Depois de tanta promessa e de uma aposta forte, a Volkswagen não podia falhar – e não falhou com o ID.3. O primeiro cem por cento elétrico da marca até parece capaz de convencer os céticos da solução. Bem pensado até ao pormenor, bem feito até o detalhe. Uma grande e bela ideia para um automóvel inovador. Tem autonomia razoável (300/420 km), 204 cv de potência, espaço referencial, dinâmica de bom nível. Custa pouco mais de 44 mil euros e só tem um defeito: continua a não ser para todos, pelas razões conhecidas.

Imagem original, moderna, sem exageros futuristas, resolvendo a questão da falta da grelha apenas e só com design (desde o Carocha que há essa experiência…), parece modelo precursor de um caminho que terá seguidores no estilo. Naturalmente na VW, mas também na concorrência, com as naturais diferenças. Interessante o tratamento da grande custódia do pilar C, a grande projeção do defletor no tejadilho, a solução do óculo traseiro associado pela cor à ideia de outra dimensão que leva a um portão sem igual. E até a bagageira surpreende com os seus 385 litros de capacidade, quando se sabe que o motor está associado ao eixo traseiro. Pena, apenas, o plano de acesso ser relativamente alto e o desnível entre a moldura do portão e o fundo.

O interior é a aplicação de um minimalismo inteligente. Parece difícil fazer tão simples e tão prático. Curiosa a associação do controlo do sentido de marcha – só há uma velocidade, como é normal – ao pequeno painel de instrumentos suspenso atrás do volante. O travão de parque está no extremo deste apêndice e até pode acionar-se com o polegar. Ergonomia exemplar, funcionamento muito simples e intuitivo – para a frente e para trás, tal como sentido pretendido. O botão de arranque está no lugar habitual da chave e o carro só se desliga quando deixamos o banco do condutor.

O VW ID.3 é um automóvel elétrico que corresponde às expetativas e traz muito de novo a uma oferta olhada com particular atenção. Espaço a pedir meças, dinâmica considerável, autonomia à altura de uma bateria de 58 kwh e a costumada qualidade da marca alemã

O ecrã central, também ele é flutuante e domina um tablier construído em dois planos. Inclui navegação atualizável e a informação própria de um automóvel elétrico. A utilização é simples, menos práticas, pelo menos numa primeira fase, as teclas tácteis. O ar condicionado está associado ao conjunto, num segundo grupo de comandos na base do ecrã. O resto é a conetividade habitual.

A construção dispensa reparos, já os materiais parecem uns furos abaixo do que encontramos no Golf. De todo o modo, a combinação de plásticos é bem conseguida.

Plataforma MEB para fazer a diferença

Mas tudo começa na nova plataforma MEB, desenvolvida especificamente para os elétricos do Grupo. É uma realização notável e permite aquilo que serve de bandeira ao ID.3: nas dimensões aproximadas a um Golf  (4,26 m, -2 cm) oferece-se a habitabilidade de um Passat. Grande desafogo à frente, marcante o espaço na retaguarda, para as pernas e em altura, e também a facilidade de acesso. É o que a VW chama, e bem, conceito Open Space.

Tudo isto é possível por a bateria plana de alta tensão estar instalada no piso do carro e os grupos auxiliares, como o compressor de ar condicionado ou a caixa de direção, terem sido integrados na dianteira. Naturalmente, baixa o centro de gravidade e sai beneficiada a dinâmica mas também se consegue uma otimização da distribuição do peso entre os eixos.

E como funciona? Bem, explica a VW, o módulo eletrónico de potência controla o fluxo de energia de alta tensão entre o motor síncrono e a bateria e, nesse processo, o sistema converte a corrente contínua (DC) armazenada na bateria em corrente alterna (AC) para o motor de tração. O sistema elétrico de 12 V é fornecido simultaneamente com baixa tensão por um alternador DC/DC. A potência é transmitida do motor para o eixo traseiro através de uma caixa de velocidade única. O motor, o módulo eletrónico de potência e controlo e a caixa de velocidades formam uma unidade compacta.

