Se podia parecer descabido usar a designação Mustang num modelo elétrico da Ford, registe-se que a marca norte-americana conseguiu mais do que uma boa jogada de marketing. Tem um produto convincente sobre todos os aspetos, num SUV com muito pormenores distintivos e familiares, espaçoso, escolhas suficientes em termos de potência e autonomia, com base em duas baterias de grande capacidade (75,7 e 98,7 kWh), e preços a partir da casa dos 50 100€. Chega em Setembro e não espanta que em Portugal haja 100 encomendas de “olhos fechados”…
O Mustang Mach-E, designação oficial, transporta para um SUV de dimensões generosas (4,71 metros de comprimento) o grande capô do ícone da marca e uma traseira em que pontificam as emblemáticas óticas com as três barras. Assim, com pouco e simplicidade, mais a imagem do célebre cavalo estampada na frente sem a grelha formal e uma placa fechada enquadrada por uma moldura negra que lhe vinca a forma, a identificação é simples. O tejadilho bem inclinado reforça a imagem desportiva em formas que não o deixam passar despercebido. Tem presença, transmite força e poder.
O interior parece uma resposta ao estilo da Tesla, com um grande ecrã vertical, de utilização razoavelmente intuitiva, com 15,5 polegadas (o sistema é o SYNC mais recente e inclui um grande botão físico para o volume do áudio) a dominar o ambiente, mas complementado por um estreito e prático painel digital por detrás do volante e no qual ldesfilam as informações habituais na apresentação convencional. Uma excelente e prática solução.
A Ford ataca bem o mundo dos elétricos com o seu vistoso e bem construído Mustang Mach-E. Duas baterias de grande capacidade, tração traseira ou 4×4, dinâmica convincente, espaço e preços concorrenciais é um SUV com propostas tentadoras
Na linha da consola, que integra o seletor de marcha rotativo há um grande apoio de braço dobrável e flutuante que contempla um espaço de armazenamento. Tudo muito cuidado e bem pensado.
Qualidade acima da média norte-americana
O design do habitáculo é conseguido, sugestivo e impressiona sobretudo a qualidade percebida e a escolha dos materiais, a um nível que ultrapassa em muito o que esperamos de um automóvel vindo dos EUA e que o distancia da concorrência local. Se quisermos um minimalismo menos frio do que aquele a que nos habituaram algumass referências deste mundo dos automóveis elétricos além Atlântico..
Espaço não falta neste quatro portas que beneficia de uma plataforma com uma distância entre eixos invulgar: 2,98 metros. E daí é fácil perceber o que o Mustang Mach-E representa em termos da oferta em habitabilidade, incluindo esse desafio sempre controverso dos cinco lugares. A bagageira também apresenta valores razoáveis, 402 litros de capacidade que podem chegar aos 1 420 com os bancos rebatidos. Acresce que a Ford aproveitou o espaço livre na dianteira para, a exemplo do que faz na mala do Puma, instalar outra bagageira, com 81 litros de capacidade, dotada de um bojão que permite um espaço drenável.
Duas baterias e extensor para a de maior capacidade
Plataforma em aço, o Mustang Mach-E foi concebido para receber uma bateria de grande capacidade, à americana… e são duas com as capacidades de 75,7 kWh e 98,7 kWh, as quais são combinadas com um motor traseiro e ainda um dianteiro (mais pequeno) nas versões de tração integral. Daqui nascem quatro opções: com tração traseira – 75,7 kWh/269 cv, 440 km de autonomia; 98,7 kWh/294 cv, 610 km de autonomia; com tração integral – 75,7 kWh/269 cv, 400 km de autonomia; 98,7 kWh/351 cv, 540 km de autonomia. A ford anuncia um extensor de bateria que aumenta as células de iões de lítio de 288 para 376 e permitirá autonomias de 610 e 540 km, respetivamente, para o tração traseira e para o 4×4 com bateria de 98,7 kWh.
No que respeita ao carregamento, o Mustang Mach-E está preparado para os postos de 150 kW e numa wallbox de 11 kW “atesta” em oito horas.
A experiência ao volante foi convincente. Guiei um 4×4 com a bateria de 98,7 kWh e os 351 cv estão sempre bem presentes, sobretudo porque o binário de 580 Nm torna este Mach-E digno do nome Mustang. Capaz de acelerar de 0 a 100 em 5,8 segundos, permite o despacho que se imagina e, em termos simples, “anda que se farta”. A velocidade máxima não é anunciada.
Dinâmica convincente, condução divertida
Tenho sempre a sensação de que as suspensões dos automóveis americanos, mesmo depois da sua adaptação ao diferente modo de conduzir dos europeus e às nossas estradas, nunca revelam a mesma eficácia. Desta vez, fiquei convencido de que a Ford conseguiu um bom equilíbrio. Confortável, às vezes até parecendo macio em demasia, o Mustang Mach-E portou-se muito bem nos serpenteados de Sintra. Tem um comportamento divertido, com a traseira a mostrar-se mais solta e a “ajudar” nas trajetórias sem comprometer e domando-se facilmente. E, nas saídas, é impressionante a prontidão da resposta, mais viva no modo de condução chamado de Untamed, que corresponderá ao Sport. Os outros dois são chamados de Active e Whisper.
Conduzi sempre com a função “one pedal” ativada e registei a eficácia do sistema de travagem, bem mordaz, e uma direção bem afinada para a potência disponível. Não deixei de experimentar o sintetizador de som que procura remeter-nos para um automóvel com motor de combustão. Tal como mos outros, conclui que será mais para mostrar aos amigos…
A título de curiosidade registei o consumo para os quase 100 quilómetros que percorri sem preocupações de poupar bateria: 18 kWh.
Equipamento e preços
Este topo de gama – enquanto não chega o GT com 487 cv – não dispensava faróis LED adaptativos, jantes em liga de 19 polegadas, pinças de travões em vermelho, pedais em alumínio e revestimento negro do tejadilho. Além de opcionais que lhe assentam muito bem como um sistema áudio B&O com dez colunas, bagageira de abertura mãos-livres, sistema de câmaras de 360 graus e bancos elétricos.
Enfim, a Ford ataca bem o mundo dos elétricos com o seu vistoso e bem construído Mustang Mach-E. Duas baterias de grande capacidade, tração traseira ou 4×4, dinâmica convincente, espaço e preços concorrenciais é um SUV com propostas tentadoras.
O Mustang Mach-E chega em Setembro e os preços anunciados são os seguintes: tração traseira 75,7 kWh/269 cv, 50 100€; 98,7 kWh/294 cv, 58 000€; com tração integral – 75,7 kWh/269 cv,57 500€; 98,7 kWh/351 cv, 66 800€.
As baterias têm garantia de oito anos ou 160 000 quilómetros.