Carro do Ano Internacional em 2023, o exclusivamente elétrico Renault Scenic é mais uma prova de que os prémios não surgem do acaso. Classificado como SUV de linhas muito simples, revela-se um familiar à altura das exigências, mas também um automóvel mais desembaraçado do que seria de esperar, gerindo os 220 cv com eficácia e eficiência. Autonomia prometedora, até 603 km, prestações normais, consumos dentro do prometido, deixa boa impressão e tem preços a levar em conta: desde €52 650 e a partir de €40 690 para a bateria de menos capacidade.
Retrato de família à frente, emblema proeminente em posição central, efeito côncavo a criar dois planos, recebendo os faróis rasgados e muito lineares, ligados ao capô, projeção do para-choques num bloco que integra as luzes diurnas em boomerang, a grande entrada de ar rematada por um lábio prateado; silhueta escorreita, fluida e simples, com discreto abaulamento que os efeitos de luz tornam mais notado, destacando o vinco saliente na parte inferior; um fio prateado na parte superior dos vidros estendido a barra na larga custódia; traseira sem floreados com a nota do efeito côncavo a meio do portão a lembrar a solução dianteira. As jantes de 20 polegadas dão-lhe peso e tornam mais notada a grande distância entre eixos. Em duas palavras: a virtude da simplicidade.
O interior nada de novo traz ao estilo que conhecemos dos mais recentes Renault, com o grande painel em “L” deitado, do Open R Link, um grande painel de instrumentos dotado de vários cenários para informação diversa, e o ecrã central vertical, orientado levemente para o condutor. O sistema de infoentretenimento, muito intuitivo, conta com o Google integrado e é compatível com o Android Auto e Apple CarPlay. Tudo sem fios.
Consola rasa e apoio de braços longo, bancos com o conforto e apoio habituais, volante quadralizado, ar condicionado com botões físicos sobre a prateleira que integra o carregamento weireless para o smartphone, e está retratada o que se oferece dos lugares da frente, espaço onde pontificam plásticos almofadados e todos rugosos para tornar o toque menos frio. Mais uns revestimentos nas portas acima da média e temos uma imagem de qualidade percebida adequada ao segmento. O espaço é o suficiente para não haver conflitos de cotovelos.
O ambiente é ainda marcado pelo tejadilho de opacidade regulável nos comandos sobre o retrovisor.
Habitabilidade em bom plano e mala referencial no segmento
Atrás, fundo plano, habitabilidade em bom plano, melhor do lado do passageiro, uma vez que é possível passar os pés sob o banco, ao contrário do que acontece atrás do condutor, dada a eletrificação dos comandos do lugar ao volante. Quem se senter ao meio é sempre penalizado pela diferente dureza do encosto, devido ao apoio de braços central. Este resulta em complemento muito prático, ao recuperar os dois braços articulados que podem suportar um tablet e ainda com espaço para copos, pequenas garrafas ou latas.
A bagageira marca pontos pela capacidade, 545 litros, a maior do segmento, sendo 50 sob o fundo, num espaço ideal para arrumar os cabos de carregamento. Menos positivo, o desnível entre a moldura do portão e a base da mala, o que sempre dificulta, em especial, as manobras de descarga de bagagens.
Um 100% elétrico familiar interessante, com espaço e uma boa mala, muito equipamento, dinâmica convincente. Confortável também, apesar de uma suspensão que não dispensa a firmeza e contribui para um comportamento sem críticas. Direção e travões estão entre os motivos de reparo. Prestações, consumos e autonomia, anunciada até 603 Km, cumprem com as exigências. Esta versão Iconic custa €58 726
O Scenic é construído sobre a plataforma do Mégane, mas tem maior distância entre eixos (2,785 m) e vias mais largas. A bateria de iões de lítio com 87 kWh de capacidade nesta versão, está colocada entre os eixos. Disponibiliza 220 cv e 300 Nm de binário, o que, traduzido em prestações, vale 7,9 segundos de 0 a 100 e a velocidade máxima de 170 km/h.
