Notável! Parece-me o adjetivo mais ajustado para classificar o Museu Mercedes-Benz, em Estugarda, a cidade da marca da estrela das três pontas. E notável em tudo. Desde logo, no acervo que deve ser aquilo por que vale um museu e no caso a justificar mais de oito milhões de visitantes, desde a inauguração em 2006. Também no “embrulho”, o brilhante edifício que o coloca em plano assinalável face a outras legendas do mundo expositivo tornadas emblemáticas mais pela arquitetura do que pela riqueza do conteúdo.

Arquitetura inovadora e premiada, uma mostra rica, o Museu Mercedes é uma referência na cidade de Estugarda

Marcado pelo alumínio e pelo vidro, dois materiais tão caros à indústria automóvel que o revestem, não por acaso, e como que dispostos em quatro camadas sobrepostas, formas quase ovalizadas projetadas numa espécie de cilindro rombo, nove andares, 47,5 metros de altura e 16 500 metros quadrados, o museu é o exemplo da estrutura ideal para exibir uma história bem contada dos mais antigos construtores de automóveis – 130 anos sobre rodas. E, para isso, o interior, em torno de uma nave central com os elevadores futuristas que nos levam ao topo, assenta numa grande espiral (a lembrar o célebre Guggenheim de Nova Iorque), desenvolvimento da ideia da dupla hélice que carrega o ADN do genoma humano. E a partir dela, numa viagem de cima para baixo, 12 grandes salas, ligadas por rampas, sem paredes, de 80 metros (exceto no primeiro e no último pisos), as quais nos revelam verdadeiras preciosidades “arrumadas” por dois temas, Legendas e Coleções. Um deleite para a vista através de 160 automóveis e 1500 (!) pontos de informação, incluindo as fotografias de uma longa vida, outros tempos que não escondem as horas dramáticas da Alemanha Nazi. Nas Legendas, não faltam os grandes ecrãs, com imagens cronológicas; nas Coleções, um micro-cinema.

No final, ao estilo do grande clímax, uma imensa parabólica e o desfile das muitas máquinas, muitas mesmo, que fazem a história dos êxitos desportivos da Mercedes, é claro que com grande destaque para os fantásticos “Flechas de Prata”, tão impressionantes que os eficazes Fórmula 1 parecem banalidade do nosso tempo… Até no espaço contíguo, quando a parabólica se transforma num muro e deparamos com o W 125 de 1938 que ainda hoje detém o recorde de velocidade numa estrada pública: 432,7 km/h. O filme daquele 28 de Janeiro, em que Rudodolf Caracciola guiou para a história o W125, na autoestrada entre Frankfurt e Darmstadt, pode ver-se num pequeno monitor!

ESTE MUSEU É O EXEMPLO DA ESTRUTURA IDEAL PARA EXIBIR UMA HISTÓRIA BEM CONTADA DO MAIS ANTIGO CONSTRUTOR DE AUTOMÓVEIS – 130 ANOS SOBRE RODAS

Os pormenores são muitos, designadamente o cuidado de ser revelado quando se está perante uma réplica. Como, entre raridades que seria difícil preservar e cuja reconstituição impressiona pelo detalhe, ficamos a saber que, ao fim de dois anos de pesquisa, a Mercedes optou pela réplica e deixou de procurar o autocarro que transportou a seleção alemã de futebol vencedora do Mundial de 1974, realizado ainda na Alemanha Ocidental, a RFA dos tempos da Cortina de Ferro, mesmo ali ao lado.


Foram precisos três anos, com equipas a trabalhar 16 horas por dia, seis dias por semana, para erguer esta obra, com diversos prémios, que marca quem a visita, desenhada por holandeses (UNStudio van Berkel & Bos) e cujo conceito foi desenvolvido pela HG Merz em cooperação estreita com a então DaimlerChrysler. O conjunto integra um restaurante, um auditório ao ar livre e uma loja (com outro tipo de preciosidades), no túnel que nos leva do passado ao presente, o grande show-room da Mercedes em Estugarda, onde se encontram os representantes da gama atual.
A obra exigiu 850 pilares de ferro, enterrados seis metros, 12 mil toneladas de aço, 43 mil metros cúbicos de betão e, por exemplo, 1800 painéis de vidro. Alguns dos números que impressionam para a concretização de um museu que, para quem quiser ver tudo, sob 12 mil pontos de luz, representa uma caminhada de cinco quilómetros! Se estiver perto de Estugarda, não perca a oportunidade, vale a pena. A entrada custa 10 euros.

O vídeo que aqui fica dá uma ideia do muito mais que há para contar sobre a curiosa e rica história da Mercedes e alguns dos mais extraordinários automóveis que projetaram a estrela de três pontas para o galarim. São temas a tratar nos próximos capítulosjustificados por um museu daqueles que não se esquece!

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