Seis centímetros podem fazer toda a diferença num automóvel! Basta atender à diferença da distância entre eixos o elogiadíssimo Peugeot 208 e o novo SUV 2008. Eu sei que são automóveis diferentes, propostas diversas. Mas se um merece encómios, o que dizer do outro? Uma espécie de descoberta da pólvora este 2008.

Quando se olha o 2008 fica-se entre as influência do 208 e a presença do 3008. Até podemos ser tentados a pensar numa bem pensada redução à escala deste último. É o que menos interessa. Claramente um Peugeot, o 2008 tem as proporções e a personalidade que o tornam diferente. E gostei, gostei muito: pela robustez, pelo carisma, pela identidade. Bem feito. E vou mais longe, é o Peugeot do momento!

Como tudo deve ser pensado, ou comparado, à luz do 208, quando entramos no habitáculo há um choque. O ambiente tem aquela familiaridade que até se aplaude, i-cockpit, o design e o ambiente, uma imagem de inovação e qualidade percebida superior para o segmento. Sem aquele banho de plástico visto como comum, mesmo que ele não falte. Verdade que bem disfarçado: a parte inferior do tablier à imagem da fibra de carbono, a parte superior com o toque da pele sintética, almofadada ligeiramente para amenizar o toque e com a valorização do acabamento pespontado e do friso luminoso em LED. Combinação bem urdida, estilo jovem, moderno e desportivo e com aquele toque que faz a diferença.

Grande surpresa o novo 2008. É muito mais do que a imagem do SUV apelativo, por fora e por dentro. Bem construído, mais espaçoso do que se espera, cómodo, competente e despachado q.b. na versão de 131 cv a gasolina proporciona experiência que fica na memória. Para mim, é o Peugeot do momento!

Sentimo-nos num produto que se aproxima, claramente, da oferta superior. E gostei. Como gostei do ecrã central orientado para o condutor, do teclado para os atalhos – mesmo que os botões táteis não sejam exemplo de perfeição –, da simplicidade da consola e da ergonomia.

Deixo uma vez mais a declaração de intenções de que não me causa engulhos o volante pequeno e utilizo a posição de condução mais baixa para ter perfeita visibilidade do painel de instrumentos. Acho que são cada vez menos as críticas. Venho do tempo em que se até pagava para ter um volante mais pequeno…

Os seis centímetros da diferença

Tudo isto é normal nos Peugeot atuais, a surpresa é o espaço. A plataforma é a mesma do 208 (CMP), preparada para receber as motorizações térmicas, gasolina ou Diesel, os as soluções eletrificadas, mas os seis centímetros de diferença na distância entre, o aumento na largura do carro (+2,5 cm)  e a natural altura de um SUV (+12cm) fazem um tremenda diferença na habitabilidade. Desde logo por não haver conflitos de cotovelos na dianteira, onde se beneficia de excelentes bancos, depois porque o espaço atrás não tem comparação (mesmo que o banco não tenha regulação longitudinal) e oferece um conforto que até não se espera a este nível da oferta.

A bagageira – 434/1015 litros , com bancos rebatíveis na proporção 60×40) – tem capacidade adequada, beneficia do fundo falso (roda sobresselente – opção –ainda por baixo), mas, sem surpresa, tem um plano de carga alto. Convém lembrar que estamos a falar de um SUV, um carro pensado para responder às necessidades de uma utilização que contemple o lazer.

Vivo, despachado e bem comportado

E enquanto SUV vamos aplaudir a dinâmica. Guiei a versão intermédia da família a gasolina, o aplaudido 1.2 PureTech de três cilindros com 131 cv e caixa manual de seis velocidades. Vivo e despachado, mesmo sem ser um repentista, caixa bem escalonada, a privilegiar uma condução de subida natural das rotações e com o toque diferente da transmissão de origem Opel, adapta-se muito bem a esta receita.

Tal como o novo 208, este é um automóvel  “fofinho”, suspensão adocicada à francesa. Ora, isso está longe de significar que o 2008 não se porte na linha. Nem pisando o riso, andamento mais forte – e 131 cv já vale alguma alma –, mesmo que possa acusar um nadinha a altura, não é um carro com tendência para se descompor nem necessitar em demasia do controlo de estabilidade. Permite um ligeiro balanceamento em curva, mas a direção põe a frente no sítio, a subviragem passa ao lado das preocupações,  e lá vai ele confiante e seguro a velocidade considerável. Um excelente compromisso entre eficácia e conforto, num SUV a que não se exige temperamento desportivo.

O motor nesta versão faz-se ouvir sem incomodar, os 131 cv são potência adequada, permitem recuperações interessantes e o despacho suficiente, também porque a agilidade ajuda.

Três modos de condução, consumos vulgares

0 2008 conta também com três modos de condução – Eco Normal, Sport – e  a cada um corresponde uma resposta que permite sentir a diferença, sobretudo na comparação dos extremos. É claro que quem queira o toque de vivacidade do Sport vai notar a diferença nos consumos, os quais, nunca chegam a surpreender mesmo quando se privilegia a economia. O melhor que consegui foram 6,8 litros aos 100  em autoestrada aos regulamentares 120 km/h. No chamado percurso suburbano, o computador de bordo marcou sete litros redondos. O acumulado para 738 km, seguramente com muitas experiências e estilos de condução diferentes, registava 7,5 litros aos 100, É claro, são 131 cv, há propostas mais económicas e menos alegres…

Conduzi uma versão GT Line que tem como principais equipamentos de série o ar condicionado automático, tablier com pespontos e painéis das portas dianteiras em carbono e friso luminoso de oito cores, jantes em liga de 17 polegadas, faróis de nevoeiro em LED com função cornering, pedaleira em alumínio, travagem de emergência automática dia e noite, ajuda gráfica e sonora ao estacionamento, volante multifunções e vidros escurecidos. Como extras; navegação com ecrã tátil de dez polegadas e duas fichas USB à frente, roda sobresselente de emergência e teto de abrir com cortina de comando mecânico. São mais 1520 euros!

Grande surpresa este 2008. É muito mais do que a imagem do SUV apelativo, por fora e por dentro. Bem construído, mais espaçoso do que se espera, cómodo, competente e despachado q.b. na versão de 131 cv a gasolina proporciona experiência que fica na memória. Para mim, é o Peugeot do momento!

 

FICHA TÉCNICA

Peugeot 2008 GT Line 1.2 PureTech 130 cv CVM6

Motor: 1199 cc, três cilindros, injeção direta, turbo, intercooler, start/stop

Potência: 131 cv/5 500 rpm

Binário máximo: 230 Nm/1 750 rpm

Transmissão: caixa manual de seis velocidades

Aceleração 0-100: 8,9 segundos

Velocidade máxima: 198 km/h

Consumo média: combinado WLTP – 5,6-6,5 l/100 km

Emissões CO2: WLTP – 132 g/km

Bagageira: 434/1496 litros

Preço: 28 170 euros, ensaiada; GT Line, 26 650 euros