Resposta satisfatória ao acelerador; direção e travões merecem reparos
Tração dianteira, o Scenic, suspensão mais firme do que é habitual nos Renault, o que nem penaliza a sensação de comodidade, e jantes de 20 polegadas, o que tem de ser levado em conta, é um carro com resposta satisfatória ao acelerador, sobretudo nos modos Comfort e Sport; curva com à vontade e não se descompõe nas transferências de massas. É mais desembaraçado do que se admitiria olhando ao estilo.
Utilizando o modo ECO, as diferenças são sensíveis, sobretudo em autoestrada, porque a velocidade fica limitada a 115 km/h.
Resta o modo Perso, todos comandados no botão multisense no volante e que, além do peso da direção ajusta o conforto do banco, temperatura interior, côr do ecrã, calibração do motor e resposta dos pedais.
Aspetos menos brilhantes, a direção, muito leve, apesar das regulações em função do modo de condução utilizado, e a travagem demasiado progressiva, com um pedal com tato de tipo esponjoso.
Valores de consumo próximos das promessas
Os consumos, numa condução normal, explorando a regeneração o melhor possível (quatro níveis, que não chegam ao “one pedal”) geríveis nas patilhas do volante, utilizando os modos ECO e Comfort, com percursos de autoestrada nos limites regulamentares, podem baixar dos prometidos 17,4 kWh/100 (fiz 16,7). Mas, andando um nadinha mais à vontade, o computador de bordo indicou 18,5 kWh, num percurso em que usei o modo Sport e fiz por aproveitá-lo ao máximo (o computador de bordo chegou aos 21,5 kWh).
No final, cumpridos 172 km, média geral de 17,5 kWh, portanto excedendo no mínimo o valor anunciado para o ciclo combinado. O computador prometia mais 315 km de autonomia, o que, fazendo a soma, dá um total 487 km com uma carga de bateria. É claramente possível fazer melhor num ritmo pausado e com alguns cuidados. Sobravam 58% da carga.
O Scenic tem um carregador embarcado de 22 kW (AC) e pode receber carga a 150 kW em corrente contínua. Num posto desta potência é capaz de recuperar a bateria dos 15 aos 80% da carga em 37 minutos; se usar uma wallbox, precisará de três horas. Numa tomada normal, serão quase 18 horas…
Muito equipamento e… preço a condizer
Com mais de três dezenas de ajudas à condução (ADAS), 70 comandos por voz e várias funcionalidades ligadas à inteligência artificial o Scenic E-Tech 100% elétrico neste versão Iconic, conta com um significativo pacote de equipamento. A saber, entre o mais importante, faróis full LED automáticos, regulador de velocidade adaptativo, bomba de calor, ar condicionado bizona, volante aquecido, fecho e abertura de portas elétricos, incluindo o portão traseiro, arranque sem chave, câmara traseira, banco do condutor com regulação elétrica, sistema áudio Harman Kardon com nove altifalantes, vidros traseiros escurecidos, jantes de 20 polegadas em liga adiamantadas.
Um 100% elétrico familiar interessante, com espaço e uma boa mala, muito equipamento, dinâmica convincente. Confortável também apesar de uma suspensão que não dispensa a firmeza e contribui para um comportamento sem críticas. Direção e travões estão entre os motivos de reparo. Prestações, consumos e autonomia, anunciada até 625 Km, cumprem com as exigências. Esta versão Iconic custa €58 726.
FICHA TÉCNICA
Renault Scenic E-Tech 220 cv 100% elétrico
Motor: elétrico
Potência: 220 cv
Binário máximo: 300 Nm
Transmissão: tração dianteira, velocidade única
Bateria: iões de lítio, 87 kWh
Autonomia: 603/784 km
Carregamento: AC 150 kW, 37m de 15 a 80%
Consumo: 14,9 kWh/100 km
Aceleração 0-100 km/h: 7,9 s
Velocidade máxima: 170 km/h
Dimensões: c/l/a – 4,606/1,985/1,479 m
Peso: 1 872 kg
Bagageira: 465/1 670 litros
Preço: versão ensaiada, €58 726; desde, €52 650; versão de 170 cv, a partir de €40 690