Portentoso, obra de arte da engenharia automóvel plasmada num descapotável de pureza a que é difícil ficar indiferente. A nobreza de um V8 “sinfónico”, orquestra afinada a ponto de nos levar também às emoções sensoriais da máquina, faz do Lexus LC 500 automóvel para os registos dourados de uma era à beira do fim. Um requiem dos “compositores” japoneses pelos automóveis com motor de combustão. Haja memória, porque a experiência vai ficar para a história… Que grande automóvel; dá choque e não é elétrico…
O gosto é algo de muito pessoal, mas não resisto a julgar pelos olhos dos outros, daqueles que pararam para olhar e remirar este Lexus, ou o acompanharam na estrada para lhe “tirarem as medidas”. Pareceram-me, por isso, ser muitos os que pensam como eu, um belíssimo automóvel este grande descapotável da Lexus. Pode ser à medida americana, árabe também, mas fica bem em qualquer lado. É como as jóias famosas, tem o toque do intemporal. E mais porque até um garoto, num posto de gasolina, veio ter comigo e pediu: não se importa de acelerar? Fiz-lhe a vontade. E gozou tanto como os outros que “despertaram” com o fortíssimo do recital inesperado do motor…
E vou dispensar-me da análise pormenorizada. Foi desenhado com alma e depois esculpido com o rigor da paixão pela forma, é uma peça, e aos pormenores do artista junta retoques de arquiteto brilhante. Homenagem a tudo quanto o Japão tem de genial nestas áreas. Mesmo quem não for fã incondicional dos descapotáveis, como eu, vai render-se ao espetáculo da peça. Impressionante. “É mesmo bonito”, disseram-me várias vezes. Estou plenamente de acordo.
O interior acompanha a mestria exterior com o talento dos artesãos japoneses que revestem de requinte o design simples. Pele, no caso camel, dois tons, um fio cromado, e até a pele virada a cobrir o painel de instrumentos herdado dos grandes Lexus, digital, com o círculo móvel do velocímetro. Acabamento irrepreensível, bancos super cómodos e, claro, bem recetivos, a grande consola que divide o carro ao meio até aos pequenos lugares traseiros – pequenos demais para 4,74 metros de automóvel. Custa a aceitar.
Descapotável impressionante, o Lexus LC 500 F Sport Plus pelo estilo muito conseguido, requinte e classe do ambiente interior, mas sobretudo pela nobreza do magnífico V8 de 5.0 litros com 464 cv e um binário de 530 Nm, que lhe permite resposta vibrante ao acelerador, é um grande automóvel!
Felizmente o ar condicionado tem comandos físicos. Mas há minudências a merecer reparo, porque nem tudo é perfeito nos grandes automóveis. Havia necessidade do vidro ao longo do tablier a cobrir o ecrã central e até o relógio analógico? Talvez não, até porque com muita luz aquilo não facilita a leitura. Escapam sempre algumas coisas. E o que continua a escapar é uma solução mais simpática, grafismo incluído, para o infoentretenimento à altura da capacidade tecnológica reconhecida aos japoneses e ao grupo Toyota. Também não simpatizo com touchpad ao estilo do portátil, que nos faz usar o dedo para controlar as opções do ecrã. Pouco prático. Com tempo, chega-se lá, claro…
Capota de luxo para “tapar” requinte e classe
A vivência de automóvel assim tem, obrigatoriamente de passar pela capota, que limita a bagageira a 197 litros de capacidade – duas pequenas malas de de fim de semana… Quatro camadas de lona, acabamento de luxo, mecanismo que descobre o carro em 15 segundos e leva 16 no movimento contrário. Funciona em movimento atá aos 50 m/h e é o espetáculo conhecido em funcionamento. Capota que assenta bem ao LC e o faz brilhar também “fechado”, comanda-se na consola, num interruptor, coberto por uma tampa, na consola, para tornar ainda mais minimalista aquele interior em que sobra o sóbrio seletor da caixa, a tecla “Hold” do travão, o tal touchpad, um botão para o volume do rádio e complemento das teclas de atalho para o ecrã. E, claro, um volante multifunções bem dimensionado, sem grande artifícios mas simpático à vista.
