Foi há 33 anos, quando ainda se falava de superminis, que começou a carreira do Renault Clio. Cinco gerações, 16 milhões de automóveis vendidos – o automóvel francês mais vendido de todos os tempos – continua a ter lugar importante na gama da marca. Se fosse auscultado à antiga, depois de dizer 33, o médico concluiria que está de boa saúde!
Sucessor do Renault 5 e dele herdando muito na primeira geração, o Clio I foi lançado em 1990 e, confirmando muito do que então dele se escreveu, viu reconhecidos no mundo automóvel os atributos de modelo com caraterísticas referenciais no segmento (B) e conquistou o título de Carro do Ano. Um marco importante que ganha dimensão em 2005 com a segunda vitória no concurso, feito apenas conseguido também pelo VW Golf. Significativo!
Em Portugal, a história do carro que deixou os números na designação e adoptou o nome de uma das nove musas gregas, teve mesmo a proteção dos “deuses”. O Clio I, que durou até 1998, atingiu um número de vendas que nunca mais foi igualado na família: 172 258 unidades. Este recorde é impressionante, sobretudo se pensarmos que já tinham acabado a contingentação e os privilégios das Renault (ler: O “milagre” Renault), uma fase que, não obstante, ajudou na conquista de clientes e a cimentar a imagem da Renault.
Este quantitativo representa mais de um terço dos 500 mil Clio vendidos em Portugal ao longo dos seus 33 anos, durante os quais registou performance comercial digna de registo: foi 12 vezes o modelo mais vendido em termos absolutos, seis delas consecutivas. Mais: em três anos (2006, 2007 e 2012) foi mesmo campeão absoluto de vendas.
São resultados notáveis ainda se considerarmos que, em 25 anos, esteve no pódio dos mais vendidos e, durante três décadas, excetuando 2005, figurou no top 5 das vendas. Talvez por isso dei comigo, na véspera de escrever estas palavras, a constatar que há mesmo muitos Clio nas estradas portuguesas.
Renault Clio, já trintão, tem uma história de se lhe tirar o chapéu. Acabou com os números nas designações da Renault mas tem outros números notáveis a marcar o sucesso de um supermini que se transformou num senhor utilitário. Talvez por isso, o francês mais vendido de sempre…
E quando pensava dei comigo a lembrar que o Clio também foi popular como comercial, no tempo dos famosos “redinhas”, o “Societé” que vale 20 por cento das vendas totais, acompanhou a evolução do modelo e só não existe ainda porque há hoje medidas que não permitem a homologação.
História de se lhe tirar o chapéu
Não faltou uma carrinha (Clio III Break e Clio IV Sport Tourer) nesta carreira de sucesso que, como é costume na Renault, não esqueceu os desportivos, noutra saga que os entusiastas não esquecem.
Logo três anos depois do lançamento, surgiu o Clio Williams, designação que assinalava o êxito das equipa Williams-Renault na Fórmula 1, numa época dourada dos franceses na classe rainha do desporto automóvel. Hoje integrado na lista dos hot-hatch, tinha um motor 2.0 com 150 cv, uma suspensão endurecida e distinguia-se pelo seu azul inconfundível (pearly sport) e pelas jantes Speedline douradas. Não faltavam os bancos desportivos, painel de instrumentos e volante a condizer. Já merece a designação de clássico, na sua primeira fase.
O Williams foi apenas o primeiro. Com o Clio 2 chegou o RS, uma nova e duradoura imagem dsportiva, e a “loucura” dos V6, Trophy primeiro (159 construídos) depois os mais civilizados Fase 1 e Fase 2: motor 3.0 (derivado do Laguna) em posição central traseira, 230 cv, caixa de seis velocidades. O último fazia cerca de 6 segundos de 0 a 100 km/h e atingia os 246 km/h em velocidade de ponta. Obviamente, só tinha dois lugares, não dispunha de mala e havia um pequeno espaço à frente onde caberia um saco de fim de semana…
As motorizações foram inúmeras. Quem esquece os 1.2 e 1,4. o diesel 1.9 e o 1.5 dci, enfim os três cilindros 0.9. Na atualidade, o Clio V Fase 2 apresenta uma completa gama de escolhas, com destaque para a versão Full Hybrid (ler ensaio: Renault Clio, eficiência híbrida), a solução de compromisso que, infelizmente, não merece o beneplácito das autoridades fiscais. Além deste eletrificado, versão bifuel (gasolina/GPL) e as opções a gasolina ou gasóleo.
