Só o silêncio de marcha permite perceber a aproximação do UX300e (Foto Newsroom Lexus)

Distância ao solo baixa 20 mm e o centro de gravidade 67 mm (Foto Newsroom Lexus)

Traseira robusta com ombros largos, agora para um crossover de base elétrica (Foto Newsroom Lexus)

Estilo interior intocado, para versão a primeira versão elétrica (Foto Newsroom Lexus)

Digitalização do painel de instrumentos fica para próxima oportunidade (Foto Newsroom Lexus)

Touchpad é solução que a Lexus mantém apesar das críticas (Foto Newsroom Lexus)

Conforto à frente e um volante de regulação limitada (Foto Newsroom Lexus)

Baterias elevam o pavimento e tiram algum conforto (Foto Newsroom Lexus)

Ao contrário do normal, bagageira cresce 47 litros face ao híbrido (Foto Newsroom Lexus)

Faróis tri-LED, com máximos adaptativos e nivelamento automático (Foto Newsroom Lexus)

Jantes de 18 polegadas são opção, medida de série é 17" (Foto Newsroom Lexus)

Smartphone permite várias programações à distância (Foto Newsroom Lexus)

Motor elétrico com 204 cv preenche bem o seu espaço (Foto Newsroom Lexus)

Plataforma GA-C foi bem aproveitada para o 100% elétrico (Foto Newsroom Lexus)

Bateria é refrigerada a ar e tem dez anos ou um milhão de quilómetros de garantia (Foto Newsroom Lexus)

No portão e nas portas traseiras os sinais discretos da diferença motriz (Foto Newsroom Lexus)

Tinha de chegar o dia e aí está o primeiro elétrico da Lexus. Tem por base a família UX e o mais pequeno crossover da marca que conhecemos como eficiente híbrido. Bem feito, claro, afina por bons padrões de qualidade, revela rolamento suave e comodidade suficiente, boa insonorização, autonomia razoável de 315 quilómetros WLTP para uma bateria de 54,3 kWh, 204cv e 300 Nm de binário. O UX300e custa desde €52 250 e, como de costume, parece bom negócio para quem pode usufruir das benesses fiscais.

Quando um grupo que domina como ninguém a tecnologia híbrida e está muito evoluído no campo da alimentação a hidrogénio lança um automóvel elétrico parece legítimo colocar a fasquia alta. Não é o que acontece com o Lexus UX300e, por que, desde logo, não conta com uma plataforma específica. No fundo, até parece que o grupo Toyota precisava de provar que quando o 100 por cento elétrico for inevitável, não faltará a resposta do colosso nipónico… É que eles não precisam de o fazer para não sere penalizados nas emissões!

Verdade que, ainda assim, o problema não é mal resolvido, com a bateria estendida sobre o piso,  os passageiros da retaguarda são ligeiramente penalizados mas, surpreendentemente, apesar da disposição da bateria em degrau, a bagageira até ganha capacidade (47 litros mais!) face à versão híbrida conhecida no mercado português.

Bem feito, filosofia de familiar estradista com aptidões citadinas facilitadas pela agilidade, prestações normais e autonomia ao nível da bateria, o Lexus UX 300e, confortável e rolador em pezinhos de lã, abre a era elétrica na marca japonesa e promete outros passos, mais audazes, na eletrificação do mundo Toyota

Além disso, o crossover urbano, como a Lexus gosta de o rotular, perde 20 mm na distância ao solo, tem um centro de gravidade bastante mais baixo, -67 mm, e, claro, o conjunto quando chega à balança acusa quase mais 300 quilos de peso: cerca de 1 785 kg…

Bateria Panasonic refrigerada a ar

Com uma bateria de iões de lítio 54,3 kWh, esta refrigerada a ar (origem Panasonic,) um motor elétrico de magneto permanente, com 204 cv e 300 Nm de binário instantâneo, tração dianteira, caixa de velocidade única, pois claro, este Lexus assume-se como um citadino capaz, graças a uma agilidade considerável, e um estradista por vocação. E isto porque as suas prestações, 7,5 segundos de 0 a 100 e 160 km/h em velocidade de ponta (limitados, obviamente) deixam clara a filosofia do familiar despachado q.b. e que dispensa as grandes correrias.

Rola bem e depressa, ganha natural vivacidade quando acionamos o modo Sport (Normal e Eco são os restantes), mas não se transcende numa condução viva em estrada ziguezaguente. A direção é precisa, a suspensão ganha outra firmeza – uma e outra, aliás, foram especialmente trabalhadas para esta solução – mas a eletrónica é muito interventiva, mesmo que não seja exagerada a natural tendência para a inclinação da carroçaria, nas mudanças de direção mais bruscas, ou a subviragem típica. Nada que surpreenda e muito menos faça temer pela segurança. Honesto, bem comportado.

É em modo Sport, quando se houve o silvo caraterístico, que sentimos mais a disponibilidade imediata do binário, mesmo que não seja arrasador. Mas nem é preciso tanto para uma condução descansada e com aquela reserva de potência que simplifica as manobras de ultrapassagem ao volante de um automóvel elétrico.

