Há muito que não tinha esta sensação: encontrar numa motorização a gasolina um equilíbrio superior ao da proposta a gasóleo. Aconteceu com o DS 7 Crossback 1.6 Puretech na versão de 225 cv e caixa automática de oito velocidades. Só a sensibilidade do acelerador aos consumos merece reparos neste SUV praticamente modelar em termos de conforto e convincente na imagem enriquecida por ambiente moderno e com classe.

Tinha gostado do mais potente DS 7 Diesel ainda que restasse um amargo de boca em relação à capacidade face ao peso. É óbvio que 45 cv têm de fazer diferença e valorizar a proposta a gasolina, mesmo que seja outra a disponibilidade de binário dos “motores perseguidos” (este disponibiliza 300 Nm/1900 rpm, o Diesel 400 Nm/2000 rpm). Indiferente às considerações de ministros que deviam medir melhor aquilo que dizem – já alguém fez as contas ao número de carros do Estado movidos a gasóleo?  –, aí está uma proposta a gasolina, naquele segmento onde o Diesel, acredito, vai mandar muito tempo, (talvez, pelo menos, com mais mild-hybrids e outras novidades) que oferece uma condução prazenteira e ainda aquela alma a garantir interessante reserva de potência.

Até pelas caraterísticas próprias de um SUV, não é uma máquina que vamos encontrar neste DS 7, mas a desenvoltura que permite outros andamentos e uma resposta muito “redonda”, no entendimento de que tudo rola com a naturalidade de uma esfera. As prestações são razoáveis: 8,2 segundos de 0 a 100 e 234 km/h em velocidade de ponta.

Este DS 7 1.6 Puretech, com um motor a gasolina que lhe confere condução agradável e equilíbrio invulgar, é um SUV que junta à imagem conseguida e ao ambiente de qualidade acima da média, níveis de conforto muito franceses, eficácia e segurança convincentes em termos de dinâmica. Os consumos são aceitáveis, o preço mais do que se espera

Grande estradista, desembaraçado, vivo q.b. este DS 7 não agradará apenas aos adeptos e saudosos dos “velhos” motores a gasolina. A elasticidade é assegurada pela caixa automática de oito velocidades, a qual até se revela menos brilhante quando se recorre ao modo Sport. Mas nesse caso até podem utilizar-se as patilhas no volante, as quais sem serem um exemplo de rapidez, não traduzem hesitações e asseguram o bastante para uma condução com outro feeeling na adoção da mudança que queremos ser nós a escolher. E digo isto porque a caixa escolha sempre bem e razoavelmente depressa.

Conforto superior

Importa frisar que tudo isto se passa usufruindo de um nível de conforto superior. Mesmo em modo Sport, e a diferença é sensível na suspensão: apesar de outra assertividade em curva e menos movimentos na carroçaria – sobretudo movimentos verticais –, a comodidade continua a reger-se por padrões onde outros não chegam mesmo nos modos Comfort. A força de tradição traduzida em facto. Muito Bem!

Além do mais, é também marcante a segurança que experimentamos ao volante, naquela posição que nos deixa “lá em cima”, como de costume. O DS 7, beneficiando de um acertado compromisso de direção, curva bem, revela uma agilidade notável para as suas dimensões – são 4,57 metros de comprimento, por 1,89 de largura e 1,62 de altura –, reage às transferências de massas sem grandes abanões e dispensa os “complexos” do ESP. O mesmo é dizer que este funciona, é claro, quando se pisa o risco, mas não passa a vida a fazer “piscar” o símbolo amarelo no painel de instrumentos e a entrecortar a condução com correções bruscas nas estradas sinuosas feitas mais depressinha.

O DS 7 propõe quatro modos de condução, Eco, Normal, Confort e Sport  capazes das adaptações habituais em favor do consumo, conforto, resposta do acelerador, da caixa e até da sonoridade do motor. A novidade a este nível é o sistema de amortecimento pilotado que responde às indicações de uma câmara e permite antecipar a resposta adequada da suspensão – chama-se DS Active Scan Suspension.

