A ideia não é original. O presidente da Mercedes, Dieter Zietsche, usou-a em Amesterdão ao apresentar o Classe A e frisou existir muita gente na indústria a considerar o novo compacto como um smartphone com rodas. Haverá algum exagero na ideia, princípio redutor, mas também verdade no conceito que tende a generalizar-se. A grande revolução está mesmo no interior do automóvel e vai além da imagem high-tech do painel digital que reúne toda a informação. Vem aí, entre tanta coisa a mudar o “nosso carro”, a era da inteligência artificial.
As capacidades do Classe A estarão, é claro, limitadas pelo nível das ofertas, mas muito do que ele pode oferecer até vai além do soberbo Classe S: estreia o MBUX – Mercedes Benz User Experience – que garante um novo patamar de interatividade entre o condutor e o automóvel. Vai ser preciso experimentar para atestar da eficácia do sistema, mas está prometido um nível de inteligência artificial que estabelece novos padrões no diálogo… vocal com a máquina. “Hey, Mercedes…” e há muitas ordens com resposta, desde a navegação a um desabafo como “tenho frio”… Nem o topo de gama da casa vai ainda tão longe.
Ao bater das teclas, surpreendo-me com o que escrevo. É da apresentação de um o novo automóvel que estou a falar e ainda só tratei das maravilhas da eletrónica deste nosso mundo novo, neste caso espelhadas num espetacular ecrã digital com 50 cm que domina o habitáculo (e as atenções). Todos falam dele, símbolo ou espécie de grande gadget do Classe A. Nem todos serão iguais, haverá três níveis, ainda que lhes sejam comuns dois “espaços” de informação em outros tantos ecrãs. São estes, cada vez mais, os temas dominantes na apresentação de um automóvel. Começo a habituar-me…
O novo Classe A não engana, todos o identificarão, mas as diferenças são substanciais (…) as imagens de robustez e força ganham expressão justificando, afinal, uma feição mais desportiva
E claro, também de outras “maravilhas” ligadas a um futuro que parece inevitável. O Classe A tem capacidades de condução semi-autónomas, em certas condições, é verdade. Mas o Active Distance Assist Distronic e a assistência de direção ativa mantêm a velocidade e a distância seguras e antecipam curvas, cruzamentos e rotundas. Radar e câmara têm um alcance de 500 metros. A assistência à manutenção na faixa de rodagem (Active Lane Assist) faz o resto, assim as linhas da estrada o permitam, e a travagem de emergência (Emergency Stop Assist e Active Brake, este de série) garante o resto em termos de segurança. Quase vulgaridades destes tempos e, seguramente, banalidades futuras quando sabemos que a democratização da tecnologia será natural.
Tudo isto para valorizar um automóvel que, depois de começar “torto” (a marca hoje até se dá o luxo de brincar com o famigerado Teste do Alce e não teve problemas em recordar essa hora difícil em Amesterdão), se tornou um caso sério depois da revolução no design que marcou o modelo agora substituído.
Feição mais desportiva
O novo Classe A não engana, todos o identificarão, mas as diferenças são substanciais. Desde logo, no estilo para as mesmas formas na base das duas caixas compactas – atenção: a Mercedes assume isso mesmo. Salta à vista que é mais jovem, muito mais natural também, formas menos esculpidas, superfícies muito limpas, sem recurso àquelas soluções esculpidas que se associam aos torneados da ideia de músculo. Neste caso, são as imagens de robustez e força que ganham expressão justificando, afinal, uma feição mais desportiva.
A grelha com a grande estrela de três pontas em destaque foi também trabalhada no sentido de emprestar ao emblema como que o encastre de um diamante… Aliás o rosto foi muito “maquilhado”, faróis mais pequenos e rasgados, entradas de ar mais proeminentes e agressivas). As novas formas, que permitiram também melhorar a visibilidade geral (a largura dos pilares foi reduzida), são anunciadas como primeiro passo numa nova filosofia de design da Mercedes. E como tem mudado e evoluído tanto o estilo da marca, sempre mais ousada e inovadora, não custa acreditar!
Tudo isto “veste” um automóvel que cresceu 12 centímetros e mantém invejável equilíbrio nas proporções. E cresceu a partir de uma nova plataforma (MFA2, que vai servir oito modelos), a qual traz um aumento de três centímetros na distância entre eixos (também vias mais largas) e com ele a sempre desejada melhoria na habitabilidade, que apresenta valores mais expressivos em todas as cotas. À primeira vista, parece melhor.
As renovadas dimensões significam também uma mala maior, agora 370 litros de capacidade (+29) e uma “boca” de acesso substancialmente aumentada: 20 cm. A profundidade também aumentou 11,5 cm. Não é pouco…
No lançamento, que em Portugal acontecerá a 3 de Maio, o novo Mercedes terá como cavalo de batalha o A180 d, com o conhecido motor 1.5 diesel de origem Renault, com AdBlue e agora 116 cv e 260 Nm de binário máximo. Em alternativa à transmissão manual de seis velocidades, pode ser equipado com a caixa automática 7G-DCT de dupla embraiagem, conjunto para o qual a marca anuncia o consumo médio de 4,1 litros/100.
Híbrido Plug-in e elétrico na calha
A grande novidade surge com o A200, quatro cilindros 1.4 a gasolina (a cilindrada real serão 1333 cc) desenvolvido em parceria com a Renault (já estreado no Scénic IV e a usar também pela Nissan). Debita 163 cv e tem um sistema que desliga dois cilindros, para já apenas conjugado com a mesma caixa automática 7G-DCT.
A fechar a oferta inicial outro bloco a gasolina e mais poder: A250 – 2.0 litros, 224 cv, 260 Nm de binário máximo.
Ainda este ano, outra estreia, a versão três volumes, o A Sedan que vem alargar a oferta e dar outra expressão à gama. O lançamento está previsto para setembro.
Agora é esperar para ver como se comporta este Classe A que pode ser equipado com suspensão ativa dotada de controlo eletrónico de amortecedores e também um sistema de controlo dinâmico com quatro modos de condução (Dynamic Select). Os preços trazem um ligeiro acréscimo, segundo a Mercedes Portugal.
E depois de um ano em que a Mercedes se afirmou como número 1 neste domínio (vendeu 620 mil compactos!), não é só pelo sorriso do sempre bem humorado Dieter Zietsche que dou comigo a pensar que este Classe A é capaz de vender como pãezinhos quentes… tenha ou não motores Renault.
Resta dizer que, em 2019, a gama incluirá um híbrido Plug-in, combinando o motor 1.4 Turbo e um motor eléctrico de 82 cv. Potência combinada, 240 cv; autonomia elétrica prometida, os sacramentais 50 quilómetros.
A versão elétrica, que vai ter a designação EQA, fica prometida para 2020 e a Mercedes deixava admitir uma autonomia de 500 km…