Quando se testa um automóvel é sempre reconfortante confirmar quanto se disse de bom sobre ele. Foi o que me aconteceu com o Ioniq 6, a nova expressão de topo dos elétricos da submarca da Hyundai. Bem feito, competente, espaçoso e prometedor na economia são caraterísticas que merecem destaques num produto que já venceu preconceitos e nem precisa de ser barato: 64 790€, a versão Vanguard, oferta mais rica da gama…
Recebi o Ioniq 6 com 90% da carga e a indicação de 355 quilómetros de autonomia. E propus-me experiência que nunca fizera: 50 quilómetros exclusivamente em cidade e num dia de trânsito muito congestionado. Ora bem, o consumo não me surpreendeu, 21,5 kWh (havia de fazer bem melhor…), mas, ar condicionado sempre ligado, o curioso é que tinha ganho mais nove quilómetros de autonomia. Segundo o computador de bordo, tinha carga mais 314 quilómetros. E a prova de que seria sempre a ganhar aconteceu com 64 quilómetros percorridos e mais 316 por fazer: 14 quilómetros com consumo de apenas dois quilómetros.
É verdade que todos sabemos que na cidade os elétricos estão “mais cómodos”. Por isso, fui para a autoestrada, e afinei o cruise control inteligente para os 120 km/h: resultado média de 17,4 kWh, honesto. E depois a estrada secundária e o percurso suburbano, em andamento normal, 20,5 kWh/100 km.
Resumindo, em 160 quilómetros, média final de 20 kWh/100 km e autonomia prometida de mais 202 quilómetros. Fazendo as contas para os iniciais 355, sete quilómetros “à borla”. Interessante no mínimo apesar de a promessa ser de 545 quilómetros…
Outro estilo, menos arrojado e mais desportivo, interessante ambiente interior, a mesma bateria de 77,4 kW e 800 v, 228 cv e 350 Nm, 7,4 segundos de 0 a 100 e 185 km/h, até 545 quilómetros de autonomia e aí está o Ionic 6 Vanguard, outro Hyundai na primeira linha dos 100% elétricos
Algum truque? Rodei a maioria do percurso em ECO, regeneração no máximo, o que significa i-Pedal, experimentei o modo Normal para avaliar a diferença de disponibilidade e o modo Sport para aquilatar do esperado nervo da abertura a toda a capacidade dos 228 cv e, sobretudo, dos 350 Nm de binário deste tração traseira.
Despachado, agressivo e mordaz… em modo Sport
Começando pelo fim, a resposta é pronta, o despacho muito, a subida dos números do velocímetro impressiva, mesmo não sendo avassaladora. E entrando numa estrada sinuosa, com alguma exigência na condução mais rápida, o Ioniq 6 mostra-se à-vontade, agressivo e mordaz, estável no contrabalanço do serpenteado de curvas. Inspira confiança, até porque percebemos que as coisas podem passar-se muito depressa – a suspensão continua a contemplar uma solução multibraços na traseira. O i-Pedal ajuda, com a sua capacidade de redução que, ainda assim, pode não evitar a necessidade de travar… Competente!
Pior é que o consumo dispara num ápice, e custa pouco entrar na casa dos 26 kWh e lá se vão os ganhos “contra” a autonomia, desfeitos pelo prazer de uma condução envolvente e provocadora… Julgo que o modo Sport será, para a maioria, um auxiliar importante nas ultrapassagens e recurso temporário para alimentar a adrenalina e desafiar o “radar da sorte”…
O modo Normal traz alguma diferença face ao ECO mas, em boa verdade, numa viagem de autoestrada, cruise control ligado não é preciso mais do que o mínimo que garante sempre o máximo de autonomia… com conforto e a comodidade do espaço.
Este Ioniq 6 é um grande contraste estético em relação ao Ioniq 5. Assumidamente desportivo, coupé de quatro portas bem lançado e mais sóbrio sem passar despercebido, tem frente alongada, perfil marcado pelo tejadilho bem curvado, traseira desportiva e atrevida, estendida também, luzes elevadas, duplo deflector, um deles transparente construído numa autêntica placa de LED.
Por tudo isto, um coeficiente aerodinâmico que merece registo – Cd 0,21 (o mais baixo da marca), notável e importante no capítulo da eficiência e dos resultados.
