Frente pujante, traseira impressiva, perfil elegante, proporções equilibradas, um típico SEAT como resumiu Luca de Meo, presidente da marca espanhola ao apresentar o Tarraco. Será tudo isto o grande SUV e novo porta-estandarte do emblema catalão. Ainda sóbrio e distinto, tem tudo para vender e cumprir objetivos. Mas não chega para dizer-se que surpreende.

Surpresa que possa dizer-se isto do grande SUV da SEAT? Talvez não, se tomarmos em linha de conta que este é um automóvel à procura de outra franja de clientes, numa marca de imagem jovem e apelo desportivo. O Tarraco é para o chefe de família instalado, que não dispensa o automóvel de sete lugares, a única opção na oferta portuguesa, disponível a partir de Fevereiro. Daí, aceitar-se com naturalidade menos ousadia e atrevimento estético.

O mais conservador dos SEAT? Joaquim Garcia, um dos responsáveis pelo design, disse-me que lhe parecia mais ajustado dizer “o mais amadurecido”. E quando lhe perguntei se podia ver semelhanças com o Skoda Kodiac (comentava-se entre dentes…), produzido na mesma fábrica, sorriu e disparou: “as sinergias são inevitáveis num grupo como o nosso!” E foram bem aproveitadas, digo eu, porque a personalidade do Tarraco é marcada pelos pormenores do ADN do símbolo automóvel de Espanha. Conseguido!

O Tarraco vai beneficiar do Dynamic Chassis Control (…)“obrigação” num topo de gama que pode ter tração integral e arrancará com motorizações diesel e a gasolina, com potências entre 150 e 190 cv, todas sobrealimentadas, com injeção direta e o inevitável start/stop

O Tarraco tem o ar de família que se lhe exigia. É quase uma resposta natural ao “modernaço” Ateca e ao jovial Arona. Traz a distinção e o estatuto que completa o trio, com traços comuns mas resultados diferentes, o que até nem se afigura muito simples quando se fala do formato dos SUV – altos, “quadradões”, mais imagem de força (às vezes imponência) do que exercício de estética. Ainda assim, o êxito que se sabe.

Porporções equilibradas

Com 4,375 metros de comprimento, 1,658 de altura e 2,790 de distância entre eixos o grande SUV espanhol marca pontos no equilíbrio das proporções e assenta muito bem nas grandes jantes de 20 polegadas que estavam montadas nas unidades mostradas na sua apresentação ao mundo, em Tarragona – Tarraco como se chamava a cidade romana do grande porto do Mediterrâneo, vizinho de Barcelona.

Promessa de exemplo da futura linguagem de design da SEAT, o Tarraco traz uma nova e grande grelha, mais integrada com os faróis, os quais mantêm a forma triangular. Dominam a frente, ainda arredondada a exemplo do capô com dois vincos que lhe amenizam o peso. A traseira, esculpida quanto baste, foi bem conseguida e recorre a uma solução em que uma barra plástica vermelha une e prolonga os grupos óticos. A prazo será também ela iluminada (na versão de topo) para reforçar a ideia de uma assinatura luminosa “costa-to-coast”, para usar a expressão utilizada. O perfil sugere cunha ligeira através de uma cintura bem vincada, alta e alargada subtilmente num remate de elegância.

Por dentro, algum minimalismo que não surpreende na SEAT. Simples, limpo, eficaz num ambiente também ele sóbrio. Chama a atenção o painel de instrumentos digital com vários fundos e o grande ecrã tátil, a solução do tablet flutuante. Uma barra de madeira na base do tablier, pretende dar um toque de requinte e ameniza a grande superfície frontal do tablier. A qualidade percebida convence, mesmo que os materiais não deslumbrem. Uma grande consola “guarda” o que sobra de necessário de um carro alinhado com a política de não ser repositório de comandos. Quase tudo e o menos possível para complicar a utilização. Bem feito!

