Pioneira da eletrificação automóvel através dos híbridos, a Toyota só agora chegou aos cem por cento elétricos e, para mim, a surpresa é que não se destaque nos aspetos do consumo e da autonomia com o seu arrojado bZ4X. Uma média de 20,7 kWh e 323,5 km de autonomia em estrada fica aquém das expetativas.
A Toyota anuncia uma autonomia de 442 quilómetros, para a versão que guiei, o topo de gama Lounge com jantes de 20 polegadas – com jantes 18, nas outras versões, ganham-se 60 quilómetros na autonomia! A média anunciada para o mais equipado andará pelos 16,6 kWh. O resultado que consegui, os tais 20,7 kWh, passou por uma viagem de 254 quilómetros, maioritariamente em autoestrada, cumpridos com o cruise-control adaptativo nos 120 km/h, incluiu ainda um trecho de estrada nacional e o resto foi circuito urbano, sempre com duas pessoas a bordo.
Usei o ar condicionado, natural quando a temperatura começa a subir, e na convicção de que a comodidade é imprescindível a bordo de um carro assim. O melhor que consegui, em termos de consumo, andou pelos 18,7 kWh, isto circulando quase sempre nas vias rápidas lisboetas. É claro, não tenho dúvidas de que numa utilização citadina e usando a grau máximo da regeneração (que não evita o uso do travão e se comanda num interruptor na consola), os números seriam mais baixos. Mas um crossover de 4,69 metros (maior do que um RAV4, a fonte de inspiração), espaçoso, vocação familiar é um automóvel para viajar e não apenas para ir ao supermercado, levar os filhos à escola ou fazer a viagem de casa para o emprego. De qualquer forma, lembre-se que as jantes de 20 polegadas não ajudam…
Toyota bZ4X é um elétrico bem feito, dinâmica e prestações ajustadas, confortável e espaçoso, mas com consumo acima das expetativas e autonomia limitada para o seu segmento. Nível de equipamento completo eleva muito a fasquia do preço
A situação da autonomia é amenizada pelo facto e o bZ4X carregar a 150 kW e, daí, em 23 minutos, num posto rápido, levar a carga dos 0 aos 80 por cento do total. Já o consumo, mesmo que estejamos a falar de um crossover com 2 055 kg é outra coisa. Enfim, convém lembrar que este é um automóvel do segmento D e, perante o facto, podemos ter alguma condescendência.
A Toyota, naturalmente, sabe de tudo isto e, pelo que nos foi dado saber, está para breve uma atualização que promete mudar as coisas e contribuir para resultados mais de acordo com as expetativas.
O Toyota bZ4X, que tem uma bateria de 71,4 kWh – a capacidade útil não foi divulgada – integrada numa plataforma dedicada aos elétricos (desenvolvida em conjunto com a Suzuki), motor síncrono de magneto permanente, tração dianteira, 204 cv e 265 Nm de binário instantâneo é um crossover com imagem invulgar de originalidade e força, principalmente devido à frente inspirada num tubarão martelo. Proporções equilibradas, “quebra” ligeiramente no tejadilho para dar ideia de um coupé, reforçada pela inclinação do óculo traseiro, sobre o qual temos a novidade de um defletor prolongado dos extremos.
Interior mais arrojado não escapa a reparos
O atrevimento da Toyota é maior no interior, a fazer lembrar o i-cockpit da Peugeot, com um painel de instrumentos (TFT e 7”) que interfere com o pequeno volante multifunções. Quem conduz com o volante baixo não terá problemas. Menos felizes são os braços plásticos (certamente material reciclado) que suportam este painel, de qualidade que nada tem a ver com quanto nos rodeia: tecido, pele sintética, piano black, crómio e outros plásticos de bom toque. Construção e acabamento apresentam o nível habitual.
Mas há outros pormenores menos conseguidos: a consola flutuante que se une ao ecrã central tátil é muito larga e interfere com as pernas do passageiro. A falta de um porta-luvas também faz confusão, mesmo que haja espaço, com acesso pouco prático, sob a consola, esta com o indispensável apoio de braços e espaços para alguns pequenos objetos.
