É a versão de entrada na opção desportiva do novo Audi A3 Sportback. Tem o apelo de um premium mas também uma motorização modesta para dar peso a essa imagem. Com o conhecido três cilindros 1.0, agora com 110 cv, deixa sabor a pouco . Generoso, económico tem mais estatuto do que alma. Cumpre, é verdade, e faz-se pagar pela mais valia colada ao emblema.

A quarta geração do Audi S3 Sportback mantém a filosofia de estilo. Ganha agressividade na frente dominada pela grande grelha singleframe ainda mais proeminente, tem porte atlético nas formas compactas que mantém a característica sobriedade associada ao emblema dos anéis. Tudo muito natural e fluido, um indiscutível toque de classe, num automóvel  com boa postura em estrada e que pisa muito bem

Estamos perante um daqueles automóveis a dispensar críticas no plano da estética e, uma vez no interior, vamos encontrar aquela modernidade que a marca tem exercitado com sucesso. O posto de condução é isso mesmo, com o ecrã central orientado para quem está ao volante e uma ergonomia sem mácula, num ambiente desportivo, marcado pelo negro. E nesta versão S Line que guiei não se dispensam os bancos a preceito, ao estilo de bacquet, com excelente apoio, consola redesenhada que liga bem com o tablier original, que recorre à imitação do pesponto e  dá relevo especial às saídas de ar. Conjunto vistoso.

Um premium tão bem recheado, bem comportado e cómodo merecia uma alma que o três cilindros 1.0 de 110 cv não empresta ao novo Audi A3 Sportback. As prestações são vulgares, sobram os bons consumos e a imagem estatutária que se faz pagar, e muito quando se carrega no equipamento.

O painel de instrumentos é digital e o sistema de infoentretenimento, num ecrã tátil de 10,1 polegadas, com superfície preta de alto brilho (a dedadas são pior…), proporciona muita informação num sistema razoavelmente intuitivo.

A construção respeita a tradição do grupo, mas o plástico é muito, bem maquilhado, é verdade, em combinações criteriosas de acabamentos diversos que valorizam o aspeto. De qualquer forma, nem uma pontinha de tecido, ao menos no forro das portas. Temos de nos habituar, é cada vez mais assim em todas as marcas…

O espaço é razoável à frente; melhor do que se espera na traseira, onde duas pessoas viajam desafogadamente e sentadas até em bancos mais recetivos do que é a tradição alemã.

A bagageira está na média (380 litros), e os bancos rebatem na proporção 40x20x40, de forma a permitir transportar objetos mais compridos ao meio. Não é novo mas dá jeito. A capacidade máxima chega aos 1200 litros. O pneu sobresselente (extra) vale a falta de um fundo falso, pela segurança que sempre representa.

O motor três cilindros 1.0, agora com 110 cv (tinha 116) continua a ser dos mais silenciosos – a boa insonorização também deve registar-se – e não se sentem as vibrações. Mas, ainda que generoso na entrega da potência (200 Nm de binário máximo) e permita ao Audi A3 30 TFSI portar-se como um bom rolador, denota alguma falta de alma, sobretudo nas subidas de regime. As prestações não deixam dúvidas: 10,6 segundos de 0 a 100, mais vulgares do que os 204 km/h de velocidade máxima. A caixa de seis velocidades também está escalonada para favorecer mais e economia do que o nervo.

Por isso, os valores de consumo são interessantes, aliás na tradição de um três cilindros que se destaca entre a concorrência por essa caraterística. Consegui 5,2 litros aos 100 em autoestrada aos sacramentais 120 km/h regulados pelo cruise control, e num percurso suburbano em andamento respeitador dos limites, alcancei mesmo 5 litros redondos. O acumulado registado no computador de bordo para um percurso de 263 quilómetros, indicava 7,7 l/100. Quando se pisa o risco, não acontecem milagres!

Em curva, este é um tração dianteira muito capaz, aliás capaz de muito mais. É bem mandado, muito ágil, direção bem doseada por um volante de boas dimensões e pega, segue o seu caminho sem percalços e até se desembaraça depressinha sem dificuldades. Nos encadeados mais exigentes está à vontade e permite andar largo. Claro, são 110 cv… e qualquer exagero domina-se, facilmente, levantando o pé. Os Pirelli P7 são contribuição importante!

De qualquer forma, deve registar-se que esta versão conta com uma suspensão menos apurada do que a destinada às versões mais potentes. Neste caso, atrás há um eixo de torção – e cumpre – em vez de um sistema multibraços. Na dianteira, são todos de rodas independentes, estrutura McPherson com triângulos inferiores.

A versão S Line, topo de gama, que conduzi estava carregada de equipamento que encarecia o carro em 7 830€ (19,1% do total). A saber, entre outros: pintura metalizada, faróis LED com assistente de máximos e  piscas dinâmicos na traseira, vidros traseiros escurecidos, pneu sobresselente de dimensão reduzida, bancos desportivos em tecido e pele sintética, inserções decorativas em alumínio, iluminação interior com 30 cores diferentes, forro do tejadilho em preto, pedais revestidos a aço inoxidável, retrovisores exteriores elétricos, aquecidos, rebatíveis e antiencandeamento, sistema de som Bang & Olufsen (15 altifalantes e subwoofer).

Um premium tão bem recheado, bem comportado e cómodo merecia uma alma que o três cilindros 1.0 de 110 cv não empresta ao novo Audi A3 Sportback. As prestações são vulgares, sobram os bons consumos e a imagem estatutária que se faz pagar, e muito quando se carrega no equipamento.

FICHA TÉCNICA

Audi A3 Sportback 30 TFSI 110 cv S Line*

Motor: 993 cc, três cilindros, gasolina, turbo, intercooler, injeção direta

Potência: 110 cv/5500 rpm

Binário máximo: 200 Nm/2000 rpm

Transmissão: caixa manual de seis velocidades

Aceleração 0-100: 10,6 segundos

Velocidade máxima: 204 km/h

Consumo: média WLTP – 5,4 l/100 km

Emissões CO2: WLTP – 123 g/km

Dimensões: (C/L/A) – 4343/1816/1449 mm

Bagageira: 380/1200 litros

Peso: 1195 kg

Preço: 40 689€, versão ensaiada; desde 32 859€, para o S Line

*Concorrente a Carro do Ano e à categoria de melhor familiar