Agradável de viver e de conduzir

Em que resulta tudo isto? Pois bem, num automóvel interessante de viver, agradável de guiar e direi mesmo divertido. Este é um daqueles elétricos em que o binário instantâneo nos faz sorrir. A facilidade com que o ID.3 se solta corresponde às expetativas de um automóvel com 204 cv e capaz de fazer 7,3 segundos de 0 a 100. Anda mesmo e depressa, ainda que não passe dos 160 km/h (limitados, claro). Encosta-se o pé ao acelerador, que até tem o símbolo do play, e ele toca uma música bem mexida. Naquele ambiente de silêncio próprio dos elétricos, com uma comodidade muito alemã, feita de uma suspensão firme, às vezes, também é verdade, menos simpática nos maus pisos. As jantes 19 polegadas podem não ajudar muito.

A posição de condução é boa e não faltam regulações, talvez pudesse haver um nadinha mais de apoio nos bancos, mas a filosofia, apesar da potência, do grande despacho e do comportamento em curva é a do elétrico que já pode dar-se ares de estradista com aquele intervalo de autonomia entre os 300 e os 420 quilómetros. Nem vale a pena especular sobre isso. O acelerador dita a autonomia, o reforço na regeneração pela travagem pode dar uma ajuda no ganho de alguns quilómetros, como as descidas e uma condução criteriosa, mas…

Sobre o comportamento em curva, vou acrescentar que guiei o ID.3 em condições de aderência penalizadas pelo estado do tempo. Centro de gravidade baixo, permite algum atrevimento mas a tentação de comparação com o Golf deixa as contas furadas, pois este tem tudo atrás. Ainda assim deu para registar muita agilidade e respirar segurança, pois além do ESP, que deu conta de si, não faltam dispositivos que funcionam prontamente sem que o ID.3 se descomponha quando se pisa o risco. Muito bem. E, a propósito de agilidade, uma nota para a grande capacidade de brecagem!

Muito equipamento e garantia de oito anos

A versão que guiei foi um First Plus, oferta intermédia que contempla luzes matrix, piscas dinâmicos, ar condicionado bizona, voice control, luz ambiente com 30 cores, bancos dianteiros e volante multifunções aquecidos, navegação com streaming e internet, sensor de chuva, câmara traseira, cruise control adaptativo, retrovisores exteriores aquecidos e rebatíveis eletricamente, acesso mãos livres, vidros escurecidos, pedaleira em alumínio com os símbolos play e pause, pilar traseiro em cinzento prata, jantes de 19 polegadas.

O VW ID.3 é um automóvel elétrico que corresponde às expetativas e traz muito de novo a uma oferta olhada com particular atenção. Espaço a pedir meças, dinâmica considerável, autonomia à altura de uma bateria de 58 kwh e a costumada qualidade da marca.

Quanto ao carregamento, precisa de cerca de 25 horas para atingir o pleno numa tomada doméstica de 2,3 kWh ou 18 horas e meia se dispuser de 3,7 kWh; com wallbox, os 100 por cento atingem-se em 8 horas e 45, com 7,4 kwh, e 5 horas e 52s com 11 kWh; num carregador de 50 kwh os habituais 80% da carga levam 57 minutos a alcançar e 30 minutos se a potência for de 100 kWh.

A Volkswagem dá uma garantia de oito anos ou 160 mil quilómetros. Está previsto o lançamento de mais duas baterias: 45 kwh, com autonomia anunciada de 330 km; e 77 Kwh, capaz de fazer até 550 km.

CARACTERISTICAS TÉCNICAS

Volkswagen ID.3 1st Plus

Motor: elétrico, síncrono integrado no eixo traseiro

Potência: 204 cv

Binário: 310 Nm

Bateria: 58 kWh (216 células)

Transmisão: traseira, velocidade única

Aceleração 0-100: 7,3 segundos

Velocidade máxima: 160 km/h

Consumo: 13,8 kwh

Emissões CO2:  0 g/km

Autonomia: 300/420 km

Peso: 1719 kg

Dimensões: (C/L/A) – 4261/1809/1552 mm

Tempos de carga: 25 horas em tomada doméstica; wallbox, 8,45h (7,4 kWh), 5,52h ((11 kWh); posto rápido a 80%, 57m (50 kwh), 30m (100 kwh)

Preço: 43 658€, versão ensaiada; First, desde

38 017€