Já atrás, conforto é coisa que não falta – a Toyota anuncia espaço referencial no segmento para as pernas – e nem o facto de o fundo não ser rigorosamente plano, penaliza a habitabilidade, para quatro, claro, mas admitindo um quinto passageiro desde que não seja para grandes viagens.
A bagageira, no cotejo com a concorrência, fica na metade inferior, com os seus 452 litros, valorizados por um fundo falso onde podem arrumar-se os cabos de carregamento.
Dinâmica convincente e rápido q.b.
Deixando o consumo de lado, o bZ4X é um elétrico bem construído e bem trabalhado, no sentido em que aproveita bem o mais baixo centro de gravidade, fruto do peso e colocação das baterias e uma suspensão de quatro rodas independentes para oferecer um bom comportamento. A rigidez da plataforma dá uma ajuda e contribui para que não haja oscilações sensíveis da carroçaria e permite curvar com à vontade.
Evidentemente, está longe de ser um desportivo, o binário é o suficiente para uma saída rápida em qualquer ultrapassagem (faz 7,5 s de 0 a 100) e é um excelente rolador (a velocidade máxima está limitada a 160 km/h). E nestas condições merece relevo o trabalho feito no sentido de fazer acompanhar o silêncio do motor por uma redução impressiva dos ruídos aerodinâmicos ou de rolamento. Bem conseguido!
A direção tem o peso adequado ao tipo de carro e os travões doseiam bem a função de regeneração e a eficácia.
Quase nada falta em termos de equipamento
Em termos de equipamento, recheio muito rico. A saber e entre muito mais: entrada sem chave, botão de arranque, volante miultifunções em pele faróis full LED com máximos e nivelamento automático, travo eletrónico com auto hold, bancos elétricos aquecidos e com função de memória, banco traseiro aquecido, cruise control adaptativo inteligente e condução autónoma e nível 2, câmaras de 360 graus e auxiliar traseira, detetor de ângulo morto, Toyota Safety Sense, sistema de bomba de calor, ar condicionado bizona, sensores de luz, chuva e estacionamento, aviso de saída de faixa de rodagem, reconhecimento de sinais de trânsito com limitador de velocidade, portão da bagageira elétrico, um ecrã multimédia maior (12,3”), reconhecimento de voz, integração de smatphones sem fios, carregador wireless, sistema de som JBL, vidros escurecidos, spoiler traseiro, tejadilho panorâmico, rails no tejadilho, pinças de travões em azul, jantes de 20 polegadas maquinadas.
O bZ4X tem dez anos de garantia e igual período e tempo ou um milhão de quilómetros para a bateria. Esta, com bomba de calor e a primeira da marca refrigerada a água, conta com monitorização múltipla da voltagem, corrente e temperatura de cada célula. Tudo isso leva a Toyota a admitir uma redução marginal no desempenho da bateria –10% em dez anos ou 240 000 quilómetros.
Apenas uma nota, para recordar: a designação algo estrambólica passa pela referência a uma nova submarca Toyota, bZ (beyound zero – além do zero, a intenção de superar o problema das emissões na defesa do ambiente); o X, identifica o estilo, crossover; enfim o 4 será o lugar do modelo na hierarquia da família.
Toyota bZ4X é um elétrico bem feito, dinâmica e prestações ajustadas, confortável e espaçoso, mas com consumo acima das expetativas e autonomia limitada para o seu segmento. Nível de equipamento completo eleva muito a fasquia do preço.
FICHA TÉCNICA
Toyota bZX4 71,4 kWh Lounge
Motor: síncrono, magneto permanente
Potência: 204 cv
Binário: 265 Nm
Bateria: iões de litío, 71,4 kWh (capacidade útil não divulgada)
Carregamento: wallbox de 11 kW e posto público, 6,5 h; rápido a 150 kW, 23 minutos
Transmissão: dianteira, velocidade única
Aceleração 0-100 km/h: 7,5
Velocidade máxima: 160 km/h
Consumo: 16,6 kWh
Autonomia: 442 km (WLTP)
Peso: 2 045 kg
Dimensões: c/l/a – 4,69/1,86/1,60 m
Bagageira: 452 litros
Preço: 61 590€, versão Lounge; desde 52 990€ (sem IVA 50 074€ e 43 082€, respetivamente)