Os sete retângulos na grelha definem o caráter do Avenger (Foto Stellantis)

Traseira é um bom trabalho no apuro das formas (Foto Stellantis)

Distância ao solo e altura refletem-se na condução (Foto Stellantis)

Tablier linear, simples e bem aproveitado com prática prateleira (Foto Stellantis)

Painel de instrumentos é configurável (Foto Stellantis)

Pouco prático o seletor de marcha com teclas no topo da consola (Foto Stellantis)

Modos de condução na consola, coberta por capa com fecho magnético (Foto Stellantis)

Bancos, com costuras de pesponto, incluem a gravação Jeep (Foto Stellantis)

Porta de carregamento encontra-se atrás, do lado do condutor (Foto Stellantis)

Pode ter sido uma surpresa o título de Carro do Ano Internacional conquistado pelo Jeep Avenger 100% elétrico, mas a verdade é que a Stellantis conseguiu emprestar muito de europeu ao pequeno SUV defensor das cores americanas e concretizar um produto a que não se fica indiferente. Em Portugal tem preços desde 37 800€.

Bom trabalho em termos de estilo em 4,08 metros de comprimento, compacto e vistoso, com a grelha falsa dos sete retângulos para não enganar sobre a proveniência das formas que namoram um TT, o Avenger “cheira” a FIAT e esconde a sinergia fundamental da Stellantis. A plataforma é a mesma que se tem generalizado entre as marcas do grupo e à qual se junta o mesmo motor de 400 V, 156 cv de potência e 260 Nm de binário, suportado por uma bateria, “feita em casa”, com 54 kWh.

Seja ou não “fazer render o peixe” é bem feito e apura uma receita muito bem condimentada que tem levado aos píncaros o nosso compatriota Carlos Tavares, colecionador de êxitos neste difícil mundo da indústria automóvel com o projeto Stellantis.

Mas o que está em causa é este Avenger elétrico e importa dizer, antes de mais, pelo lado prático, que este Jeep se mostra um cómodo rolador, marcha suave, com um bem afinado compromisso de suspensão (em especial atrás), resposta pronta ao acelerador, como é normal, e prestações ajustadas à oferta: 9 segundos na aceleração 0-100 e 150 km/h em velocidade de ponta. Só a direção, demasiado assistida merece reparo, já que a travagem cumpre com as expetativas, usando ou não o reforço da regeneração.

O Jeep Avenger 100% elétrico é um compromisso interessante, SUV com espaço razoável para o segmento, conforto e dinâmica ao nível do que pode esperar-se de um carro alto. A autonomia anunciada vai dos 400 aos 601 quilómetros e a média será de 15,4 kWh/100 km. Bem feito e com preço aceitável

Este, como habitual, surge agregado ao D do seletor de marcha, mais um exercício pouco prático da inventiva que insiste nas teclas, no caso colocadas no topo da consola. Não dá jeito nenhum, sobretudo quando é preciso fazer manobras de parqueamento. As críticas são tantas que talvez um dia mude – na Jeep e na Fiat…

Cómodo e bem insonorizado

O Avenger tem uma dinâmica interessante mas, como está de ver, tinha de acusar a altura da carroçaria. E daí, sem surpresa, algum embalo, sobretudo nas zonas mais sinuosas, mesmo sem exagerar na pressão sobre o acelerador.  É um SUV naturalmente subvirador e em que as ajudas eletrónicas, discretamente, fazem alguma correções.

Fora de estrada, o Avenger, mesmo 4×2, continua a fazer valer o facto de ser Jeep (Foto Stellantis)

De qualquer modo, em velocidade de passeio e condução normal, estamos perante um automóvel cómodo e muito bem insonorizado, pormenor que sempre reforça a caraterística peculiar dos 100% elétricos.

Há três modos de condução ECO, Normal e Sport e se no primeiro se conseguem os melhores consumos, também é verdade que algumas expetativas saem goradas no equilíbrio da potência e da rapidez. Será o suficiente na cidade e mesmo em autoestrada, uma vez ligado o cruise control. Mas é no meio que, para mim, está a virtude. Em modo Sport, a genica é sempre outra, mas, como se sabe, os consumos também.

E neste particular, o Avenger levou-me a consumos de 16,8 kWh/100 km num percurso misto que incluiu autoestrada e caminhos secundários, o que aponta para uma autonomia de 321 quilómetros. Ficou, no entanto, a ideia de que a anunciada média de 15,4 kWh/100 km está longe de ser uma miragem, até porque num primeiro percurso, misto de cidade e estrada cumprido em ritmo pausado e a pensar em poupar, o computador de bordo marcou 14,4 kWh/100 km… A autonomia anunciada, na norma WLTP, varia entre os 400 quilómetros no ciclo combinado e os 601 em cidade, valores, para mim, difíceis de alcançar.

Com um carregador de bordo apto para receber 100 kW de potência em corrente contínua, o Avenger, num posto rápido, vai dos a 20 a 80% de carga em 24 minutos. Usando 11 kW em corrente alternada, como numa estação pública ou numa Wallbox, atinge o “pleno” em cinco horas e meia.

Bem trabalhado no interior

O interior é um interessante exercício de simplicidade, com um tablier linear, integrando uma prática prateleira, e sobre o qual assenta o ecrã do infoentretenimento, e que alarga para receber um pequeno painel de instrumentos digital. Um e outro com  informação suficiente e adequada a um automóvel elétrico.

A consola, com um grande compartimento fechado (tampa com íman), liga ao tablier e inclui o já referido seletor de marcha. Saúdem-se as teclas físicas do ar condicionado e o bonito volante multifunções. O ambiente é jovem, com o tablier na cor da carroçaria e uma decoração interior adequada.

Em termos de espaço, um compromisso ajustável às dimensões, logo nada que possa surpreender, até por atrás não faltar o túnel que rouba sempre espaço. E o espaço também não é muito na bagageira, com 380 litros de capacidade, apesar das baterias (colocadas em “H”)  estarem sob os bancos.

Entretanto, quem quiser aventurar-se no fora-de-estrada, tem um Jeep com desenvoltura, tanto mais que a altura ao solo (20 cm) e os ângulos de ataque (20 graus de entrada e 32 de saída) propiciam capacidades a considerar e que permitem alguns atrevimentos. E pela primeira vez, um Jeep de tração dianteira conta para isso com o sistema Select Terrain (ajustável para circular em areia, lama e neve), além do normal Hill Descent Control.

O Jeep Avenger 100% elétrico é um compromisso interessante, SUV com espaço razoável para o segmento, conforto e dinâmica ao nível do que pode esperar-se de um carro alto. A autonomia anunciada vai dos 400 aos 601 quilómetros e a média será de 15,4 kWh/100 km. Bem feito e com preço aceitável.

FICHA TÉCNICA

Motor: Magneto permanente sincronizado (400V)

Potência: 156 cv

Binário: 260 Nm

Transmissão: automática, velocidade única, redutora

Aceleração 0-100 km/h: 9 s

Velocidade máxima: 150 km/h

Bateria: 54 kWh

Potência de carregamento: 100 kW

Carregador embarcado: 11 kW

Tempo de carga: DC 20/80%, 24 minutos; wallbox trifásica, 5,34 h

Autonomia: 400/601 km (WLTP)

Dimensões: c/l/a – 4,080/1,776/1,528 m

Distância ao solo: 20,1 cm

Ângulos TT: ataque, 20 graus; ventral, 20; saída, 32

Bagageira: 380 litros

Peso: 1 536 kg

Preço: desde 37 800€