Interior bem resolvido, qualidade mas um reparo
No interior, o mesmo ambiente high-tech, o grande ecrã a dominar e um volante multifunções achatado com uma barra de quatro LED ao centro e uma consola diferente, não menos original e prática, também suspensa mas fixa. E a mesma qualidade feita de materiais sustentáveis, bem combinados e um acabamento cuidado que constroem um ambiente moderno e sóbrio. De todo o modo, podia esperar-se um nadinha mais de requinte e, por exemplo, outro plástico no porta objetos sobre a consola e mesmo outro material no espelho desta. Por tudo o mais, o Ioniq 6 merecia estes pormenores.
Sentimo-nos bem a bordo, os 2,95 metros entre eixos e o fundo plano são garantia de muito espaço – atrás, a curva do tejadilho dificulta o acesso. As 64 cores da luz ambiente dão uma ajuda no conforto, e a condução é também ela feita de agradabilidade. Direção bem medida para a escolha (e pode ser afinada, como a sensibilidade do acelerador), regulação da regeneração pela travagem (patilhas no volante) que permite chegar, como referimos, ao i-Pedal. E claro, três modos de condução, que gerem tudo isso mais a potência do motor, comandados por um prático botão no volante.
Com 4,85 metros de comprimento, 1,88 de largura e 1,495 de altura, o Inoniq 6, motor à frente e tração traseira, também disponibiliza dois espaços para bagagem, uma caixa sob o capô, com 45 litros de capacidade, ideal para transportar os cabos de carregamento, e uma bagageira convencional com 401 litros, esta com altura reduzida, fundo desnivelado da moldura do portão, o que ajuda pouco na usabilidade quando de transportam objetos mais pesados.
A bateria utilizada continua a ser a unidade de iões de lítio com 77,4 kWh, posicionada entre as rodas, que alimenta um motor de 228 cv de potência e 350 Nm de binário. Traduzido em prestações, segundo o construtor temos 7,4 segundos na aceleração 0-100 e 185 km/h em velocidade de ponta.
No Vanguard, as imponentes jantes de 20 polegadas, e mais uns quilos de equipamento, “atiram” o consumo para os 16 kWh/100 km e 545 quilómetros de autonomia. Na versão Premium com as jantes aerodinâmicas de 18 polegadas a autonomia sobe para 641 quilómetros. Uma diferença bem significativa.
No que respeita ao capítulo do carregamento, o Ionic 6 mantém-se na linha da frente com a sua bateria de 800 V, que pode significar até 11 Kwh em AC ou 232 kWh em DC ultrarrápido. Daí, a possibilidade de um carregamento dos 10 aos 80% da capacidade em apenas 18 minutos, ou, fazendo as contas de outro modo, 100 km em menos de cinco minutos!
Em matéria de equipamento, o topo de gama, oferece pacote considerável. A saber, faróis LED Matrix, ar condicionado bizona, ecrã tátil de 12,3” com navegação, porta da bagageira elétrica, carregador wireless, Hyundai Smart Sense, sensores de estacionamento e de luz e chuva, câmara de 360 graus, volante aquecido, bancos em pele ventilados na frente e de relaxamento com ajuste elétrico, bancos traseiros aquecidos, sistema de som Bose e active soud design, puxadores de portas embutidos automáticos, bomba de calor, head-up-display, estacionamento com controlo à distância, monitorização de ângulo morto, assistente de previsão de colisões no estacionamento, luzes ambiente em LED e volante interativo LED, jantes em liga de 20 polegadas.
Outro estilo, menos arrojado e mais desportivo, interessante ambiente interior, a mesma bateria de 77,4 kW e 800 v, 228 cv e 350 Nm, 7,4 segundos de 0 a 100 e 185 km/h, até 641 quilómetros de autonomia e aí está o Ionic 6, outro Hyundai na primeira linha dos 100% elétricos.
FICHA TÉCNICA
Ioniq 6 Vanguard
Motor: síncrono, magneto permanente
Potência: 228 cv
Binário: 350 Nm
Transmissão: tração traseira, velocidade única
Aceleração 0-100: 7,4 segundos
Velocidade máxima: 185 km/h
Bateria: 77,4 kWh, 800 V, iões de lítio
Carregamento: ultrarrápido dos 10 aos 80% em 18 minutos (carregador de bordo AC de 11 kWh e DC até 232 kWh)
Consumo médio: 16 kWh/100 km (14,3 kWh/100 km com jantes de 18”)
Autonomia: 545 km (641 com jantes 18”)
Dimensões: c/l/a – 4,855/1,885/1,495 m
Bagageira: 401 litros + caixa com 45 litros sob o capô
Preço: 64 790€ (Versão Premium com jantes de 18”, 59 300€)