Faltam as palavras. É a primeira ideia quando há que falar do Bentley Continental GT Convertible. Esta é outra dimensão do automóvel. A nobreza dos 12 cilindros, a opulência, requinte e luxo do ambiente, a tecnologia e, enfim, a capacidade da máquina transportam-nos para um mundo de exclusividade que, para o comum dos mortais, só pode ser cinema… afinal custa 362 mil euros!

Abre-se a porta e é um deslumbramento. A madeira exótica, a pele de primeira pespontada a rigor, os estofos impressionantes, o alumínio e os cromados, a expressão cuidada do digital no painel de instrumentos e no ecrã central, transfigurável, como por magia, em mostradores analógicos – para ser mais clássico –  de temperatura, bússola e cronómetro, ou desaparecer na continuidade do tablier, o ambiente de exuberância carregada de bom gosto, tudo isto obriga-nos a respirar fundo, a saborear os pormenores e a pensar como seria bom se todos os automóveis fossem assim.

Não pode ser, é claro, como percebemos ao ler o handcrafted gravado nas placas colocadas na soleira da portas, sobre o Bentley iluminado a azul e o B projetado em luz amarela no chão, como se fosse possível esquecer que acabamos de nos sentar num superautomóvel, expressão magnânima do coupé. Um exagero, pensarão alguns. Pois bem, candidatem-se a experimentar e depois digam-me…

Superautomóvel este Bentley Continental GT Convertible, que à montra de luxo e conforto e à exuberância do estilo, junta uma receita técnica excepcional, na qual pontifica um motor capaz de lhe permitir prestações de arrepiar. O preço não conta… É para poucos

Continuando…

…Bancos desportivos  vestidos a rigor e, claro, bordados com o símbolo da marca, a pele perfurada porque há refrigeração e aquecimento a par da massagem com vários modos. Depois, tudo elétrico e nem o facto de os interruptores na consola impressionente serem muitos faz confusão, dado tudo ser lógico, intuitivo, O lindíssimo volante multifunções, por isso, até está reduzido à expressão mais simples, dando outro relevo às discretas patilhas da caixa de velocidades.

Nem tudo é super…

Há espaço de sobra, à frente, mas menos atrás, onde se experimenta um acanhamento inesperado naqueles dois bancos que são outra expressão de luxo. Para que alguém de estatura normal se sente lá atrás viaje comodamente, e com a capota fechada também nem é muita a altura de sobra, impõe-se  “puxar” os bancos à frente, e então é o inverso, perde-se conforto na posição de condução, ou ao lado. A bagageira sofre do mesmo mal, é penalizada pela solução convertible e pelo espaço necessário para arrumar a capota. O volume é escasso – 235 litros –, a altura reduzida, mas não foi esquecida a necessidade de arrumar um saco de golfe…

Já que se falou de capota, uma nota para o requinte do acabamento, quase igual  a uma versão de capota rígida. E nem se dá pela diferença em andamento, influência alguma do vento na lona, ruído aerodinâmico zero, silêncio absoluto.

Quando chegamos a este ponto já nos deixámos conquistar pelas linhas, aquele estilo que parte do apuramento e do acerto das formas, incrivelmente naturais e fluídas para as dimensões mastodônticas do impressionante cabriolet, demonstração de inequívoco poder, reforçado pelas impressionantes jantes de 22 polegadas! Logo a imponência da grelha retém-nos  e percebemos a sua importância ao sentirmos que ela funciona como espécie de “afastador” quando surge no retrovisor de quem nos precede. E nem é preciso ir depressa!

E os faróis com aquele lapidado interior? Um mimo de conceção e execução a juntar à eficácia Full LED matrix. Não podia ser outra coisa…

Orquestra afinada

Quando se liga o motor e a orquestra do 12 cilindros se faz ouvir, todas as emoções sensoriais que ficam para trás até começam por parecer abafadas. Se já nos sentíamos pequeninos, mais pequeninos ficamos… Imponente, só visto – melhor ouvido!