É difícil ser indiferente a tudo isto, mas quando se carrega no botão da ignição, vem à tona outra realidade. O troar dos oito cilindros e aquele convite irresistível levam quem gosta de automóveis para outra dimensão. O acelerador é para “acariciar”, sob pena daquele binário de 530 Nm nos alertar para uma capacidade que tem de ser domada, o que não retira, longe disso, um mínimo de prazer à facilidade de condução da “besta” nem impede a suavidade do seu rolar ao ritmo do trânsito citadino ou do passeio a ver o mar.
Dez velocidades numa combinação original
A caixa automática de dez velocidades – combinação original entre uma CVT e uma caixa automática normal! – poupa-nos a música das transmissões de variação contínua. Em Drive responde sem sobressaltos e no modo manual, situação em que simula o efeito de dupla nas reduções, oferece até uma rapidez digna de registo, mesmo que não seja de espantar. Mas a diversão é outra quando se tem um carro capaz de acelerar de 0 a 100 em 4,7 segundos e que chega aos 270 km/h. E que, como se calcula, com grande facilidade atinge velocidades proibitivas sem nos deixar a noção dos números marcados no velocímetro.
Trabalhado no sentido de oferecer uma rigidez torsional que nos faz esquecer que guiamos um descapotável, sem dispensar o autoblocante o Lexus LC 500 C é um tração traseira com um comportamento saudável e os mais atrevidos podem lamentar que não seja possível cortar completamente as ajudas eletrónicas. Mas pensem quem são os proprietários-tipo de um descapotável assim…
Essencialmente, estamos face a um grande rolador, capaz, no entanto, de se mostrar desembaraçado numa estrada de montanha, onde pode impressionar em curva e mais ainda na reserva de potência disponível na saída, apesar das mais de duas toneladas de peso. É impressionante, para mais quando a música do motor “enche” o habitáculo e convida a esquecer tudo e, optando pelo modo manual, simplesmente, guiar… e fruir a nobreza e a capacidade de um magnífico V8.
A direção dá uma ajuda, mas, sobretudo, os travões, grandes discos ventilados “dentro” das jantes de 20 polegadas, seis pinças à frente e quatro atrás, alimentam a confiança e correspondem às expetativas, porque as coisas podem passar-me mesmo depressa. A receita adequada.
Consumos à medida da capacidade do V8
E consumos? Bem, impressiona saber que o carro pode gastar 7,3 litros aos 100 aceitando os 120 km/h do limite e desafiando a paciência e o sono o carro parece parado… Em ritmo mais vivo, por estradas secundárias e com tráfego à mistura, 15 litros aos 100 serão naturais. Se o desafiar e quiser divertir-se com o modo manual, os dois dígitos terão, facilmente, um dois à frente! Obviamente isso não deve preocupar muito quem pode dar, no mínimo, os 186 000 euros da versão luxury, menos equipada, que pouco preferirão à F Sport Plus que custa 189 000 euros…
Descapotável impressionante, o Lexus LC 500 F Sport Plus pelo estilo muito conseguido, requinte e classe do ambiente interior, mas sobretudo pela nobreza do magnífico V8 de 5.0 litros com 464 cv e um binário de 530 Nm, que lhe permite resposta vibrante ao acelerador, é um grande automóvel!
Em termos de equipamento, o suficiente a este nível, como suspensão adaptativa variável, seis modos de condução, travões controlados eletronicamente, sistema pré-colisão e alerta de manutenção em faixa, detetor de ângulo morto, radar cruise-control, head-up-display, ecrã de 10,3 polegadas com navegação, sistema áudio surround Mark Levinson com 13 altifalantes, jantes de 21 polegadas. Surpreende a falta de um carregador wireless.
A título de curiosidade, estão vendidos três em Portugal.
FICHA TÉCNICA
Lexus LC 500 Cabrio F Sport Plus
Motor: V8, 4969 cc, injeção direta
Potência: 464 cv/7100 rpm
Binário máximo: 530 Nm/4 800 rpm
Transmissão: caixa automática de dez velocidades, modo sequencial com patilhas no volante
Aceleração 0-100: 4,7 segundos
Velocidade máxima: 270 km/h
Consumos: combinado – 11,6 litros/100 km; extra-urbano – 8,1; urbano – 17.6
Emissões CO2: 275 g/km
Peso: 2 045 kg
Dimensões: (c/l/a) – 4 770/1 920/ 1350 mm
Bagageira: 197 litros
Preço: €189 000