Traído pela singularidade do nosso sistema de portagens, o Renault Kadjar chegou atrasado a Portugal. Foi pena pois, como tem vindo a registar-se, é um SUV com qualidades. A motorização a gasolina 1.3 TCe de 140 cv chega para prová-lo à saciedade, tanto em dinâmica como na versatilidade. Convence!

Depressinha e com suavidade. Uma surpresa este Kadjar pelo equilíbrio entre o conforto e a eficácia e a capacidade de suportar andamentos que outros, mais ligeiros na aparência e até com o mesmo emblema, estão longe de igualar. Assinalável!

Primeira tentação é dizer que a direção é demasiado assistida, leve, mas na prática a resposta transporta-nos para um nível de agradabilidade de condução elevado. Bem comportado, “atento” às ordens, ágil, o SUV da Renault revela nos percursos mais exigentes um comportamento assertivo quando se lhe pedem andamentos menos de acordo do que aqueles, em princípio, exigidos por condutor normal de um automóvel do género. E ele responde estoicamente. Muito bem!

SUV que convence este Kadjar, o qual, na versão 1.3 TCe de 140 cv empresta as “virtudes” da gasolina a um automóvel cómodo e espaçoso, qualidade assinalável, bom estradista, dinâmica apurada e preços concorrenciais

Inclina-se um nadinha, claro, mas não “enrola” e uma vez acamado segue o seu caminho com rigor, tanto que, às vezes, parece até pedir mais acelerador, ao estilo de desafio, “venha mais que sou capaz” – e é! Nos encadeados mais ziguezaguentes nunca se descompõe e nem de se dá pela intervenção do ESP quando pisamos o risco. Prova disso, quem vai não lado não de queixa dos balanços. A barra de torção original – em Portugal chegou a ter a suspensão traseira mais evoluída do 4×4 – cumpre bem o seu papel.

A travagem mordaz ajuda muito neste andamento, pela resposta na prática e na transmissão de confiança. E tudo isto se passa em ambiente de comodidade que respeita a tradição, bom exemplo do conforto francês e daquela capacidade superior de absorver as irregularidades do piso quando elas são sensíveis.

Motor “a meias” com Mercedes

O motor 1.3 TCe, desenvolvido em parceria com a Daimler, oferece o bastante para um familiar com os seus 140 cv. Não é de explosões, mas consegue as subidas de regime que facilitam a utilização e simplificam, por exemplo, as manobras de ultrapassagem. Parece até mais brilhante nestas situações do que no aproveitamento do binário (240 Nm às 1600 rpm) a baixa rotação. A caixa de velocidades manual de seis velocidades tem um escalonamento normal e as passagens fazem-se com a suavidade e precisão habituais. Equilibrado!

No que respeita a consumos, os valores que consegui foram, no mínimo honestos. Em ritmo de passeio com quatro passageiros a bordo, o computador de bordo registou 6,7 aos 100. A média final, para 200 quilómetros com um pouco de tudo e alguns percursos mais rápidos ficou-se pelos 7,3. A leitura dos números do modo de condução ECO deu um aproveitamento de 50 por cento e 35 quilómetros sem consumo…

Primo do referencial Qashqai, com o qual partilha a plataforma, o Kadjar aproveita e procura apurar quanto herda de bom do modelo japonês da Aliança. E com 20 centímetros de distância ao solo, abre algumas portas fora do alcatrão.

Toque francês, qualidade do costume

Em termos de estilo e imagem – desenvolvimento da base mais tradicional dos SUV resolvida com proporções equilibradas em 4,44 metros de comprimento – tudo se resume a uma questão de gosto. O toque francês é evidente e meia dúzia de pormenores definem uma linha de elegância, como, por exemplo, o “corte” da superfície vidrada, vincada por moldura cromada a marcaro perfil de cintura elevada do Kadjar. Interessante, a par com o músculo esculpido, nos ombros e à frente – bem doseado para favorecer a ideia e robustez!

