Uma lição de bem fazer o Toyota Camry que agora chega a Portugal. É um automóvel grande em tudo. Nas dimensões, no espaço, na qualidade, no equipamento. Até na dinâmica e no motor 2.5, híbrido claro está, que é mesmo notável nos consumos. O preço arranca à volta dos 44 mil euros, o que para um automóvel destes tem de ser visto como convidativo.
O facto de ser híbrido – como toda a gama da marca em Portugal – obriga-me a aceitar que, afinal, o Camry é uma limusina que pode ter história no nosso mercado. Sucesso continuado nos EUA, líder também nos países do Golfo e na Ásia, apesar da história de oito gerações e 19 milhões de unidades vendidas deixei-me sempre levar pela ideia de que o topo de gama da Toyota tinha pouco a ver connosco. Até porque a este nível, afinal, no grupo nipónico até existe o Lexus… e outra força de imagem, importante a este nível da oferta e sobretudo por cá.
Antes de falar do estilo e da imagem, tenho de dizer que mudei de ideias muito rapidamente quando comecei a minha experiência ao volante do Camry. Ainda nem tinha vivido bem o ambiente este Toyota e já me surpreendia com a agilidade notável daqueles quase cinco metros de automóvel em caminhos que não são os dele, estreitos e sinuosos, piso irregular. O “peso e a medida” da direção, o acerto da suspensão, obviamente trabalhada ao gosto europeu, a forma como este familiar ziguezagueava, bem depressinha, recorrendo, é certo, muitas vezes às ajudas eletrónicos que passam despercebidas além da luz de aviso, a eficácia da travagem , mesmo que de tipo progressivo, foi surpresa imensa. Belo automóvel!
O Camry é um verdadeiro topo de gama valorizado pela evoluída motorização híbrida que garante consumos surpreendentes a um automóvel com qualidade à vista, cómodo, dinâmica eficaz, agradável de conduzir, bem equipado e vendido por preços a ter em conta para o seu posicionamento
O Camry tem uma nova plataforma (GA-K), suspensões independentes à frente e de triângulos duplos atrás e uma considerável distância entre eixos (2,825 m). E como também beneficia de um centro de gravidade mais baixo oferece um compromisso muito bem conseguido.
Bom trabalho na caixa CVT
Outra surpresa, agradável, foi o facto da caixa CVT, que até usei então no modo Sport, ter resposta bem diferente. A Toyota minimizou de forma notável a sensação de arrasto e o ruído de funcionamento próprio destas transmissões, que não dispensa nem podem dissociar-se do sucesso dos seus híbridos. Caixa que, neste caso, sem patilhas no volante, pode ter seis velocidades virtuais na pequena alavanca do comando que pode funcionar como selector sequencial.
Ninguém, ou muito poucos, penso eu, comprará um Camry para este tipo de utilização, mesmo que a potência seja considerável, 218 cv, o binário simpático, 221 Nm e as prestações interessantes naquela linha de as entender à luz do princípio de que um desportivo é outra coisa. Daí, 8,3 segundos de 0 a 100 e 180 km/h em velocidade de ponta. Nada que impressione.
O Camry, que tem três modos de condução, Eco, Normal e Sport, utilizáveis quando está acionado o modo EV (Eletric Vehicle) acaba por ser fadado para quem quer tirar partido da economia também proporcionada por um automóvel ambientalmente mais correcto. E sob esse ponto de vista, aquilo que me foi dado constatar tem de marcar pontos. Em autoestrada, cruise-control adaptativo nos 120 regulamentares, o computador de bordo ficou-se pelos 5,8 litros aos 100, com quatro adultos como passageiros; em ritmo de passeio de fim de semana, ainda com quatro passageiros, até fez menos: 5,6 ! Só quando se lhe pediu qee mostrasse quanto vale chegou aos 6,8 e estou convencido de que até podia ir mais acima. De qualquer forma, um quatro cilindros a gasolina com 2.5 litros de capacidade… muito agradável de guiar, cómodo e rolador bem silencioso.
