Conforto é tradição na Citroën, mas o patamar atingido pelo C5 Aircross impressionou-me. Tive até necessidade de ver corroborada a minha ideia. Parece-me um dos mais expressivos exemplos da validade da tecnologia das suspensões de duplo batente progressivo. Guiei o 1.5 BlueHDI de 130 cv, o bastante para recordar um SUV tão agradável de desfrutar que me fez sentir num automóvel com pantufas…
A imagem começa, também ela, a ser emblemática, com o novo rosto de família, o prolongamento do símbolo a vincar a linha do capô com vivos cromados, os dois patamares de iluminação, limites arredondados para uma carroçaria a sugerir bloco lapidado, cintura elevada, boa superfície vidrada, formas originais para sugerir compacidade e robustez. Um SUV corpulento, valorizado quando “calça” as grandes jantes de 19 polegadas, as quais ajudam a sublinhar postura convincente em estrada. Não falta originalidade, apesar da singeleza do design a privilegiar o objeto útil. Um automóvel que se “percebe” e faz sentido. Até pelo remate da traseira, esculpida q.b., impactante pela naturalidade. Bem resolvido e no fundo vistoso pelo equilíbrio das proporções.
No interior, ambiente interessante, com a questão do predomínio do plástico bem resolvida, primeiro pela escolha dos materiais que se alargam ao piano black e alguns vivos cromados, depois pela própria conceção, na qual desponta o tablier horizontalizado e rasgado por uma barra a toda a largura, interrompida apenas pelo espaço do painel de instrumentos e pela incrustração do ecrã tátil de grandes dimensões. A tentação de simplicar nos comandos foi bem doseada, restando o mínimo necessário. De todo o modo, a digitalização é total, e recorre à solução do painel de instrumentos intermutável, no caso com cinco cenários à escolha, numa linha futurista, hoje transversal à oferta – a compor a modernidade combinada com um toque de clássico. Simples e simpático ao olhar, numa outra forma de interpretar a necessidade de ser diferente que volta à Citroën.
Um SUV que leva muito alto os padrões de conforto, “senhor” de um pisar marcante, agradável de conduzir também pela ajuda da caixa automática. Motor ajustado a quem não faça corridas, espaço e modularidade consideráveis, e muita tecnologia num ambiente simpático. O preço tem grande amplitude em função das versões propostas
Uma grande consola divide o cockpit e define espaços dos dois lados do grande apoio de braços que oculta uma caixa de dimensões muito razoáveis. Quem viaja à frente tem espaço de sobra para se evitar o conflito de cotovelos.
Três lugares reguláveis e escamoteáveis
Atrás, o banco faz-se de três lugares iguais, com a particularidade de todos eles serem reguláveis longitudinalmente e na inclinação das costas, neste caso a partir das alças colocadas entre as costas e o assento; são ainda escamoteáveis. Qualquer das operações é fácil e favorece a modularidade, um sem número de soluções a valorizar o lado prático da utilização do C5 Aircross, para o qual conta uma bagageira de capacidade razoável à vista (a capacidade não é anunciada), um pouco penalizável pela altura do plano de carga. Há uma pequena chapeleira que funciona em articulação com o movimento do portão.
Bem sentados ao volante experimentamos rapidamente a sensação do convite para gozar um nível de conforto superior, pautado por um rolamento muito natural e um despacho aceitável. Tudo isto é potenciado se, como era o caso, se desfruta da excelente caixa automática de oito velocidades, com patilhas no volante, que o Grupo PSA compra aos japoneses da Aisin. O pisar é decidido, o despacho está ao nível da agradabilidade da condução, mas a filosofia deste C5 Aircross não “puxa” para que se use de uma grande agressividade ao volante. Claro que não recusa a proposta, também na medida das capacidades do motor, acama ligeiramente sem adornar em excesso, mas é outra coisa, mesmo recorrendo ao modo Sport que “endurece” muito discretamente as coisas. Do que o C5 Aircross gosta, realmente, é de mostrar a souplesse do seu pisar em estrada ou até fora dela, já que enfrente naturalmente os estradões.
Coração suficiente, prestações vulgares
Em termos de capacidade, os 130 cv e sobretudo os 300 Nm se binário garantem o suficiente para um chefe de família que não seja muito apressado – as prestações são vulgares. O desembaraço é o suficiente, não há problemas a baixo regime, e este 1.5 a “puxar” 1430 quilos mostra o coração bastante para a caixa automática de oito velocidades nem precisar de ter muito trabalho. Caixa, sublinhe-se, a potenciar sobremaneira a agradabilidade de condução de um SUV que se comporta a preceito naqueles andamentos normais.
Em termos de consumo, um combinado com autoestrada e percursos urbanos permitiu-me ler a média de 6,9 litros aos 100 no computador de bordo, mas foi evidente que os números baixavam sempre no ritmo certinho da autoestrada.
O C5 Aircross que guiei foi um Shine (topo da oferta), com os confortáveis bancos Advanced Confort e um pacote que inclui portão traseiro mãos livres, pedais e apoio do pé em alumínio, acesso e arranque mãos livres (disponível nas portas dianteiras, portão traseiro e tampa de acesso ao combustível), faróis Full LED, vidros laterais temperados e escurecidos, Grip Control com cinco modos de aderência, banco do condutor com regulação eléctrica. Para fazer mais diferença, acrescia o pacote Safety Plus que acompanha a caixa automática de oito velocidades: regulador de velocidade adaptativo com funções Stop&Go, condução autónoma de nível 2, alerta de atenção do condutor, reconhecimento de sinais e comutação automática dos faróis. Além de tudo isto, como extras: barras no tejadilho (200 euros) ConnectedCAM (200 euros), tejadilho deslizante panorâmico (1100 euros), Park Assist 360 graus (650 euros), roda sobressalente temporária (120 euros) e jantes em liga de 19″ (125 euros). Fazendo as contas mais 3395 euros sobre o preço base a somar 43 170 euros. Há coisas que se pagam, ofertas mais baratas na gama e na concorrência.
Em suma, um SUV que leva muito alto os padrões de conforto, “senhor” de um pisar marcante, agradável de conduzir também pela ajuda da caixa automática. Motor ajustado a quem não faça corridas, espaço e modularidade consideráveis, e muita tecnologia num ambiente simpático. O preço tem grande amplitude em função das três versões propostas.
Imagens das muitas capacidades de um SUV
FICHA TÉCNICA
Citroën C5 Aircross 1.5 BlueHDI Shine EAT8
Motor: 1499 cc, turbodiesel, injeção direta, start/stop
Potência: 131 cv/3750 rpm
Binário máximo: 300 Nm/1750 rpm
Transmissão: caixa automática de oito velocidadespatilhas no volante
Aceleração 0-100: 10,6 segundos
Velocidade máxima: 189 km/h
Consumos (WLTP): média – 4,1 litros/100; estrada – 3,9; urbano – 4,4*
Emissões: 119 g/km
Bagageira: capacidade não divulgada
Preço: versão ensaiada: 43 170 euros; desde 32 606 euros: entrada de gama, 27 134 euros
*Valores com jantes de 19 polegadas