É um SUV que agrada e no qual me senti bem, aliás melhor do quem viajou atrás. Menino bonito da Mazda, o CX-3 diesel (1.5 Skyactiv-D) garante níveis de economia interessantes mas, para as suas inegáveis capacidades dinâmicas terem outra expressão, precisava de um motor com outra alma. A versão topo de gama, com tudo aquilo que ajuda à diferença, não é barata: 29 390 euros.

O Mazda CX-3 é um daqueles carros que, quando surgiu, no auge da moda dos SUV, prometia no mercado nacional e eram legítimas as aspirações do construtor nipónico. Cumpriu: vale hoje 50% das vendas da marca. A versão diesel, sem surpresa, destaca-se nas escolhas, mas este é mais um daqueles automóveis que, apesar do êxito, parece ficar àquem do que realmente vale – é  10º no ranking dos SUV. Mesmo sem “esmagar”, tem virtudes e qualidades superiores aquilo a que poderia chamar defeitos.

É mais um SUV que interpreta o estilo próprio do carro de evasão com o apelo desportivo das formas a sugerirem o coupé, simulado na elegante curvatura do tejadilho. Rosto familiar, perfil marcante, traseira sóbria, bem proporcionado é a soma de uma série de originalidades estéticas que lhe dão personalidade. Eu gosto!

O motor 1.5 prova a sua honestidade, é generoso e esforçado, mas 105 cv e 270 Nm de binário máximo não podem prometer milagres. É (…) pouco brilhante na recuperação e nas prestações em geral

Como gosto do interior, pela “limpeza” do design e a forma simples encontrada para oferecer o bastante em termos de informação e comandos sem complicar: painel de instrumentos minimalista, grande conta-rotações a deixar o velocímetro para segundo plano, num pequeno quadrante e, no caso, também no active driving display laminar, que reflete leitura de sinais e indicações de navegação; enfim, o tablet vertical de 7 polegadas, com cinco funções (App, entretenimento, telefone, navegação, definições), comando tátil ou (ainda bem) através de botão rotativo na consola. E claro, registo a qualidade dos acabamentos e a combinação dos materiais, plástico incluído, notável na versão Excellence que guiei, enriquecida pelos estofos e revestimentos em pele, cozidos a pesponto (simulados também no plástico!), os quais emprestam ao habitáculo ambiente de categoria superior. Bem feito!

Pouco espaço atrás

A este ambiente de conforto falta o espaço que dê mais comodidade. Nada a dizer à frente, seja na habitabilidade como na facilidade para encontrar a posição de condução adequada. Atrás, é limitado o espaço para as pernas e não se compreende a inexistência de um apoio de braços pelo rebatimento das costas do banco central. Eu sei que a lotação são cinco lugares, mas é comum e dava jeito. Dois passageiros no banco traseiro queixam-se de algum acanhamento no movimentação das pernas e referem também que o acesso não se revela o mais prático, dados os condicionamentos causados pelo formato da porta, devido à intrusão da cava da roda traseira. Não é caso único em SUV deste estilo…

No que respeita à bagageira, não se passa da mediania em termos de espaço (a Mazda anundia 287 litros/VDA) e a altura da base não facilita as coisas quando houver que carregar objectos mais pesados. Positivo é a plataforma da base poder assumir duas posições e, por um lado, permitir um pequeno fundo falso, por outro nivelar mais o plano base quando se rebatem os bancos (60×40), operação feita nos ombros dos assentos. Vulgar!

Mas passemos à ação, carregando no já inevitável botão da ignição. Pois bem, o CX-3 impressiona sobretudo pelo comportamento da suspensão, assertividade em curva e equilíbrio da carroçaria nas transferências de massas (o Vectoring Control que varia o binário em resposta à direção é uma mais valia). São aspetos que resultam num considerável conforto de marcha, valorizado por uma insonorização convincente para abafar a sonoridade do diesel. E resultados da expressão da tecnologia Skyactiv generalizada a toda a gama e que torna, de facto, muito envolvente especial a condução de qualquer Mazda.

O motor 1.5 prova a sua honestidade, é generoso e esforçado, mas 105 cv e 270 Nm de binário máximo não podem prometer milagres. A caixa de seis velocidades, muito agradável de manusear, pelo precisão e suavidade, tem relações longas e esse aspeto também contribui para podermos lamentar alguma falta de vivacidade do motor, pouco brilhante na recuperação e nas prestações em geral (10,1 s de 0 a 100 e 177 km/h em velocidade de ponta). O arranque, todavia, é mais vivo do que em alguns concorrentes. De qualquer modo, fica sempre a sensação de que as coisas até se passam mais depressa do que parece, e basta olhar para o velocímetro para o constatar.

Economia em plano razoável

Objetivo de receita assim só pode ser uma boa relação com a economia e, neste aspeto, importa referi-lo, o CX-3 porta-se a contento: 6,3 litros/100 entre a estrada e a cidade é resultado a ter em conta, sobretudo quando nem houve especiais preocupações em conseguir os melhores valores. Razoável!

Enfim, uma palavra para o SUV fora de estrada. Toda a naturalidade nos estradões e nos pequenos caminhos. Manobrabilidade em bom plano, altura ao solo suficiente para alguma ousadia, desde que a ideia não seja desafiar um TT… (Quem gostar tem o AWD)

A versão Excellence destaca-se pelos estofos em pele e inclui outros argumentos importantes, como chave e arranque inteligentes, start/stop, faróis em LED com máximos automáticos, LED diurnos, radar cruise control, city break, active driving display, câmara traseira com guias de estacionamento, ajuda ao arranque em subida, assistente de manutenção na faixa de rodagem, ar condicionado automático (sem regulação digital), volante multifunções em pele, sistema de som Bose, navegação, sensores de luz e chuva, vidros traseiros escurecidos além do que é comum na gama. A escolha implica os pacotes HT (1381 euros) e Navi+ (402 euros). E no caso ainda um extra de 150 euros pela pintura metalizada Soul Red (a cor do modelo mostrado na galeria de fotos).

Em poucas palavras, o CX-3 tem a força da diferença e um preço a justificar isso mesmo – o que não é para todos! Revela excelente comportamento e conforto de marcha, tem uma construção de qualidade, falta-lhe algum espaço atrás e na mala, é mais brilhante na economia do que nas prestações.

FICHA TÉCNICA

Mazda CX-3 SKYACTIVE-D 105 cv

Motor: 1499 cc, turbodiesel,  injeção direta, intercooler, start/stop

Potência: 105 cv/4000 rpm

Binário máximo: 270 Nm/1600-2500 rpm

Transmissão: caixa manual de 6 velocidades

Aceleração 0-100: 10,1 s

Velocidade máxima: 177 km/h

Consumos: média – 4 litros/100; estrada – 3,8; urbano – 4,4

Emissões CO2: 105 g/km

Bagageira: 287 litros

Preço: 29 540 euros (versão ensaiada); desde 24 764 euros