Não existe uma versão elétrica, mas, em 1995, o Clio disponibilizou essa opção, com um modelo que garantia entre 80 a 100 quilómetros de autonomia…
O tempo passa, no caso 33 anos, mas a memória guarda factos que até nos surpreendem. Exemplo disso, o Renault Clio que, já trintão, conta uma história de se lhe tirar o chapéu. Acabou com os números nas designações da Renault mas tem outros números notáveis a marcar o sucesso de um supermini que se transformou num senhor utilitário.
Tem as cinco estrelas da EuroNcap desde a terceira geração, ABS a partir de 2000, muito cedo ofereceu sensores de luz e chuva, faróis de Xénon e ar condicionado automático, passou pela prancheta de nomes famosos no design como Patrick Le Quement e, recentemente, Laurens Van der Acker que asseguraram a evolução das formas de um carro que nasceu futurista e disruptivo. Talvez por isso, o francês mais vendido de sempre…
Clio apadrinha regresso à competição
A ligação da Renault ao desporto automóvel, iniciada há 40 anos e interrompida em 2005, vai ser reativada através de uma competição de ralis em terra e asfalto que pretende apadrinhar o aparecimento de novos valores. Chama-se Clio Trophy Portugal e vai ter por base um automóvel desenvolvido de acordo com os regulamentos da categoria Rally5.
Para isso, um Clio com base no motor 1.3 TCe a debitar 180 cv e 300 Nm de binário, com caixa de velocidades sequencial de cinco velocidades, diferencial autoblocante e um preço abaixo de outras propostas similares: 48 500€ na versão de asfalto e 52 000€ com o kit de terra. Quanto aos custos em competição, entre 12 a 15€ por quilómetro.
A Renault já entregou a unidade 820 desta versão de competição do Clio, 25 por cento dos quais correm em troféus monomarca disputados na Europa.
Este sucesso pode ser justificado por um argumento extra: versatilidade sem paralelo. É que o Clio desenvolvido a pensar na competição pode desdobrar-se em três versões distintas: Clio Rally (para os ralis); Clio RX (para as provas de Off-Road) e Clio Cup (para as provas de pista). As três foram desenvolvidas com recurso a um banco de elementos mecânicos e eletrónicos comuns, mas adaptados, cada um deles, à especificidade de cada categoria. Ou seja, com o mesmo Clio, os pilotos podem trocar de disciplina, graças aos Kits de conversão especialmente desenvolvidos.
CLIO RALLY 5: ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
Chassis
Renault Clio R.S. Line, com arco de segurança integrado
Eixo dianteiro: Pseudo Mc Pherson
Eixo traseiro: em H
Suspensão: amortecedores Bos não reguláveis
Distância entre eixos: 2579 mm
Vias: 1550 / 1490mm
Depósito de combustível: FT3 homologado FIA
Peso em vazio: 1 080 Kg (homologação FIA)
Motor
Renault HR13 – 4 Cilindros 1.330cc Turbo
Potência máxima: 180 CV
Binário máximo: 300 Nm
Refrigeração: derivada de série
Alimentação: injeção direta
Regime máximo: 6500 rpm
Eletrónica: ECU Life Racing
Gasolina: SP98
Transmissão
Caixa de velocidades: sequencial Sadev ST82 5 velocidades + MA
Diferencial: deslizamento limitado tipo ZF
Embraiagem: Sachs bidisco
Jantes: 7×16 (asfalto), 7×15 (terra)
Pneus: Kuhmo