A docilidade do arranque e a manobrabilidade em parque surpreendem imediatamente. Afinal são 685 cv e 4,85 metros de comprimento a juntar a 2,8 toneladas, mas nem parece. A partir daqui, é um assombro. Impressiona como se consegue “atirar” este colosso de força para as curvas numa zona sinuosa e a abgilidade que ele evidencia. Eu sei que a tração é integral, que graças à bateria de 48 V há barras estabilizadoras ativas, amortecedores com três câmaras de ar para uma suspensão inteligente, mas é difícil ficar indiferente ao resultado desta combinação. Entre o sorriso e o arrepio é um nada, tal a prontidão com que os 900 Nm de binário nos chamam à razão e põem em respeito. Uma “gasada” e aí estão as costas coladas ao banco… E quando se olha para o velocímetro, a surpresa é que até vamos mais depressa do que julgamos.

A praia de um automóvel assim são preferencialmente as autoestradas alemãs, onde de pode ver a faixa e rodagem afunilar a 333 km/h, velocidade que, percebe-se, nem custa muito a alcançar, quando é possível chegar aos 100 em 3,8 segundos e pouco depois, pé no fundo, estamos a 160 quando o cronómetro chega aos 8 segundos… São prestações ao nível de outros grandes desportivos com filosofia diferente. Vibrante!

Transmissão irrepreensível

Para gozar tanta capacidade há quatro modos de condução, um deles até sugestivamente designado Bentley. No modo Sport, como está bem de ver há outra “música” a acompanhar a transfiguração habitual destas receitas. E quase apetece dizer que nem é preciso…

A caixa de oito velocidades e dupla embraiagem é uma ZF e tem uma resposta irrepreensível quando pensa por ela e suficientemente rápida na altura em que assumimos o comando. Será mais uma expressão de prazer do que de verdadeira eficácia, porque tudo funciona tão bem que os ganhos devem ser apenas para quem se exercita na pilotagem. Isto também porque os travões, quatro discos impressionantes, todos ventilados, dez pistões à frente e quatro atrás, não são simples desaceleradores e parar aquela massa tem que se lhe diga. E é preciso nunca o esquecer!

Desativação de cilindros

Quem compra um automóvel assim não está preocupado como os consumos. Mas a Bentley não descura o que a técnica permite para tornar o Continental mais económico, por isso o motor tem um sistema de desativação de cilindros que permite, em situações de pouca carga, ter apenas seis a trabalhar. É claro que não se dá por nada e faz a sua diferença no final. A média WLTP indicada é de 14,8 litros aos 100, no computador de bordo do automóvel que guiei havia um acumulado para 1500 km de 17,7.

E este Ben tleyque conduzi era uma autêntica montra de equipamento opcional que acrescentava ao preço cerca de 45 mil euros. A lista é extensa, mas podemos referir que o sistema de som Bang&Olufsen (2200 w e 19 altifalantes) custa 5 075 euros e a TV digital 985, os bancos dianteiros especiais, mais 4085, e o display central rotativo 4 775 euros. O resto é quase tudo…

Enfim, um superautomóvel este Bentley Continental GT Convertible, que à montra de luxo e conforto e à exuberância do estilo, junta uma receita técnica excepcional na qual pontifica um motor que lhe permite prestações de arrepiar. O preço não conta… É para poucos.

Um filme, um estilo, uma realidade… quase cinematográfica

FICHA TÉCNICA

Bentley Continental GT Convertible

Motor: 6.0 W12 TSI, biturbo, injeção direta combinada, intercooler; desativação de cilindros

Potência: 635 cv/6000 rpm

Binário máximo: 900 Nm/1350-4500 rpm

Transmissão: tração integral ativa, caixa automática de oito velocidades com dupla embraiagem

Aceleração 0-100: 3,8 segundos

Velocidade máxima: 333 km/h

Consumos: 14,8 litros/100 km – médio WLTP; mínino – 11,8; máximo – 22,9

Emissões CO2: 317 g/km

Mala: 235 litros

Preço: versão ensaiada, 362 212 euros