Sete lugares só como recurso

Em termos de espaço, o que se espera de um SUV destas dimensões e a opção dos sete lugares. Largueza de sobra à frente, onde quem está ao volante se senta, normalmente, em posição elevada; bastante espaço na fila do meio, que pode avançar longitudinalmente, para jogar com a capacidade de carga quando não se utilizam os dois bancos da terceira fila. Aqui, sem surpresa, além de um acesso menos prático, espaço reduzido e a pouca comodidade de que talvez não se queixem duas crianças. Nada de novo para este tipo de solução que continuo a considerar essencialmente um recurso.

O banco do meio rebate na proporção 40x20x40 e é acionado através de alças na base do recosto. Os bancos traseiros são armados por teclas na parede da mala. Tudo simples e prático.

Quanto a bagageira, depende: 700 a quase 2000 litros com o banco central armado ou rebatido; 230 litros com os sete lugares.

Construído sobre a plataforma MQB-A, a mesma dos outros grandes SUV do Grupo Volkswagem e produzido na linha de Wolfsburgo de onde sai o Skoda Kodiac, o Tarraco vai beneficiar do Dynamic Chassis Control, a tecnologia que permite escolher entre vários modos de condução. Era uma “obrigação” num topo de gama que, para já, vai ter motorizações diesel e a gasolina, com potências entre 150 e 190 cv, todas sobrealimentadas, com injeção direta e o inevitável start/stop.

A entrada de gama será assegurada pelo 1.5 TSI de 150 cv e a oferta a gasolina contempla ainda um 2.0 litros de 190 cv. O primeiro é um tração dianteira com caixa manual de seis velocidades, o mais potente recorre à tração integral (sistema 4Drive) e a caixa automática de dupla embraiagem DSG de sete velocidades.

Em matéria de Diesel, o Tarraco contará com um bloco 2.0 TDI, disponível também com potências de 150 e 190 cv. Neste caso, logo na versão menos musculada, é possível contar com a tração integral, associada às mesmas soluções de transmissão manual ou automática. Para o topo da oferta, apenas tração integral e caixa DSG de sete velocidades.

PHEV dentro de dois anos

Matthias Rabe, vice-presidente para a área de Investigação e Desenvolvimento da SEAT, anunciou uma solução PHEV para o Tarraco dentro de dois anos. Ficou por saber qual será o motor a servir de base a um sistema que, disse, garantirá uma potência de 210 cv e 400 Nm de binário. Também não houve informação sobre as baterias a utilizar.

No que respeita a tecnologias de ajuda à condução, o equipamento de série inclui o sistema de manutenção na faixa de rodagem, assistente de travagem na cidade (com reconhecimento de bicicletas e peões). A iluminação será assegurada por faróis Full LED, tecnologia utilizada também nas luzes do habitáculo. Entre as opções, são anunciados o detetor de ângulo morto, reconhecimento de sinais, assistente de tráfego, cruise-control adaptativo, máximos automáticos e travagem de emergência, além do assistente de pré-colisão e do detetor de capotamento e da chamada de emergência.

A tecnologia disponível incluirá ainda um cockpit com instrumentação digital (10,25 polegadas) que garante toda a informação e, claro, um ecrã central, flutuante (8 polegadas), com resposta para várias opções de conetividade.

Os níveis de equipamento serão os conhecidos Style, Xcellence e FR e as pré-vendas iniciam-se em Dezembro.

O Tarraco surge numa altura em que a SEAT faz a sua maior ofensiva de produto, que implica um investimento de 3,3 mil milhões de euros desde 2015 até 2019, e promete um grande impacto nos lucros da companhia com as margens mais elevadas próprias de um topo de gama.

O público vai encarregar-se da resposta às grandes expetativas da marca espanhola que seguiu uma filosofia muito própria no desenvolvimento do Tarraco: “se parece bem, está bem”.

 

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