Ainda que a Lexus refira o facto de o conhecimento do grupo Toyota nos automóveis eletrificados e na tecnologia híbrida ter sido muito explorado no desenvolvimento deste UX300e, há pormenores que surpreendem como a regeneração, que pode ser regulada em quatro níveis nas patilhas no volante, não ser daqueles aspetos marcantes do UX300e. Mesmo no máximo, é preciso usar os travões, falta aquela sensação do e-pedal que me parecia desejável num premium como este.

A surpresa dos pormenores negligenciados

Outro pormenor que deixa a desejar é o nível da informação facultada pelo computador de bordo e pelo próprio sistema de infotainement (já compatível com AndroidAuto e Apple CarPlayer). Esperava-se mais e mesmo que a ideia seja fazer de um elétrico o automóvel mais normal possível, uma imagem gráfica do funcionamento do sistema e dados mais pormenorizados no que respeita aos diversos consumos (ar condicionado e outros) e aos próprios resultados da regeneração no consumo total, não deviam faltar. Além de que, para lá da quase meia centena de botões para os diversos comandos, o que nem é defeito, a Lexus não prescinde do Touchpad, que continua a merecer críticas, mais ainda quando o ecrã central (pequeno) nem é tátil… Surpreende ainda, um painel de instrumentos analógico…

A aposta, no entanto, contempla aspetos muito importantes. O mais relevante talvez mesmo a solução das baterias que permite oferecer uma garantia de dez anos ou um milhão de quilómetros, o que tem de impressionar. Depois, a excelente filtragem de ruídos (só se ouve o já referido silvo do motor na aceleração em modo Sport) que potencia o sempre impressionante silêncio dos elétricos. Por exemplo, nada de ruídos aerodinâmicos, comuns nos retrovisores. Paz e serenidade a bordo, para conversar ou ouvir o excelente rádio…

Fiz uma viagem de cerca de 250 quilómetros em estrada e, desta vez, aproveitei um posto rápido, mesmo que não houvesse qualquer stress com a autonomia. Um café, dois dedos de conversa,  e comprovado: o carregamento é mesmo rápido… Ar condicionado obviamente ligado em dia de canícula, com quatro pessoas a bordo e velocidade na casa dos 100 quilómetros, o consumo registado pelo computador de bordo foi de 18,3 kWh, mas estou convencido de que, à medida que nos vamos habituando ao acelerador e, sobretudo, ao “jogo” desafiante da economia se consegue menos e os 315 quilómetros de autonomia podem não ser uma miragem. Com este consumo, aliás, faria 296… No mínimo, proposta honesta para a capacidade da bateria e para uma condução cuidada (B sempre engrenado) mas não exagerada no aproveitamento dos momentos de poupança.

Duas portas para o carregamento

E já que falamos de carregamento, o UX300e fica “atestado”, numa tomada doméstica, em 23 horas; com recurso a uma wallbox de 6,6 kWh, bastam 8,15 horas; num posto rápido de 50 kWh, os 80 por cento da capacidade conseguem-se em 50 minutos. Pormenor, há uma porta de cada lado, atrás, uma delas apenas dedicada ao carregamento rápido. O cabo normal arruma-se sob o fundo da bagageira.

Resta dizer que em termos de espaço, conforto à frente – reparo para a limitada regulação elétrica do volante –, largura vulgar atrás, plataforma mais alta e falta de espaço sob os bancos dianteiros. O resto é o cuidado, o pormenor, e a escolha de materiais de um premium, o qual, neste caso, dispensava o plástico, mesmo de qualidade, nas portas traseiras (verdade que é um segmento C)…

A versão que guiei foi a mais equipada, Luxury, com recheio considerável. A saber: bancos em pele, com juste do apoio lombar e regulação elétrica, iluminação interior, volante multifunções aquecido e com regulação elétrica, ar condicionado automático bizona, sensores de luz e estacionamento, câmara de marcha atrás, Head-UP Display, navegação, Bluetooth, carregador wireless, faróis tri-LED com máximos adaptativos e nivelamento automático, cruise control adaptativo, sistema pré-colisão, sistemas de aviso de mudança e manutenção na faixa de rodagem, entrada sem chave, sistema áudio Mark Levinson, entrada sem chave, jantes em liga de 17 polegadas (18” em opção), vidros escurecidos atrás, barras no tejadilho, portão elétrico. Tudo isto, faz muita diferença, também no preço…

Bem feito, filosofia de familiar estradista com aptidões citadinas facilitadas pela agilidade, prestações normais e autonomia ao nível da bateria, o Lexus UX 300e, confortável e rolador em pezinhos de lã, abre a era elétrica na marca japonesa e promete outros passos, mais audazes, na eletrificação do mundo Toyota.

 

FICHA TÉCNICA

Lexus UX 300e

Motor: magneto permanente (AC síncrono)

Potência: 204 cv

Binário: 300 Nm

Bateria: 54,3 kWh, iões de lítio (355V)

Transmissão: caixa de velocidade única, tração dianteira

Aceleração 0-100: 7,5 segundos

Velocidade máxima: 160 km/h

Autonomia: 315 km WLTP

Carregamento: 23 horas, tomada doméstica; 8,15 horas, wallbox 6,6 kWh; PCR de 50 kWh, 80% em 50 minutos

Peso: 1785 kg

Bagageira: 367 litros

Dimensões: (c/l/a) – 4 495/1 840/1 545 mm

Preço: Luxury, €63 500; desde €52 500