), uma vez que a altura do túnel e a própria introsão da consola, com as saídas do ar condicionado e a ficha de 12V, convidam a considerar que, com cinco pessoas a bordo, quem for ao meio na traseira não irá bem. Em termos de altura, nada a dizer; quanto a acessibilidade já se sabe, há um “degrau” para subir, nada do outro mundo, mas sempre mais complicado quando se levam os avós mais velhos…

A bagageira (450 litros) é grande mas não impressiona, até porque sob a tampa do fundo está a quinta roda (pneu de recurso: 215 euros), para mim indispensável num automóvel deste tipo. O rebatimento do banco traseiro faz-se na proporção habitual 60X40, e pode mais do que triplicar o espaço (1550 litros). O plano de carga, obviamente, não pode ser muito baixo – é normal que isso se verifique num SUV.

Consumos interessantes

E os resultados práticos que se esperam de um Diesel? Pois bem, consumos interessantes, sobretudo se atendermos às dimensões, ao espaço e ao peso… Consegui 4,6 litros aos 100 na auto-estrada, cruise-control nos regulamentares 120. No chamado percurso suburbano, o computador registou entre 5,7 e 6,3, para andamentos vulgares e diferenças explicáveis pelo fluxo do tráfego. No para-arranca citadino e sem “esticões” o aumento foi significativo: 7,7 nas horas complicadas de Lisboa. Percorri 421,6 quilómetros e tinha autonomia para mais 590! A média geral deste Q5, ao cabo de mais de três mil quilómetros, muitas mãos e andamentos era de 6,3. Honesto, parece-me.

Resta dizer que a versão Design experimentada apresentava a instrumentação mais simples, complementada pelo tablet flutuante no cento do tablier. É ele que assegura, através do prático MMI (o grande botão na consola), o acesso a uma dezena de menus (veículo, som, rádio, telefone, dispositivos, navegação, mapa, Audi Connect e Audi Smartphone, ajustes).

A apresentação segue a linha habitual na Audi e, neste caso, inclui os acabamentos com recurso a incrustrações em alumínio. Sóbrio, um pouco frio, qualidade sem mácula. O equipamento valia mais 4 270 euros e incluía o prático auto-hold para o travão de parque elétrico, volante multifunções em couro e entre outras miudezas os pacotes Advance (1435 euros) e Business Line (1 700 euros), principais responsáveis pela diferença e que trazem, entre outra oferta, a navegação, sensores de estacionamento, retrovisores elétricos rebatíveis automaticamente e aquecidos, cruise-control com limitador e cortinas laterais atrás.

Num balanço, uma proposta que faz pagar a imagem, mas assegura espaço num habitáculo modesto, comodidade, boa dinâmica e consumos simpáticos. Claro que, com 150 cv, não é para “corridas”…

FICHA TÉCNICA

Audi Q5 2.0 TDI 150 cv Design

Motor: 1998 cc, turbodiesel, injeção direta, intercooler, Start/Stop

Potência: 150 cv/3250-4500 rpm

Binário máximo: 320 Nm/1500-3250 rpm

Transmissão: caixa manual de seis velocidades; tração dianteira com bloqueio eletrónico do diferencial

Aceleração 0-100: 9,7 s

Velocidade máxima: 206 km/h

Consumos: média – 4,5 litros/100; estrada – 4; urbano – 5,2

Emissões CO2: 117 g/km

Bagageira: 450/1550 litros

Preço: desde 52 890 euros (sem despesas); versão ensaiada, 57 160 euros