Acho que não era preciso esperar tanto – o carro existe desde 2016… Eu sei que os três volumes têm pouca tradição em Portugal entre os segmentos que vendem. E compreendo que, com o futuro anunciado para penalizar as emissões em termos de política fiscal, seja preciso acautelar o espaço que o Talisman pode deixar vago. Verdade é que o Mégane Grand Coupé tem qualidades para se afirmar. E preços simpáticos.

Quando os gostos do mercado privilegiam SUV e crossovers e, por cá, ainda as carrinhas, um três volumes, o formato conservador agora sujeito ao “princípio” do coupé de quatro portas, parece pouco atrativo. Terá sido isso que levou a Renault a protelar o lançamento do Mégane Grand Coupé – designação exclusiva para Portugal de uma versão batizada Sedan…

Os especialistas podem justificar, por certo, a decisão, mas para mim foi uma bela surpresa, ou se preferirem, a confirmação de o Grand Coupé fazer jus ao que o fato esconde: o melhor da tradição Mégane, uma proposta honesta e equilibrada naquilo que se espera de um automóvel. E isso são consumos razoáveis para um 1.6 diesel de 130 cv, prestações interessantes e comportamento convincente.

Este não será o exemplo mais conseguido do coupé de quatro portas, mas é a aplicação num familiar de quatro portas e três volumes, frente conhecida e muito personalizada, perfil elegante e tejadilho em cunha bem suavizada, de uma traseira que assenta que nem uma luva. Um Mégane com muita presença, que terá alguma coisa de Talisman mais pequeno, verdade, mas não vem daí mal ao mundo num carro aumentado 23,7 cm (4,63 metros de comprimento!) face à berlina e beneficiado ainda pelas vias mais largas (como no Sport Tourer).

Proposta interessante para quem quer um familiar espaçoso, confortável,  formas elegantes e atuais numa solução clássica, turbodiesel cumpridor, agradável de guiar, boa dinâmica, prestações normais e consumos aceitáveis. Preço competitivo e cinco anos de garantia

No interior, nada que surpreenda: um Mégane, com o dominador ecrã central tátil verticalizado e aquele software (R-Link 2) a pedir alguma habituação. Para mim, qualidade e construção à parte – em bom plano –, e a bordo da versão Executive, topo de gama, ambiente tristonho, aplicado numa espécie de germanização do estilo, até com alguns pormenores interessantes. Contrasta a iluminação interior (azul), que ameniza a sobriedade do negro, plásticos almofadados, meia dúzia de frisos em alumínio acetinado, pele sintética no bordo dos bancos e nos apoios de braços, mais uns plásticos frios onde se podia pedir um “toque” de brilho, por exemplo de um piano black para compor a imagem tão sugestiva da carroçaria e uma aproximação à oferta superior. Enfim, são assim os Mégane e não é por isso que deixam de vender bem.

Mais habitabilidade e grande bagageira

Em termos de espaço, ganha – e muito – a habitabilidade, sobretudo atrás, onde se viaja confortavelmente. O acesso é fácil para o género, mas, óbvio, a inclinação do tejadilho não deixa de fazer-se sentir. Nada, porém, de claustrofóbico mesmo que a inclinação do óculo reduza a luminosidade. A consola, que leva o ar condicionado para trás, não é muito intrusiva, mas o túnel é alto, e daí um quinto passageiro viajar menos bem, até porque o recosto esconde o apoio de braços central e, logo, não oferece o conforto dos dois lugares “desenhados” no banco da retaguarda.

A bagageira é boa, muito boa mesmo com os seus  550 litros de capacidade – mais 29 litros do que a carrinha! – e dimensões consideráveis: 1,084 m de fundo e 1,392 m de largura. O plano de carga é normal, mas apresenta desnível significativo face à “boca”, a qual não é brilhante em altura. Sob o fundo, pneu sobresselente.

No que respeita à dinâmica, outro Mégane que se conduz com prazer, posição agradável ao volante e, como de costume, bancos envolventes a garantirem conforto e bom apoio. O 1.6 dCi de 130 cv (em breve será atualizado) não se revela explosivo (é mais veloz do que rápido), mas as rotações sobem com naturalidade e tem a ajuda de uma caixa de seis velocidades bem escalonada para a exploração normal num familiar. Os 320 Nm de binário dão uma ajuda razoável na facilidade de condução.

A curvar, o Grand Coupé é um gosto, apesar do aumento das dimensões e do peso: ágil, antes de tudo; muito capaz, depois, agarrando-se “com tudo” ao alcatrão e respondendo com assertividade às ordens de uma direção de “toque” especial, agradável e com um compromisso bem conseguido em termos da assistência. Nas curvas largas, inspira confiança, suportando o apoio sem grandes oscilações; nas zonas sinuosas, mesmo que a transferência de massas não passe despercebida, ziguezagueia sem queixume, comprovando a receita sempre judiciosa que a Renault consegue entre a eficácia e o conforto típico dos automóveis franceses. Numa palavra: convence!

No que respeita a consumos, consegui resultados aceitáveis, mas nada que surpreendesse. No percurso suburbano, andei pelos 7.3 litros aos 100 de média; na autoestrada, cruise-control nos sacramentais 120, o computador de bordo registou 5,5, mas fiquei com a ideia de que, numa viagem longa, consegue-se baixar destes números.

A versão Executive, topo de gama, oferece um nível de equipamento interessante que acrescenta a uma oferta já razoável de base, o sistema Multi-Sense com cinco modos de condução, faróis Full Led automáticos, travão de estacionamento assistido, reconhecimento dos sinais de trânsito com alerta para a velocidade, alerta de transposição de faixa, sensores de luz e chuva, câmara de marcha atrás, retrovisores rebatíveis eletricamente com desembaciador, tejadilho de abrir panorâmico elétrico, ecrã de 8,7 polegadas com navegação, jantes e 18 polegadas.

Proposta interessante para quem quer um familiar espaçoso, confortável,  formas elegantes e atuais numa solução clássica, turbodiesel cumpridor, agradável de guiar, boa dinâmica, prestações normais e consumos aceitáveis. Preço competitivo e cinco anos de garantia.

FICHA TÉCNICA

Renault Mégane Grand Coupé dCi 130 cv

Motor: 1598 cc, turbodiesel, injeção direta, start/stop e recuperação de energia na travagem

Potência: 130 cv/4000 rpm

Binário máximo: 320 Nm/1750 rpm

Transmissão: caixa manual de seis velocidades

Aceleração 0-100: 10,5 segundos

Velocidade máxima: 201 km/h

Consumos (NEDC): média – 4 litros/100 Km; estrada – 3,7; urbano – 4,6

Emissões CO2:  105 g/km

Bagageira: 550 litros

Preço: 32 430 euros, versão ensaiada; desde 24 230 euros para os TCe de 130 cv