Tem presença e garbo. Muito. Aquele ar marcial dos grandes SUV, mas em farda de gala. Só podia ser italiano e não gostar do Alfa Stelvio parece difícil. O complemento da imagem é aquela alma muito especial. São 2.0 litros, 280 cv, caixa automática de oito velocidades, tração integral. Tudo para agradar. E agrada. Os consumos pagam, claro, a paixão; o preço, menos razoável, justifica um desejo irreprimível. Custa, no mínimo, 70 300 euros o B-Tech que guiei. É caro.

A Alfa Romeo não desiste de se imiscuir entre os premium e agora até alinhar em preços a condizer. É uma política que não tem dado resultados comerciais surpreendentes nos números do primeiro SUV da Alfa Romeo que já leva três anos de vida.

Porquê? A imagem da marca italiana nada tem a ver com o quadro de há uns anos. É inquestionável o up-grade na qualidade. Aliás salta à vista e “ouve-se” até naqueles interiores que perderam os ruidosos parasitas. Verdade que os materiais ainda não são ao nível da concorrência alemã, mas também os germânicos se deixaram contagiar pelo plástico.

SUV que marca pelo estilo, bem construído e bem defendido em termos de qualidade, espaçoso e cómodo, dinâmica eficaz e alma à altura do emblema, este Alfa Stelvio 2.0  280 cv  Q4 B-Tech merece nota positiva, mesmo que economia não seja com ele e o preço supere as expetativas.

Em termos de design, ambiente e conforto custa penalizar o Stelvio face aos seus pares. Há um perfume de bom gosto a bordo. Até no equipamento, que igualmente se faz pagar bem. Equipamento que também pode ser quase tudo quanto se exige ao nível do comprador que nem faz muitas contas. Ou talvez faça outras, a avaliar pelas vendas no segmento.

O preço e a concorrência

Cada um sabe de si e, provavelmente, por muito que possa gostar-se do Stelvio, há um Porsche Macan pouco mais caro. Menos potente é certo. Outro segmento. BMW X3, Mercedes GLC, Audi Q5 e Volvo XC60  têm propostas tentadoras, descontando o muito que há sempre a pagar para lhes dar o verdadeiro “conteúdo” premium.

As coisas são o que são e o Stelvio 2.0 B-Tech Q4, à parte estas reflexões é um belo SUV, um “carrão”! As prestações não deixam dúvidas: 5,7 segundos de 0 a 100 e 230 km/h em velocidade de ponta. E isto com um motor a puxar 1660 quilos, massa respeitável e que é preciso considerar na condução. Rolador exímio, como não podia deixar de ser, nas zonas onde se impõe conduzir e os Alfa gostam de fazer diferença, impõe-se aprender a curvar. Também porque as leis da física são incontornáveis e quando se olha para as dimensões do “bicho” – 4,60 de comprimento e, principalmente, 1,90 de altura – adivinha-se o que lá vem (com a concorrência não é muito diferente), mesmo que a inclinação nunca seja problemática – melhor fora com uma suspensão Air Link, tão eficaz na resposta como no conforto que permite.  Entrar em aceleração está longe de ser o melhor, do que ele gosta é de se mostrar já na trajetória, deixando então que a potência se desenvolva e o sistema Q4 cumpra o seu papel – um sistema que faz do Stelvio um tração traseira com capacidade para, consoante as necessidades detetadas pela eletrónica, passar até 50 por cento do binário para as rodas dianteiras. Respeitando este princípio, é impressionante e nem se dá pelo ESP.

Pouco económico mesmo andando “à vela”

Os travões com as grandes pinças à vista nas jantes de 20 polegadas, têm a eficiência bastante, mesmo que seja preciso ser enérgico sobre o pedal, e a direção é tão direta como ajustada no peso. A caixa de oito velocidades brilha mesmo sem o recurso às grandes patilhas, para estarem sempre ao alcance da ponta dos dedos. E tudo isto conta ainda com a ajuda do DNA, o sistema que permite escolher o modo de condução, optando pela economia, que até permite rolar “à vela” (a), pelo registo normal (n), ou pelo desportivo (d), que torna sempre as coisas diferentes com alterações ao nível da direção, caixa, binário, sensibilidade do travões, controlo de estabilidade e de tração.

