Em 2015, Donald Trump e a mulher Melania acompanharam Ed Welburn, um dos vice-presidentes da GM, na apresentação, no Salão de Nova Iorque, do emblemático Cadillac Escalade, V8 de 6.2 litros que não dispensa uma versão de tração integral (Cadillac News Photo)

O Presidente Trump foi ao Japão e teve mais uma das suas tiradas. Segundo ele, e mais ou menos, isso de se venderem muitos automóveis nipónicos nos EUA e poucos americanos no país do sol nascente, está mal. Ou melhor, devia ele querer afirmar: não pode ser!
Donald Trump que até foi um grande empresário, além de falta de memória na simples condição de cidadão norte-americano que teve capacidade para chegar à Casa Branca, devia saber que os automóveis não podem ser vistos como fruto de indústria comparável ao imobiliário ou aos casinos.
O jogo é outro, decidiu-se há muitos anos, e, considerando a perspetiva de Trump, quem perdeu a aposta foram os americanos, habituados a ver o mundo confinado às suas fronteiras até por terem um mercado que lhes permitiu respirar a plenos pulmões durante muito tempo.


Quando os automóveis japoneses começaram a sua escalada de sucesso em terras do Tio Sam, os americanos entenderam que, para venderem automóveis nos Estados Unidos, os nipónicos tinham de os produzir localmente. Seriam mais uns milhões em investimento, direto e indireto, taxas e muitos, muitos postos de trabalho.
Os japoneses aceitaram o desafio, instalaram-se, criaram até segundas marcas, viradas para o luxo – Lexus, na Toyota; Infinity, para a Nissan; Acura, a juntar à Honda – e pouco ou nada mudou. O êxito continuou enquanto também se impunha a robotização nas fábricas e coincidência ou não, Detroit, muitos anos considerada a capital mundial do automóvel, com o célebre painel que registava os números da produção dos gigantes americanos instalados nas redondezas, definhava a ponto de hoje ter zonas que fazem dela uma espécie de cidade fantasma. E não é ficção…
Mais, os europeus não se ficaram atrás, BMW, Daimler, Volkswagen (que voltou recentemente depois de 23 aos de “ausência” no México) criaram grandes unidades, que inclusivamente exportam, e a indústria automóvel norte-americana continuou a crescer assim.

Parece óbvio que o Presidente Trump está enganado. É aos americanos que ele deve perguntar porque não conseguem vender muitos automóveis no japão

Recentemente Toyota e Mazda uniram até esforços para mais uma fábrica que produzirá modelos das duas marcas e Trump até saudou a decisão com um dos seus célebres Tweets.
Ora, significa isto que a indústria automóvel norte-americana deu uma volta tão grande que GM, Ford e Chrysler (hoje ligada à Fiat depois de pregar um susto à Daimler…) lideram o mercado, é facto, com três pick-up (Ford F 150, Chevrolet Silverado e Chrysler/Dodge RAM 150), mas, depois, há um cortejo japonês no top-ten: Toyota Camry (crónico e histórico campeão de vendas), Honda Civic, Toyota Corolla, Nissan Altima, Honda Accord, Toyota Rav-4, Honda CR-V…
Parece óbvio que o Presidente Trump está enganado. É aos americanos que ele deve perguntar porque não conseguem vender muitos automóveis no Japão. Mas antes disso devia olhar para o mercado nipónico: por lá, em vez das grandes pick-up, são os carros pequenos que ditam leis. Ajudava a perceber o motivo pelo qual no top-ten há dez carros japoneses, mesmo que isso nada resolvesse.
E já agora também podia perguntar aos seus concidadãos porque continuam a associar status a um automóvel europeu e durabilidade aos japoneses. E ainda a razão que os leva a pensar que os modelos das marcas norte-americanas estão programados para durar 60 mil milhas. São eles que o dizem, não eu!
Entretanto, ainda recentemente continuava a dizer-se que não deviam estacionar-se automóveis japoneses na AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais) a maior central operária dos EUA e Canadá, que reúne dez milhões de trabalhadores…