O sistema híbrido (THSIII) continua a ser apurado e neste caso as melhorias na eficiência de conversão da unidade de controlo de potência e a eficiência de transmissão do eixo híbrido e do motor reduzem as perdas de energia em cerca de 20 por cento. Mas há mais: foi adotada uma bateria de hidretos de níquel mais evoluída e mais leve que passou para baixo o do banco traseiro, o que liberta espaço para a mala – 524 litros é um malão! – além de ter permitido baixar o cento de gravidade.
Robustez, sobriedade e um toque original
Se a máquina convence, a imagem de robustez construída sobre a sobriedade do perfil elegante e a traseira esculpida com gosto, contrasta com aqueles toques modernistas que os japoneses não dispensam, no caso remetidos para a originalidade da frente dominada por uma verdadeira barra de lâminas, entrada de ar sem igual, sob a tradicional barra escura em “V” que enquadra o emblema e nasce nas óticas, um traço de personalidade muito próprio. As jantes de 18 polegadas são o suficiente para o “colar” à estrada com naturalidade e sugerir o equilíbrio que a condução depois confirma.
O interior é um exercício à base do aproveitamento de quanto a Toyota tem de melhor, no design – muito interessante a solução para fazer a ligação entre o tablier e a consola – e nos materiais, para se aproximar sem receio dos Premium. E mais uma vez juntando à invasão do digital um bom trabalho na ergonomia – melhor do que o grafismo do infoentretenimento, banalidade que um mistério vindo de onde vem. A construção anda pelo irrepreensível e as decorações da Limousine que guiei, o topo da oferta, propõem moldutras num original e vistoso “olho de tigre” acetinado. Diferente!
Os bancos foram redesenhados, são envolvente à frente, e era difícil serem melhores atrás, onde não falta espaço e podem mesmo viajar três pessoas. No caso da Limousine, um desperdício porque se perde a consola agregada ao apoio de braços central que permite regular a inclinação dos bancos, acionar a persiana do óculo traseiro, regular a temperatura do sistema trizona e até comandar o sistema áudio, um JBL com nove colunas…
Quase nada falta
O Camry é um verdadeiro topo de gama valorizado pela evoluída motorização híbrida que garante consumos surpreendentes a um automóvel com qualidade à vista, cómodo, dinâmica eficaz, agradável de conduzir, bem equipado e vendido por preços a ter em conta para o seu posicionamento
O equipamento da Limousine, que se faz pagar bem, quase nada dispensa, designadamente: smart-entry, navegação e ecrã de oito polegadas, avisos de pré-colisão e saída de faixa, reconhecimento de sinais, detetor de ângulo morto, head-up-display carregador sem fios, bancos em pele elétricos à fente e reclináveis atrás, faróis e óticas traseiras em LED, sensores de estacionamento inteligentes e câmara de marcha-atrás, cruise-control adaptativo, volante regulável eletricamente, consola de comando atrás, bagageira com sensor, ar condicionado trizona, sistema áudio JBL com nove colunas, jantes em liga de 18 polegadas
A Toyota pratica garantia de sete anos e, no caso da bateria, até dez anos.
Como funciona o sistema híbrido do Toyota Camry
FICHA TÉCNICA
Motor: 2487 cc, injeção direta e indireta, start/stop
Potência: 218 cv
Binário máximo: 221 Nm/3600-5200 rpm
Motor elétrico: síncrono de magnete permanente
Potência: 88 cv
Binário: 200 Nm
Bateria: hidretos metálicos de níquel com 34 módulos (6 Ah)
Transmissão: Caixa de variação contínua com seis velocidades virtuais, comandadas sequencialmente
Aceleração 0-100: 8,3 segundos
Velocidade máxima: 180 km/h
Consumos WLTP: média – 5,6 litros/100
Emissões CO2 WLTP: 126 g/km
Bagageira: 524 litros
Preço: 49 690 euros, versão ensaiada; desde, 43 990 euros