No que respeita a consumos, os resultados que consegui não foram animadores. Com quatro pessoas a bordo, em ritmo de passeio, registei 10,4 litros aos 100. A média final, com um pouco de tudo, ficou-se pelos 12 litros redondos e não fiz exageros. Há quem diga que se consegue menos, mas não me pareceu fácil – mesmo sem espírito alfista…

Plataforma partilhada com o belo Giulia, o interior quase decalcado é um excelente exercício de sobriedade em rosto desportivo, vincado pelo volante multifunções – um mimo, com aquele botão de arranque associado! – e até no grafismo da instrumentação. Nem faltam as tradicionais  “palas” no bordo do tablier sobre o velocímetro e o conta rotações. O ecrã central (7 polegadas) está encastrado no tablier, podia ser maior e, para mim, tem a virtude se ser controlado a partir da consola, numa roda de grande dimensões, entre o comando do DNA e o potenciómetro do sistema áudio. Também lá está, óbvio, o travão de mão elétrico. E o elegante seletor da caixa. Sobram, em cima, os botões do ar condicionado e pouco mais.

Excelentes bancos à frente, com o apoio lateral exigível, boa posição de condução e espaço de sobra para condutor e “pendura”. Quem viaja atrás não se queixa do espaço, do conforto nem da acessibilidade. O túnel central é alto, logo, e sem surpresa, tudo é melhor para quatro. Claro que, na entrada, há um degrau a vencer, mas é assim nestes SUV de dimensões generosas, os quais, também em função dessa distância ao solo, se mexem bem fora do alcatrão.

Equipamento extra em linha com os “premium”…

Os 525 litros da bagageira não surpreendem mas alinham com a oferta média da concorrência. Como de costume, o plano de carga é alto. O rebatimento dos bancos (60×40) pode ser feito em dois práticos puxadores na parede da mala.

SUV que marca pelo estilo, bem construído e bem defendido em termos de qualidade percebida (podia ter alguma pele a juntar aos frisos de tipo fibra de carbono), espaçoso e cómodo, dinâmica eficaz e alma à altura do emblema, este Alfa Stelvio 2.0  280 cv  Q4 B-Tech merece nota positiva, mesmo que economia não seja com ele e o preço supere as expetativas.

A versão que guiei somava 12 150 euros em equipamento…. E, claro, faz toda a diferença contar com os bancos desportivos em pele perfurada, elétricos e aquecidos, comando sequencial da caixa, jantes de 20 polegadas, luzes adaptativas bi-xenon, lava-faróis, retrovisores eletrocromáticos, sistema áudio Harman/Kardon, puxadores de portas iluminados, portão de abertura e fecho automático e tejadilho de abrir panorâmico entre outras facilidades.

De todo o modo, registo para um equipamento base que não destoa: botão de arranque no volante, navegação, ar condicionado bizona, cruise control com limitador, controlo de descida, portão da bagageira automático, sistema anti-colisão, câmara traseira e sensores de estacionamento, assistente de ângulo morto e máximos automáticos.

FICHA TÉCNICA

Alfa Stelvio 2.0  280 cv  Q4 B-Tech

Motor: 1995 cc, turbo, injeção direta, start/stop

Potência: 280 cv/5250 rpm

Binário máximo: 400 Nm/2250 rpm

Transmissão: integral permanente, caixa automática de oito velocidades, patilhas no volante

Aceleração 0-100: 5,7 segundos

Velocidade máxima: 230 km/h

Consumos: misto – 7 litros/100 km; estrada – 5,9; urbano – 8,9

Emissões CO2: 161 g/km

Mala: 525 litros

Preço: 75 974 euros, versão ensaiada; desde 70 314 euros