Consumos aceitáveis… sem abusos

Quanto a consumos, em autoestrada com quatro pessoas a bordo e num andamento para não ter surpresas, o computador de bordo registou 8,5 litros aos 100; no suburbano domingueiro consegui 8,3. Garante-me quem faz uso diário que se consegue menos na estrada, na casa dos 7,5. Acredito que sim, usando de muita suavidade, mas também me confirmaram o que li no mostrador: não é difícil chegar aos dois dígitos forçando o andamento. Após 330 quilómetros, com um pouco de tudo, inclusive exageros, o DS 7 marcava 9,4 de média geral. É um valor aceitável para tanta potência e peso num motor a gasolina e este já tem filtro de partículas e pode funcionar em roda livre em modo ECO.

O DS 7 é, porém, muito mais, sobretudo na versão que guiei, um Grand Chic com inspiração Opera, a mais equipada de um SUV que, como aqui já escrevi, é expoente do luxo francês, tem aquele toque de classe do grande costureiro, o brilho da peça do joalheiro famoso, a ousadia dos mestres da pintura e da escultura gaulesa.

Vistoso por fora, é um exercício de modernidade e bom gosto por dentro, mesmo que o luxo assuma por vezes contornos asiáticos, como que a fazer lembrar que foi na China o arranque da comercialização do DS 7. Marca-nos o botão de arranque no topo superior do tablier sob o original relógio analógico retangular da BRM, o qual roda para se se “esconder” quando o silencioso motor está desligado. Como ainda a nova interpretação do cockpit herdado do DS 5, trabalho original com o aspeto menos o prático, para mim, dos botões dos elevadores dos vidros traseiros não estarem nas portas. É o hábito…

Ambiente e equipamento para a diferença

Depois é um habitáculo com espaço de sobra para gozar aquele conforto muito francês num ambiente marcado pela pele em abundância, bons plásticos, alguns alumínios, acabamentos com aquele toque artesanal dos produtos acima da média em termos de qualidade, normais num emblema que pretende assumir-se entre os Premium.

Destaque ainda para o digital sob a forma de dois ecrãs: o painel de instrumentos (12,3”), com várias escolhas de apresentação, incluindo a personalização; e o grande ecrã central tátil (12”). Até parece de mais…

Banco traseiro com inclinação regulável, grande bagageira são outros aspetos a ter em conta num carro bem equipado. A saber: bancos em couro, iluminação activa em LED, faróis de nevoeiro e luz ambiente na mesma tecnologia, acesso e arranque mãos-livres e portão traseiro motorizado (850 euros); travagem de emergência e pacote Performance Line , suspensão activa, cruise-control ativo, manutenção em faixa (nível 2) – DS sensorial Drive  -, câmara traseira, volante multifunções em pele, ecrã tátil com mirror link, navegação, controlo por voz. A chamada inspiração Opera era acompanhada do pack Grand Chic, 2400 euros; sistema hi-fi Focal Electra; tejadilho deslizante panorâmico; jantes em liga de 20 polegadas. São 7450 euros em extras…

Tudo isto está contado ao pormenor na peça dedicada à versão Diesel 2.0 de 180 cv, à qual pode aceder clicando aqui.

Em poucas palavras, este DS 7 1.6 Puretech, com um motor a gasolina que lhe confere condução agradável e equilíbrio invulgar, é um SUV que junta à imagem muito conseguida e ao ambiente de qualidade acima da média, níveis de conforto muito franceses, eficácia e segurança convincentes em termos de dinâmica. Os consumos são aceitáveis e o preço mais do que se espera.

Paris serviu de cenário ao interessante filme anúncio do DS 7 Crossback

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FICHA TÉCNICA

DS 7 Crossback 1.6 Puretech 225 cv  Aut  Grand Chic/Opera*

Motor: 1598 cc, gasolina, injeção direta, turbo, intercooler, filtro de partículas, start/stop

Potência: 225 cv/3750 rpm

Binário máximo: 300 Nm/1900 rpm

Transmissão: caixa automática de oito velocidades, com patilhas no volante

Aceleração 0-100: 8,2 segundos

Velocidade máxima: 234 km/h

Consumos: média – 8,1 litros/100 (WLTP)

Emissões de CO2: 181 g/km (WLTP)

Preço: 55 379 euros, versão ensaiada; base 47 693 euros (valores a confirmar depois de aplicadas as novas tabelas de imposto)

*Concorrente ao Essilor Carro do Ano/Troféu Volante de Cristal (Categoria SUV Compacto)