O automóvel a hidrogénio, apesar de todo o empenho posto, nos últimos tempos, no desenvolvimento dos elétricos, a parecerem quase inevitabilidade, tem sido visto como uma das soluções do futuro e são muitos os especialistas que consideram tratar-se da mais válida das apostas. A Toyota não duvida, há três décadas que trabalha na solução, e tem mesmo o primeiro automóvel de produção em série alimentado através da chamada pilha de combustível e a emitir apenas água para a atmosfera. Chama-se Mirai – o mesmo que futuro em japonês. E não é um acaso
Produzido desde 2015, sedan de linhas futuristas, o Mirai tem uma cadência de produção de três mil unidades ano, mas as expetativas apontam para 30 mil veículos a sair da linha já em 2020. É uma autêntica revolução em marcha no mundo automóvel cujo êxito depende, fundamentalmente, da expansão de uma infraestrutura de distribuição do hidrogénio. Como reconhecem os responsáveis da Toyota, pode levar 10/20 anos ou talvez mais, mas existe um compromisso que envolve já muitos países e não custa admitir que o projeto tem rodas para andar, até porque vai ganhar força o lóbi que está a crescer e junta marcas como BMW, Daimler, Honda e Hyundai e uma série de grande empresas ligadas ao hidrogénio e à sua distribuição. Chama-se Conselho do Hidrogénio.

Primeiro automóvel alimentado a hidrogénio produzido em série, o Mirai destina-se àqueles que, segundo a Toyota, têm como objetivo iniciar uma “revolução energética”

O hidrogénio é o gás mais leve da Terra, não tem cor nem cheiro, não é venenoso e pode ser produzido a partir de uma série de matérias primas – energia solar, eólica, biocombustíveis e gás natural – e quando comprimido tem densidade energética superior às baterias, é fácil de armazenar e de transportar. É tão seguro como qualquer outro combustível e até pode ser produzido nos próprios postos de abastecimento. O seu impacto ambiental depende da pegada de carbono deixada na trajetória da sua produção.
Um híbrido… sem gasolina
O Mirai é movido por um motor alimentado pela eletricidade gerada pela reação química entre o hidrogénio e o oxigénio num conjunto de células de combustível, a chamada pilha de combustível. Trata-se do Sistema de Pilha de Combustível Toyota (TFCS) que, explica a marca, integra tanto a tecnologia de célula de combustível como a tecnologia híbrida, incluindo,é claro, uma bateria, os novos módulo FC e os novos depósitos de hidrogénio de alta pressão, desenvolvidos e produzidos pela marca.
De modo simples, o módulo FC é como uma pequena estação de produção de energia e desempenha o papel do motor de combustão num veículo híbrido. A eficiência da conversão do combustível em energia no Mirai é, no entanto, o dobro do que se verifica num veículo a gasolina. A bateria disponibiliza potência na aceleração e armazena energia nas travagens, servindo como apoio e aumentando a eficiência do sistema para se alcançar melhores prestações e mais eficiência. O sistema traduz-se em 155 cv de potência.

A eficiência da conversão do combustível em energia no Mirai é o dobro do que se verifica num veículo a gasolina

Ao volante, em resultado do elevado rendimento do módulo FC e da assistência da bateria, beneficia-se de uma entrega imediata do binário (350 Nm a partir de 0), como num veículo elétrico, o que significa resposta pronta, grande facilidade de condução. E, claro, não há as vibrações nem o ruído dos motores de combustão, mas, para a aumentar o prazer de condução, o som de funcionamento de um compressor de ar reforça a sensação de aceleração. Da mesma forma, a sensação de segurança é instigada por um som de desaceleração, tal como na travagem do motor. As prestações, porém, não impressionam: 9,6 segundos para a aceleração 0-100 e 178 km/h em velocidade de ponta.
Transmissão de uma velocidade
A transmissão é idêntica à solução dos veículos elétricos Direct Drive, uma velocidade, e comandada através de um pequeno seletor, com as posições habituais e um chamado modo “Br”. Trata-se de uma solução para potenciar a travagem regenerativa, tornando a desaceleração mais forte nas longas descidas, como acontece nos híbridos convencionais. Existem ainda dois modos de condução selecionáveis: ECO, destinado a melhorar os resultados de consumo; Power, para uma resposta mais direta às solicitações do acelerador.
A Toyota promete uma autonomia na casa dos 550 quilómetros (ciclo NEDC), mas, nos grandes percursos de estrada e, diz quem já experimentou, é difícil que a indicação dos instrumentos vá além dos 420 quilómetros.
No mais, o Mirai é um sedan equipado com toda a tecnologia e dotado dos argumentos de segurança, ajuda à condução e conforto próprios de um automóvel de nível superior. Apresenta razoável habitabilidade, tem bagageira menos impressiva, 361 litros, pouco para as dimensões. Custa 66 mil euros na Alemanha.
É o primeiro e, seguramente, não vai ser o único. E tem de deixar muita gente a pensar, e outros a torcer a orelha sobre as grandes opções da mobilidade no futuro, pelo menos a médio prazo. Por agora, há 3500 em circulação!
Para a Toyota, as contas para o futuro são simples: até 2020 teremos os automóveis convencionais, mais híbridos Plug-in e novos modelos elétricos; em 2025 será tempo para os automóveis a hidrogénio começarem a sua grande caminhada.
Aguardemos. Aqui ao lado, em Espanha dão-se os primeiros passos para o estudo de uma rede de distribuição. Entre nós, ainda nada se sabe.

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