O interior tem a qualidade típica da Renault, combinando de forma bem sucedida os plásticos dúcteis e almofadados, nas zonas que saltam à vista, como o topo do tablier, onde também há pele sintética, com outros plásticos mais frios e rígidos. Não faltam os elementos a imitar os metalizados em cinza para avivar o ambiente. Os bancos combinam pele acabada a pesponto e  tecido, o forro das portas repete a receita com  sobriedade. Esta, aliás, é a nota dominante no interior pautado pelo negro. A posição ao volante, de boas dimensões e pega, é simpática e não faltam regulações para encontrar o conforto. Os bancos têm o apoio lateral necessário e recebem muito bem o tronco.

A instrumentação é simplificada, numa linha de família, velocímetro digital encaixado no dominante contra-rotações, termómetro de um lado e indicador do combustível de outro, funções do computador de bordo remetidas para o ecrã central tátil de sete polegadas, com o conhecido sistema R-Link, sempre a pedir alguma habituação à lógica utilizada. Sobram os botões do modo de condução ECO, corte do start/stop e ignição, além dos interruptores do cruise-control e limitador na consola, travão de parque elétrico e o volante multifunções simplificado. O ar condicionado, automático, está sob o ecrã central, na linha de consola, com duas portas USB e ficha de 12V, que agora tem agregado um apoio de braços deslizável com pequena caixa para arrumos. Não incomoda!

Habitabilidade e bagageira a contento

Quanto a espaço dispensa críticas na dianteira e vai além da generosidade atrás, seja no que diz respeito às pernas como na altura. O túnel central não é muito alto, mas, até por haver um apoio de braços central, quem for ao meio nunca irá muito confortável. Não faltam as duas saídas de ar condicionado e outras tantas portas USB. As bolsas nas costas dos bancos dianteiros remedeiam o pouco espaço nas portas.

A bagageira apresenta valores ao nível de melhor, 472/1478 litros, com um fundo falso – duas tampas. O banco traseiro rebate na proporção 60×40 e é acionável também nas paredes da mala. O plano de carga, como sucede na maioria dos SUV é ligeiramente elevado mas pode alinhar com o fundo, o que sempre facilita as operações de carregamento.

A versão Intens inclui cartão mãos-livres, máximos automáticos, luzes auxiliares, sensores de luz e chuva, alerta de transposição de faixa, estacionamento assistido, reconhecimento de sinais, sistema R-Link compatível com Android e IOS, rádio, Bluetooth e navegação, jantes com 19 polegadas, além de vidros traseiros escurecidos, ar condicionado automático, com saídas para trás, e travão de parque elétrico. A versão Intens ensaiada acrescentava o Pack Safety (alerta de ângulo morto, ajuda ao estacionamento lateral, travagem de emergência activa), 680 euros; câmara de marcha-atrás, 490 euros; pintura metalizada, 530 euros e pneu sobresselente de pequenas dimensões, 100 euros. Mais 1800 euros que comportam indiscutíveis vantagens.

Como nem tudo é perfeito, há que ter Via Verde para beneficiar do Classe 1 nas portagens. Fora isso, um SUV que convence este Kadjar, o qual na versão 1.3 TCe de 140 cv empresta as “virtudes” da gasolina a um automóvel cómodo e espaçoso, qualidade assinalável, bom estradista, dinâmica apurada e preços concorrenciais.

Kadjar em tempos de evasão, visto nas imagens da Renault

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FICHA TÉCNICA

Renault Kadjar 1.3 TCe 140 cv Intens

Motor: 1332 cc, quatro cilindros, turbo, gasolina, injeção direta, filtro de partículas, start/stop

Potência: 140 cv/5000 rpm

Binário máximo: 240 Nm/1600 rpm

Transmissão: caixa manual de seis velocidades

Aceleração 0-100: 10,4 segundos

Velocidade máxima: 203 km/h

Consumos (WLTP): ciclo misto – 6,4/6,7

Emissões CO2 (WLTP): 144/151 g/km

Bagageira: 472/1478 litros

Preço:  31 683 euros, versão ensaiada; 29 883 euros, Intens de série; desde, 27 763 (versão Zen)