Vale a pena comprar um Nissan Qashqai a gasolina? Experimentei um 1.2 DIG-T  N-Connecta  com 115 cv. O ambiente conquista, o equipamento é rico e a comodidade convence. A dinâmica inspira confiança, o motor tem limitações, e mais notórias com o carro carregado. Deve ser o suficiente para a maioria, mas é uma questão de fazer contas… e pensar no futuro.

O Nissan Qashqai é um fenómeno de popularidade e sucesso – em Portugal e na Europa. Líder de mercado até resiste ao risco de vulgaridade de tamanha divulgação, mantendo-se na crista da onda e continuando a ser desejado entre a clientela dos crossover. Ganhou mesmo invejável reputação, confirmada pelas análises de mercado. Notável!

As vendas, na tradição nacional, são dominadas pelas motorizações diesel, mas a Nissan conta com um 1.2 turbo a gasolina, opção plausível para aqueles que querem um carro a longo prazo e começam a temer pelo futuro do gasóleo e mesmo para quem faz contas e sabe quantos quilómetros precisa de percorrer para rentabilizar a compra.

E o que nos dá um Qashqai 1.2 DIG-T de 112 cv, além da diferença de preço para o diesel (menos 2 900 ou 9 300 euros, consoante se trate das versões de 110 ou 130 cv)?

Para uma boa parte dos que o escolhem, assegura, antes de mais, o prazer e a satisfação da imagem, a qual até continua a ser o fator decisivo no ato de compra. Depois garante um crossover com motor honesto, “redondinho”, mas com as limitações próprias quando nos lembramos de ser preciso pôr em marcha cerca de 1850 quilos, além dos passageiros e da carga.

Na cidade, onde tudo se passa a ritmos menos exigentes, ressalta a sua vocação urbana, desembaraça-se com naturalidade, é verdade, e na autoestrada revela-se bom rolador, naqueles ritmos normais. Em qualquer dos casos, no entanto, queixa-se quando a estrada empina e mais ainda se houver quatro pessoas a bordo. Então, paciência ou recurso à caixa de velocidades para evitar o “amolecimento” e, mesmo assim, não se espere muita prontidão na resposta, apesar de ser razoável o valor do binário (1900 Nm disponíveis só às 2000 rpm).

O lado mais impressivo é o comportamento em curva, uma capacidade que inspira confiança e, além do mais, garante eficácia com um nível de conforto considerável

Quanto a consumos entre a cidade e a estrada, registei no computador de a média de 7 litros aos 100. Já na autoestrada, cruise-control afinado para os limites, a média subiu para 8 litros numa viagem de 250 quilómetros. Nada que surpreenda e longe do prometido.

No que respeita a insonorização, um dos aspetos melhorados no novo Qashqai, ainda não é referencial.

“Convidando” este Qashqai para aquilo que ele não foi feito – e as prestações anunciadas são esclarecedoras: 10,6 s de 0 a 100 e 185 km/h em velocidade de ponta –, percebe-se haver “outro” carro quando o conta-rotações sobe para as 4500/5000 rpm, resposta mais pronta, alguma vivacidade. Ainda assim, nada que surpreenda, apesar de os números do velocímetro chegarem acima do que realmente parece, num percurso exigente em termos de condução. É o lado mais impressivo, o comportamento em curva, uma capacidade que inspira confiança e, além do mais, garante eficácia com um nível de conforto considerável, também por ser assinalável a resistência às transferências de massas e ao balanceamento da carroçaria. Como nem tudo são rosas, talvez por isso quem viaja atrás possa sentir que a suspensão (eixo de torção com molas) revela alguma secura. Nesta situação, o consumo dispara para valores muito altos. Mas o Qashqai não é para estas habilidades!

Importa dizer que estamos muito bem sentados ao volante e reconhecer a eficácia de uma direção daquelas a que nos “afeiçoamos” facilmente; a caixa de velocidades é muito agradável de manusear e os travões, de temperamento progressivo, como é natural, cumprem e resistem bem aos exageros.

Aspeto importante e que nos conquista na versão N-Connecta que guiámos é o ambiente a bordo, um nível de qualidade percebida em patamar elevado. A inteligente combinação dos plásticos, bons e dúcteis, com o tecido nas portas e no apoio de braços central, e com a pele sintética, pespontada, na consola remete-nos para uma realidade acima da média. Os bancos em tecido, com bom apoio nos lugares da frente, também eles com acabamento a pesponto, compõem a imagem que marca e convence. Muito bem!

Quanto a habitabilidade, o suficiente para se poder falar em conforto para quatro pessoas: largura generosa à frente, bom espaço atrás, tanto em altura como para as pernas. No que diz respeito a arrumação no interior, muito espaços, ainda que pequenos, uma excelente caixa sob o apoio de braços (com entradas de 12 v, USB de AUX) e um bom porta luvas, que inclui prática divisória para coisas pequenas.

A bagageira, com um pequeno fundo falso tem 401 litros de capacidade com pneu suplente (e dá jeito num automóvel deste estilo) e vai até aos 1598 com os bancos rebatidos (60/40), operação fácil e que garante um fundo quase plano. As duas placas que cobrem o fundo falso permitem variar as soluções de transporte de carga.

A versão que guiei completava o excelente equipamento de série que já inclui, por exemplo, controlo de chassis (trajetória e carroçaria), travão de mão elétrico, sensores de luz e chuva, faróis LED diurnos, ar condicionado automático, retrovisores rebatíveis,  com ecrã tátil de 7 polegadas, navegação, sistema de câmaras de 360 graus, botão start/stop, chave inteligente, e jantes de 18 polegadas.

 

FICHA TÉCNICA

NISSAN QASHQAI 1.2 DIG-T N-CONNECTA

Motor: 1197 cc, turbo, injeção direta

Potência: 115 cv/4500 rpm

Binário máximo: 190 Nm/2000 rpm

Transmissão: caixa manual de 6 velocidades

Aceleração 0-100: 10,6 s

Velocidade máxima: 185 km/h

Consumos: média –  5,6 litros/100: estrada – 5,1; urbano – 6,6

Emissões CO2: 129 g/km

Bagageira: 401 litros (com roda suplente)/ 1598 litros (bancos rebatidos)

Preço: desde 28 950 euros